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Ao participar da inauguração da planta piloto de hidrogênio verde da EDP Brasil no complexo portuário do Pecém (CE), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta quinta (19/1) que o Brasil entrará na economia do hidrogênio unindo o “excepcional perfil renovável” da matriz nacional com a “gigantesca capacidade de inovação e investimento” da indústria de óleo e gás.
O ministro prometeu, ainda, que o MME fará uma “política energética ambiciosa” para o desenvolvimento da economia do hidrogênio no Brasil. Disse que fará um amplo diálogo para fortalecer a indústria nacional e a economia verde no Brasil, a partir de contribuições recebidas por meio de consulta pública aberta.
O discurso de Silveira reforça o papel que a indústria de óleo e gás tem no financiamento da transição energética, mas não entra em detalhes se a política para o setor será focada no hidrogênio oriundo do gás natural (cinza) ou captura de carbono (azul), por exemplo — em linha com o que propõe o Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2), herança do governo de Jair Bolsonaro (PL) que é vista com ressalvas por parte da indústria.
Enquanto o resto do mundo foca suas estratégias no hidrogênio verde, ou de baixo carbono, o Brasil optou por contemplar todas as rotas de produção do hidrogênio, inclusive fontes fósseis – naquilo que ficou conhecido como hidrogênio arco-íris, uma alusão às cores correspondentes a cada rota de produção.
“Vamos unir o excepcional perfil renovável da nossa matriz elétrica e nosso invejável sistema interligado com a nossa pujante indústria da bioenergia e com a nossa indústria de óleo e gás e sua gigantesca capacidade de inovação e investimento, para fazer do Brasil um dos países mais competitivos na economia do hidrogênio. Não perderemos essa janela de oportunidade”, destacou Silveira, em seu discurso nesta quinta.
Ao participar da inauguração do projeto da EDP, o ministro reiterou o compromisso do governo federal com a transição energética e com a meta de neutralidade do carbono no Brasil até 2050.
“Pela importância deste tema para o desenvolvimento social, econômico e industrial do nosso país, e para a nossa contribuição internacional na redução das emissões de gases de efeito estufa no âmbito do acordo de Paris”, disse.
Em Davos, governo tenta “vender” o hidrogênio verde
A EDP Brasil inaugurou nesta quinta o seu projeto-piloto de hidrogênio verde (H2V) no Complexo Termelétrico do Pecém (CIPP), em São Gonçalo do Amarante (CE). O empreendimento conta com investimentos de R$ 42 milhões e deve ser concluído em junho de 2024.
A primeira molécula de H2V do projeto foi produzida há mais de um mês, no dia 15 de dezembro, mas a empresa deu a partida no projeto oficialmente nesta quinta, com a presença do ministro de Minas e Energia e do governador cearense, Elmano Freitas (PT).
A inauguração ocorre num momento em que o governo Lula tenta emplacar, internacionalmente, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, uma agenda ambiental que passa, dentre outros pontos, pela atração de investimentos em energias limpas.
Nesta quinta, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o Brasil vai precisar de investimentos robustos em renováveis para superar a geração de combustíveis fósseis na transição energética. Em entrevista à GloboNews, disse que “o Brasil é um país que tem condição de ter uma matriz energética 100% limpa” a partir da exploração do potencial de fontes como o H2V.
Na quarta (18/1), foi a vez da Unigel anunciar a ampliação de seu projeto de produção em escala industrial de hidrogênio e amônia verdes, na Bahia. O empreendimento deve começar a produzir, em sua primeira fase, este ano.
Obtido a partir da quebra de moléculas compostas por H2, o hidrogênio verde se diferencia do chamado “hidrogênio cinza” por não utilizar fontes fósseis em seu processo. Para gerar combustível apenas de fontes renováveis, a primeira unidade da EDP no Ceará é equipada com uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador com capacidade de produzir 250 m3/h do gás.
EDP quer replicar H2V em outros polos
O potencial solar e eólico do Ceará foi decisivo para que o Complexo do Pecém se tornasse o primeiro projeto de hidrogênio verde da EDP, empresa presente em 16 países.
Uma experiência que o CEO da EDP no Brasil, João Marques da Cruz, espera replicar e expandir em outros polos da empresa.
“Agora, com a planta concluída e em plena operação, o que é pioneiro no país, o nosso foco é aprimorar o processo de geração, avaliar modelos de negócio, expandir a produção e estabelecer parcerias estratégicas com diferentes segmentos da indústria que podem utilizar o gás, além de contribuir para viabilizar a regulamentação do mercado no país”, destacou Cruz.
Infraestrutura e localização jogam a favor
Além de estar situado num estado com grande potencial para geração de energias renováveis, o Complexo do Pecém conta com um terminal portuário apto a exportar H2V. A Zona de Processamento de Exportações (ZPE) é um potencial facilitador de negócios com o mercado externo, nesse sentido.
Pecém também tem uma parceria com o Porto de Roterdã, na Holanda, para viabilizar, no futuro, a exportação de 1,3 milhão de toneladas de hidrogênio verde que o hub de H2V pretende produzir ao fim da década.
O governo cearense tem pré-contratos e memorandos de entendimento com diferentes empresas interessadas em se instalar no hub, como AES Brasil, Fortescue Future Industries, Linde, Qair, TransHydrogen Aliance, Eren do Brasil, Casa dos Ventos, Engie, EDP Renováveis e White Martins.
A primeira produção certificada de hidrogênio verde da América do Sul ocorreu também no Brasil, no estado de Pernambuco, no início de dezembro. O empreendimento da White Martins, empresa fornecedora de gases industriais e medicinais, foi avaliado e certificado pela TÜV Rheinland, e prevê a produção de 156 toneladas de H2V em escala industrial.