Folha de São Paulo
Com dois dias de atraso, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) chegou na noite desta terça (21) ao encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, para promover oportunidades de investimento em energia limpa no Brasil num momento em que os Estados Unidos, agora sob gestão de Donald Trump, começam a desmantelar seu programa federal de investimentos no setor.
“Viemos apresentar essas oportunidades, não só focado no que disse o presidente Trump”, afirmou a jornalistas brasileiros. “O Brasil é um grande celeiro de oportunidades para quem quer investir na descarbonização das matrizes [energéticas]. Nós temos uma matriz elétrica 90% limpa, o que contribui muito com a sustentabilidade global, além da floresta, além dos biocombustíveis.”
Mesmo com a mudança da posição americana, ele considera a transição irreversível e afirma que ela foi compreendida até pelos sauditas, maiores produtores de petróleo do mundo. “A transição energética é uma necessidade do planeta. Não existe salvação, porque não existe fronteira para a emissão de carbono.”
Silveira é, neste ano, o único representante do Planalto após a ministra Marina Silva cancelar sua participação. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, chegou a ser incluída na delegação mas também desistiu da viagem. A ausência de uma participação mais ativa do governo foi criticada por empresários brasileiros e representantes da sociedade civil que estão no evento.
“Eu espero que eu possa suprir a ausência dos colegas que, com certeza, estão todos focados em cumprir as suas missões, pois o Brasil voltou a ter política pública”, disse. A viagem do ministro foi adiada e quase cancelada por causa da reunião ministerial convocada pelo presidente Lula na segunda-feira (20) para tratar da crise instalada no governo após desmentidos e recuos a respeito do Pix.
Silveira não quis prever quanto de investimentos antes dirigidos aos EUA o Brasil poderia receber, limitando-se a listar o que descreve como “vasto portfólio energético do país”, que inclui biocombustíveis, hidrelétricas, minerais críticos e petróleo. “O Brasil é o berço da pluralidade energética.”
Como o presidente, o ministro defende o investimento em novos poços de combustíveis fósseis enquanto a transição energética não está consumada e busca parcerias com países petroleiros, como fez na última semana em viagem à Arábia Saudita. Ele disse esperar que em breve o Ibama libere a Petrobras para fazer estudos na margem equatorial, apesar dos temores de ônus ambiental na região amazônica.
Indagado sobre um descolamento entre o preço internacional do petróleo e aquele praticado pela Petrobras, bem menor, o ministro disse que a decisão cabe à empresa e evitou comentar.
“Nossa querida Magda [Chambriard], presidente extremamente responsável, sabe o que precisa fazer, sabe que a Petrobras precisa ser atrativa para os investidores, não só os investidores nacionais como os investidores internacionais. É uma empresa listada na Bolsa, inclusive em Nova York”, afirmou.
Em Davos, Silveira deve se reunir com investidores e representantes de empresas de energia, como a Total, além de participar de painéis na Brazil House e possivelmente de um painel oficial no fórum.