O Estado de S.Paulo
Ao oficializar a sua entrada na presidência da Petrobrás, há uma semana, o general da reserva Joaquim Silva e Luna fez um discurso para o conselho de administração dizendo pouco sobre questões centrais para a empresa, como o futuro das privatizações. Segundo fontes, o general quer prosseguir com o programa de venda de ativos, mas não chegou a detalhar como fará isso. Boa parte de sua fala foi focada na importância do corpo técnico e na intenção de valorizar os trabalhadores.
Mesmo em seu discurso de posse, o tema foi tratado superficialmente. Num evento virtual, aberto ao público, o militar reiterou o foco em ativos mais rentáveis e produtivos, de “classe mundial”. Esse é o termo usado pelo corpo técnico da Petrobrás para tratar dos campos mais valiosos do présal, sobretudo Búzios, na Bacia de Santos.
Aos conselheiros, Silva e Luna não deu mais informações sobre quais áreas de exploração e produção de petróleo pretende manter. Também não adiantou como vai tratar o programa de venda de refinarias, embora tenha reafirmado a sua continuidade. Até mencionou a intenção de prosseguir com o plano estratégico elaborado pela gestão anterior e também de priorizar a venda das plantas. Mas não detalhou se o modelo será exatamente igual ao traçado por Roberto Castello Branco.
Não se sabe, por exemplo, se será mantido o projeto de vendas individuais da gestão passada, ou em blocos de refinarias, como proposto pelos ex-presidentes da estatal Pedro Parente e Ivan Monteiro.
Tema polêmico. O programa de venda de ativos é um tema de grande interesse do mercado financeiro, defensor da abertura do setor a novos agentes. O argumento é que, com mais investidores atuando, os preços dos combustíveis caiam e beneficiem os consumidores. O tema, no entanto, é polêmico.
Estudo elaborado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) demonstra a possibilidade de o monopólio nacional da Petrobrás, com a privatização de refinarias, ser transformado em monopólios regionais.
Acadêmicos alegam também que o preço dos combustíveis nunca será menor do que o de importação, lastreado pela cotação do petróleo e do câmbio. Essa Política de Paridade de Importação (PPI) já é adotada pela estatal. Com isso, não seria possível os consumidores se beneficiarem de competição.
Silva e Luna não disse o que acha do assunto, assim como da política de preços dos combustíveis. Esses são os dois principais questionamentos do mercado, ainda não respondidos pelo novo presidente da Petrobrás.