Petroquímica lança nesta 3ª feira (26.jul) pedra fundamental da 1ª fábrica de hidrogênio verde do Brasil, com operação em 2023
Poder 360
A petroquímica Unigel deve ter demanda para todas as 60.000 toneladas de amônia verde produzidas em sua fábrica em Camaçari, na Bahia. É o que afirma o CEO, Roberto Noronha, em conversa com jornalistas na 2ª feira (25.jul.2022).
‘Não sei o quanto que eles [potenciais clientes] estão pedindo é real ou especulativo, mas acredito que, para essa 1ª fase, a gente sai vendido’, declarou o executivo.
A companhia está apostando na produção de hidrogênio verde, com investimento de US$ 120 milhões (R$ 650 milhões, na cotação atual). Realiza, nesta 3ª feira (26.jul), a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do empreendimento, no Polo Petroquímico de Camaçari.
A previsão é que a fábrica esteja pronta em 2023, quando produzirá 10.000 toneladas de hidrogênio verde, convertidos em 60.000 toneladas de amônia. Nesse momento, será a maior fábrica do mundo para o combustível verde.
Embora não haja consenso, o sistema de cores é usado no mercado para indicar a origem do hidrogênio. O combustível pode ser obtido por diversas rotas, seja a partir do gás natural, do carvão mineral ou de biocombustíveis, como o biometano.
Quando é obtido por meio de energias renováveis em um processo chamado de eletrólise da água, chama-se de verde. A energia é usada para realizar a separação dos átomos de hidrogênio da água -de H2O para H2.
O projeto da Unigel vai demandar, em sua 1ª fase, 60 megawatts médios de energia.
Segundo Noronha, a empresa já fechou contrato de fornecimento. A Unigel tem uma parceria com a Casa dos Ventos para a construção de um parque eólico, com potência de 360 megawatts e previsão de operação em 2024.
‘Hidrogênio verde e amônia verde partem do princípio de que haja adicionalidade de energia renovável. Ou seja, nós traremos energia eólica e solar novas’, afirmou o diretor de Relações com Investidores da Unigel, Luiz Fustaino.
Segundo o executivo, a ideia é que a energia usada no projeto seja sempre nova. Na 2ª fase da fábrica, com previsão para o final de 2025, deve-se fechar acordos para compra de energia eólica ou solar de novas plantas, sem retirar capacidade já disponível na matriz.
A 2ª fase do projeto prevê a instalação de mais 9 módulos para eletrólise da água, além dos 3 da fase inicial. Os equipamentos estão sendo fabricados pela alemã Thyssenkrupp.
O gargalo, segundo Noronha, é a alta demanda pelos equipamentos e a capacidade limitada de oferta, além dos problemas logísticos causados pela pandemia e guerra na Ucrânia. Além disso, sua fabricação depende de metais raros, que tem a Rússia como um dos principais produtores.
Na 1ª fase do projeto, o hidrogênio será integralmente convertido em amônia. Já na 2ª etapa a companhia prevê a estocagem, o armazenamento e o transporte de hidrogênio verde. Segundo Fustaino, a ideia é que o combustível seja transferido entre lugares próximos, enquanto a amônia seria a forma ideal de transporte para longas distâncias.
O mercado ainda é nascente e não está bem regulamentado no Brasil. Em junho, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) aprovou a criação do Programa Nacional do Hidrogênio, com o objetivo de desenvolver o setor.
Ainda não há uma diretriz federal, mas alguns governos estaduais têm assinado memorandos de entendimento com empresas do setor para estudar a viabilidade desses empreendimentos.
‘Isso [a regulamentação] está em gestação, à medida que estamos falando. Acho que algumas premissas são importantes: definir o que é energia renovável e a parte tributária para incentivar a produção de energia renovável – que já está acontecendo’, declarou Noronha.
A Unigel é a principal produtora de fertilizantes nitrogenados no Brasil. A amônia é matéria-prima para esse tipo de insumos, podendo ser obtida por diferentes rotas.
Hoje, a Unigel usa o gás natural para a produção de amônia. Mas a companhia planeja começar a usar o insumo obtido por meio do hidrogênio verde assim que a fábrica entrar em operação, afirma Noronha.
‘As possibilidades [de demanda interna da Unigel] estão mapeadas, mas os volumes não. Dependem de negociações com clientes’, disse Fustaino.
A repórter viajou a convite da Unigel.