Fonte: Valor Online
No epicentro da campanha dos caminhoneiros contra a alta dos preços dos combustíveis, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou ontem que, por ser uma empresa de capital misto, a empresa não está livre das influências do calendário eleitoral. Em meio a desvalorização das ações da empresa na bolsa desde a semana passada, o executivo, no entanto, tentou acalmar os ânimos do mercado e garantiu que as mudanças propostas pelo governo não afetarão a essência da política de preços do diesel. Mas uma declaração do presidente Michel Temer pode mudar esse quadro.
Depois das declarações de Parente, por volta de 19h, no entanto,Temer afirmou, em entrevista à TV Brasil, que o governo pode “reexaminar” política de preços de combustíveis da Petrobras. Na entrevista, Temer disse: “A Petrobras se recuperou ao longo desses dois anos. Estava em uma situação economicamente desastrosa há muito tempo, mas nós não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado.”
O problema é que, supostamente por problemas no som, a fala de Temer chegou a ser veiculada como “não podemos reexaminá-la”. A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, porém, esclareceu as declarações, após pedidos para evitar interpretações dúbias da frase, o secretário de Imprensa do Planalto, informou que o presidente queria dizer: “Não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado”.
Mais cedo, Parente destacou que a paralisação dos caminhoneiros colocou a política de preços da Petrobras nos “holofotes”, no meio de uma “discussão pública muito intensa” personificada em sua figura. Ele afirmou, no entanto, que os resultados econômicos da petroleira serão mantidos mesmo com o fim dos reajustes diários. O governo propôs que os preços do combustível sejam reajustados mensalmente.
“Pode ser que haja uma mudança em alguns aspectos na política de preços, mas certamente nosso objetivo não é produzir redução no resultado econômico dessa política, isso está alinhado com o governo”, disse o executivo, em teleconferência com analistas, em meio à recuperação das ações na bolsa.
Ontem, as ações ordinárias da empresa subiram 12,78% (R$ 22,32), enquanto as preferenciais avançaram 14,84%, cotadas a R$ 19,42.
Parente disse que a estatal ainda aguarda a redação de Medida Provisória e decreto presidencial que trarão os detalhes de como se dará o reembolso à companhia pela subvenção de R$ 0,30 no preço do litro do diesel. Ele não descarta a possibilidade de que o governo defina uma fórmula para os reajustes da petroleira, mas afirmou que, qualquer que seja a metodologia aplicada, “os preceitos da política de preços seriam respeitados”.
Em conversa com os investidores, Parente reconheceu que a credibilidade da Petrobras foi afetada na semana passada, quando a empresa anunciou uma redução de 10% nos preços do diesel, na tentativa de desmobilizar a paralisação dos caminhoneiros. "Mas precisávamos fazer um movimento para abrir o diálogo entre o governo e os caminhoneiros. Tivemos coragem e responsabilidade", justificou o executivo da Petrobras.
Ele também defendeu que os sinais de avanço na gestão são nítidos e que a empresa mantém a confiança no cumprimento dos compromissos assumidos com o mercado no plano de negócios da petroleira - que prevê desinvestimentos de US$ 21 bilhões entre 2017/2018 e uma redução da alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das atuais 3,5 vezes para 2,5 vezes.
Parente saiu em defesa da criação de uma tarifa de importação sobre o diesel, para preservar a participação de mercado da petroleira nos momentos em que os preços praticados pela companhia estejam abaixo da paridade internacional. "[A tarifa de importação do diesel] É importante para preservarmos nossa condição de ter escolhas entre margem e market share", afirmou.
Ele defendeu também que, nas regras de subvenção dos preços do diesel, o acerto de contas com a Petrobras aconteça "no menor espaço de tempo possível". Para Parente, o ideal é que o reembolso seja feito mensalmente, "ainda dentro do próprio mês" de referência.
Ao comentar sobre os impactos das recentes medidas do governo sobre a imagem e credibilidade da companhia, Parente defendeu que a empresa atuou nos últimos anos para se blindar de eventuais interferências externas, ao incluir no seu estatuto social a obrigação de compensação financeira à petroleira, em casos de práticas de subsídios.
"Tentamos mostrar a maneira de gerir a Petrobras e criar condições para proteger a empresa. Nenhum dos nossos artigos legais estão sendo arranhados", afirmou Parente.
O executivo também descartou que o debate em torno das mudanças na política de preços traga consequências sobre o programa de desinvestimentos no refino e sobre os demais eventos da empresa, como, por exemplo, a renegociação do contrato da cessão onerosa. "Nosso sistema de gestão está completamente operante", disse.
Segundo ele, no entanto, as dificuldades enfrentadas na negociação da cessão onerosa continuam e ainda há uma questão jurídica que precisa ser esclarecida para a conclusão das negociações com a União.