Setor de serviços avança 2,9% em agosto, mas não recupera perdas causadas pela pandemia

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O Globo

O setor de serviços, motor do PIB brasileiro, segue em recuperação lenta após as perdas mais severas provocadas pela pandemia. Dados divulgados nesta quarta pelo IBGE apontam que o segmento cresceu 2,9% em agosto, na comparação com julho. Foi o terceiro mês consecutivo de alta, após quatro meses em queda. Especialistas ouvidos pela Reuters esperavam uma alta de 2,3% para o período.
O setor vem apresentando mais dificuldade do que outros segmentos da economia para se recuperar. Nos últimos meses, enquanto indústria e comércio já registravam resultados melhores, os serviços ainda apresentavam uma retomada tímida, mesmo com a flexibilização dos protocolos de distanciamento social em todo o país.
O segmento ainda está 9,8% abaixo do nível pré-pandemia. E se comparado ao mesmo período do ano passado, a queda registrada é de 10% – o que mostra que o setor está bem abaixo do “normal”.
O desempenho trava a recuperação da atividade, uma vez porque os serviços pesam quase 70% do PIB doméstico.
— Os dados dos serviços têm sido mais suaves do que a produção e o consumo de bens. Em nossa avaliação, isso reflete a natureza do choque da Covid e a natureza diferenciada dos protocolos de distanciamento social, afetando serviços mais intensivos de contato do que processos de fabricação — avalia Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.
Em agosto, quatro das cinco atividades pesquisadas pelo IBGE avançaram, com destaque para os serviços prestados às famílias, que cresceram 33,3%, impulsionados pelos restaurantes e hotéis.
A alta dessa atividade foi a maior da série histórica, mas ainda está distante do patamar de fevereiro, mês que antecedeu o início do distanciamento social para controle da disseminação do coronavírus.
Segundo Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, para que os serviços prestados às famílias voltem ao patamar de fevereiro, ainda precisam crescer 72,2%. O cenário é similar para outros grupamentos dentro do segmento, como transporte e armazenagem e outros serviços.
Para Carlos Lopes, economista do Banco BV, setores que sofreram muito durante a pandemia, como alojamento, alimentação e transporte aéreo já apresentam um esboço de recuperação. No entanto, a retomada para o patamar pré-pandemia está distante.
A velocidade da saída do “fundo do poço” é vista como essencial para uma melhora geral da economia.
Especialistas ressaltam, no entanto, que a tendência é que o setor seja o mais lento na recuperação por conta das características próprias e de uma dinâmica mais ligada à movimentação de pessoas.
Além do turismo reduzido, estabelecimentos estão operando com horário e capacidade reduzida, por exemplo. Dados do Google indicam que o fluxo em lojas de varejo e lazer ainda está 18% abaixo do pré-pandemia, assim como o movimento em parques (-25%), transporte público (-11%) e locais de trabalho (-5%).
— Essas empresas mostram alguma recuperação, mas com um ‘teto de retomada’, já que não têm plena capacidade de atendimento, comparada ao período pré-pandemia. Isso piora com o receio de algumas famílias de consumir esses serviços, como ir a restaurantes ou viajar — explica Lobo.
Além do turismo reduzido, estabelecimentos estão operando com horário e capacidade reduzida, por exemplo. Dados do Google indicam que o fluxo em lojas de varejo e lazer ainda está 18% abaixo do pré-pandemia, assim como o movimento em parques (-25%), transporte público (-11%) e locais de trabalho (-5%).
— Essas empresas mostram alguma recuperação, mas com um ‘teto de retomada’, já que não têm plena capacidade de atendimento, comparada ao período pré-pandemia. Isso piora com o receio de algumas famílias de consumir esses serviços, como ir a restaurantes ou viajar — explica Lobo.
Cálculos do próprio IBGE dão o tom do tamanho do desafio para crescer. Nos últimos três meses, o setor cresceu 11,8%. Hoje, para retornar ao patamar pré-pandemia, é preciso avançar 10,8%, sobre uma base de comparação cada vez mais alta.
— À medida que acumula-se taxas postivas, torna-se mais difícil crescer em cima de uma base de comparação elevada — ressalta Lobo.
Especialistas afirmam que nos próximos meses a economia deverá seguir beneficiada com a flexibilização das medidas de distanciamento e pelo auxílio emergencial, previsto para ser pago até o fim do ano.
Segundo economistas da Genial Investimentos, indicadores antecedentes relativos ao mês de setembro apontam continuidade na recuperação, porém em ritmo um pouco inferior ao observado em agosto.
A dúvida dos especialistas, no entanto, está no comportamento para o quarto trimestre, com um possível fim do programa.
O alto desemprego e a necessidade de crédito na indústria devem pressionar os setores como um todo. Quase 10 milhões de trabalhadores perderam o emprego e a renda durante a pandemia, segundo a Pnad Contínua.
Com menos recurso no bolso, a tendência é um consumo menor, o que poderá minar a recuperação da economia principalmente no quatro trimestre, quando se espera que a economia esteja próxima da normalidade.

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