Teor de etanol anidro na gasolina deve subir a 30% e elevar preços

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Globo Rural

Previsto na lei do Combustível do Futuro, o aumento do teor de etanol anidro na gasolina acima dos atuais 27% deve se tornar uma realidade já em 2025. Os testes das montadoras serão feitos no primeiro trimestre, e a indústria espera que eles já permitam um aumento da mistura para 30% a partir de abril, o que elevaria a demanda potencial pelo anidro em 1,2 bilhão a 1,4 bilhão de litros em um ano, segundo especialistas.

Considerando também um aumento natural do consumo de combustíveis do ciclo Otto (usados em veículos leves), esse incremento adicional da demanda por etanol não deve ser acompanhado de crescimento na produção. Isso significa aumento dos preços do biocombustível no próximo ano.

“Vamos ver preços médios 10% acima do preço médio desta safra”, estima Pedro Paranhos, CEO da Evolua Etanol, joint venture entre Copersucar e Vibra e líder na comercialização do biocombustível no país.
Na previsão da consultoria StoneX, o teor de 30% representa já um acréscimo de 1,04 bilhão de litros para o ano de 2025, se a mudança for implementada em abril. Dentro do período da safra sucroalcooleira (2025/26), de abril a março, o incremento no consumo de etanol anidro pode chegar a 1,4 bilhão de litros, projeta Paranhos.

O teor do aumento de mistura ainda depende dos testes, que serão conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) entre janeiro e fevereiro. Os testes serão patrocinados pelos produtores de etanol e servirão de base para o Ministério de Minas e Energia (MME) recomendar a nova mistura para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), conforme definido pela Pasta na última semana. A lei do Combustível do Futuro prevê que o aumento da quantia de etanol ocorra de forma gradual, até 35%, a depender dos testes.

Ciclo Otto
Mas o consumo total de etanol anidro deve crescer ainda mais no próximo ano, considerando-se as projeções de mais um período de aumento do consumo de combustíveis do ciclo Otto — embora menos aquecido do que em 2024. “Neste ano, já surpreendeu o movimento do ciclo Otto, relacionado ao crescimento robusto do PIB e ao crescimento da frota. Para o ano que vem, voltamos a patamares [de crescimento] mais regulares”, avalia Paranhos.

Esse retorno ao normal deve representar um crescimento de 2,5% no consumo, segundo o executivo. Já Martinho Ono, presidente da trading de etanol SCA, avalia que o aumento do ciclo Otto deve ficar mais próximo de 2%, dada o impacto da inflação.

Oferta
O cenário para a oferta de etanol na próxima safra ainda é incerto. As perspectivas para a safra de cana variam muito de região para região do país, já que algumas áreas de canaviais foram mais impactadas pela seca e pelos os incêndios que outras.

O que é certo é que haverá mais produção de etanol de milho com o início da operação de novas usinas e aumentos de capacidades. “Deve haver um equilíbrio [entre oferta e demanda] com as capacidades novas de etanol de milho”, avalia Pierre Santoul, diretor da Tereos Brasil. Para ele, a moagem de cana deve ser no máximo igual à da safra atual se o clima no verão for “muito bom”.

Ainda que as chuvas favoreçam uma recuperação mais vigorosa dos canaviais, as usinas já fixaram boa parte das exportações de açúcar, e deverão ter menos flexibilidade para aumentar a produção de etanol. A saída deverá ser produzir menos etanol hidratado para atender à demanda pelo anidro, apertando a oferta do biocombustível que é utilizado diretamente nos tanques .

Para a StoneX, que estima um crescimento de 1,7% no consumo do ciclo Otto em 2025, a gasolina deve ganhar competitividade perante o etanol hidratado e ter um aumento de 3% no consumo, puxando a demanda pelo anidro.

Veículos elétricos
Por outro lado, a disparada das vendas de carros elétricos neste ano também pode começar a segurar a renovação da frota de veículos com motores a combustão flex, na avaliação de Ono, da SCA.

Em 2023, os veículos flex representaram 83% dos licenciamentos, enquanto os elétricos e híbridos representaram 4,3% do total, segundo os dados mais recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Neste ano, no acumulado até novembro, a participação dos veículos flex oscilou para 79%, enquanto o conjunto de elétricos e híbridos passou a 6,9% dos licenciamentos.


Esse movimento reflete o forte crescimento da venda dos elétricos e híbridos, que até novembro mais que dobrou em relação a todo o ano de 2023, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). “Mas a frota nacional ainda é predominantemente a combustão”, ressalta Ono.

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