Shell aposta no agave, matéria-prima da tequila, como fonte de energia

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Empresa investe R$ 30 milhões em projeto de pesquisa e firma parceria com Unicamp para estudar produção de etanol e biomassa

Valor Online

A Shell vai pesquisar a viabilidade energética do agave, cultivo típico de regiões semiáridas, como fonte energética. Se o potencial previsto pelos especialistas for confirmado, o cultivo de agave pode transformar o sertão brasileiro em um grande polo produtor, com rendimento semelhante ao da cana-de-açúcar cultivada em outras regiões do Brasil.

A empresa firmou uma parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp) para desenvolver um programa de estudos e desenvolvimento de tecnologias para o desenvolvimento de etanol e biomassa a partir do agave. A planta é utilizada como matéria-prima da tequila e, no Brasil, do sisal.
O programa, denominado Brave (Brazilian Agave Development), receberá investimentos de R$ 30 milhões, oriundos da cláusula de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O projeto tem duração prevista de cinco anos.
Inicialmente, a pesquisa vai se ater a aspectos relacionados ao potencial produtivo do agave, como genética e tipos da planta, depois evoluindo para estudos do plantio e da mecanização da colheita em escala industrial – hoje, a colheita do agave no país ainda é manual – para, por fim, seguir à terceira fase, da implantação de projeto-piloto de etanol e biomassa, contou o gerente de tecnologias de baixo carbono da Shell Brasil, Alexandre Breda. A Shell negocia com os parceiros as próximas etapas. O acordo deve ser assinado até o início de 2023.

Grande potencial
Breda estima que, considerando o plantio de até 2 milhões de hectares no semiárido (ou 2% da área total do bioma, de 100 milhões de hectares), o Brasil tem potencial de produzir de 6 bilhões a 10 bilhões de litros de etanol de agave por ano; a produção anual de etanol de cana é de 35 bilhões de litros. Breda ressaltou que não se utilizaria toda essa extensão de semiárido porque existem áreas de caatinga que têm que ser preservadas.
Segundo ele, o projeto começou há pelo menos três anos, a partir de um trabalho de um aluno de mestrado da Unicamp. A partir de fevereiro, as conversas evoluíram e ganharam corpo com o coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, Gonçalo Pereira.
Breda diz que uma das principais características do agave é sua resistência ao estresse hídrico: a planta pode sobreviver até vários anos sem chuvas, o que não ocorre com a cana-de-açúcar, mais sensível a variações climáticas. Por outro lado, o ciclo de plantio e colheita do agave é de cinco anos, mais longo do que o da cana, anual.

Cultivo em vários países
Outra característica que estimulou a pesquisa é o fato de o agave ser encontrado também em outros países, ao passo que a cana-de-açúcar é mais limitada ao Brasil e a algumas regiões da Índia. Há produção de agave na América Central, México, África, Austrália e no Nordeste brasileiro, além de outras regiões que também têm clima semiárido.
Segundo Breda, nas conversas com Gonçalo, da Unicamp, chegou-se à conclusão de que a planta pode ser ótima uma fonte alternativa de energia. Os estudos visam a comprovar essa tese. “O projeto de pesquisa é justamente para tentar provar que esses números potenciais são reais. Isso tornará possível a busca pelo desenvolvimento de uma nova cadeia industrial”, disse o gerente.
Breda destacou que apenas 4% da planta é utilizada na produção dos fios de sisal. Isso torna o produto ainda mais atrativo para a produção de energia, já que o volume resíduos gerados nessa indústria diminui. Além do etanol, a Shell pretende estudar o uso do agave na produção de biomassa, biochar (um tipo de carvão vegetal, que pode ser utilizado no solo, como um biofertilizante, rico em carbono), biogás e também na produção de etanol de segunda geração. O projeto de aproveitamento do agave é um dos que integram o portfólio de iniciativas a serem estudadas no âmbito da meta de carbono zero da Shell até 2050.

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