O Globo
A indústria de óleo e gás no Brasil vai receber investimentos de US$ 182 bilhões até o fim desta década, de acordo com estudo da Firjan, entidade que reúne as indústrias do Rio de Janeiro. Segundo o levantamento, o Brasil chegará a 2030 como o quinto maior produtor mundial de petróleo, atingindo 5,4 milhões de barris por dia, ficando atrás apenas de Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia e Canadá.
Hoje, o país está na décima posição, com cerca de quatro milhões de barris por dia. Os dados foram apresentados na ROG.e (antiga Rio Oil & Gas), principal feira de energia do país, realizada semana passada no Boulevard Olímpico, Zona Portuária do Rio.
— A maior parte desse óleo estará em águas fluminenses, nas bacias de Campos e Santos, que receberão 13 novos FPSOs até 2028. Ou seja, há um volume enorme de crescimento para fornecimento de produtos e serviços. A cadeia produtiva fluminense e brasileira não pode ficar de fora — ressalta Karine Fragoso, gerente-geral de Petróleo, Gás, Energias e Indústria Marítima da Firjan.
Maior demanda global
O salto em produção no país é puxado pela expansão esperada globalmente. No evento, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que reúne os maiores produtores do mundo, anunciou prever que a demanda por energia crescerá 24% até 2050. A estimativa é que o consumo suba a 374 milhões de barris de óleo equivalente diários (mboe/d), ante a 301 mboe/d em 2023.
O crescimento, apontam as estimativas da Opep, será impulsionado por países em desenvolvimento que não pertencem à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as economias mais avançadas do mundo, com aumento de 73,5mboe/d. Desse total, 30% virão só da Índia.
— A demanda por petróleo está concentrada no mundo em desenvolvimento, impulsionada pela expansão da classe média e pela urbanização. Até 2030, mais de meio bilhão de pessoas se mudarão para as cidades em todo o mundo. O mundo vai continuar dependendo de todas as energias e de abraçar todas as tecnologias. Isso significa um investimento em toda a matriz energética — disse Haithmam Al-Ghais, secretário-geral da Opep.
Com o aumento da produção brasileira de petróleo, a Firjan estima um potencial de geração de 115 mil empregos diretos e indiretos apenas no estado do Rio até 2030, fruto da entrada em operação de novas unidades de produção e da retomada da indústria naval fluminense.
O mapeamento constatou que há mais de dez mil itens, entre bens e serviços de áreas como construção naval, metalmecânica e química, e três mil potenciais fornecedores, a maior parte concentrada no estado do Rio.
O relatório da Firjan aponta que há oportunidades onde não foram encontrados fornecedores locais, como em recolhimento de óleo produzido, consumíveis de solda e reparo de secadoras — atividades ligadas à exploração e produção de petróleo.
Entre os principais desafios a serem enfrentados pelo setor nessa expansão, Karine Fragoso, da Firjan, ressalta a falta de certificações por parte da indústria:
— Não necessariamente todos os fornecedores precisam de todas as certificações, dada a natureza dos bens e serviços demandados. Mas é importante qualificar e capacitar cada vez mais as empresas fornecedoras, garantindo o acesso delas ao mercado.
Rodada de negócios
Em rodadas de negócios realizadas durante o evento pela Firjan e pelo Sebrae RJ reunindo pequenos e médios fornecedores do setor, foram mapeadas 450 novas oportunidades. Há ainda a possibilidade de geração de empregos, ressalta a executiva, com o desenvolvimento de projetos de novas energias e tecnologias, como hidrogênio, produção eólica offshore e captura e armazenamento de carbono.
Empresas internacionais dessa cadeia estão atentas ao potencial do mercado brasileiro e trazendo novas soluções. Desde que chegou ao Brasil, em 2008, a australiana Karoon Energy, de exploração e produção de petróleo, por exemplo, já investiu mais de US$ 1 bilhão na indústria nacional.
Isso inclui US$ 665 milhões pela aquisição do campo de petróleo de Baúna, na Bacia de Santos, e aproximadamente US$ 300 milhões gastos em intervenções neste campo e no de Patola, na mesma região, atingindo uma produção de cerca de 25 mil barris por dia.
Além disso, perfurou dois poços próximos ao campo de Neon, com um projeto de desenvolvimento em potencial avançando no processo de investimento da Karoon.
— Estamos empenhados em aumentar nossos investimentos no Brasil, visando expandir nossa capacidade de produção, já que o mercado atualmente oferece condições bastante favoráveis para receber aportes. Para continuar explorando novas oportunidades de negócios é fundamental que haja estabilidade regulatória — afirma Julian Fowles, CEO da Karoon Energy.
Ele frisa que, no passado, a companhia teve boas oportunidades diante da oferta de blocos exploratórios da Petrobras, e que espera participar de futuras rodadas de partilha:
— Nosso foco está em seguir investindo para garantir um crescimento orgânico sustentável. Além disso, se a Petrobras decidir disponibilizar novos ativos no mercado, a Karoon estará pronta para aproveitar essas oportunidades.
Novos leilões
A Wärtsilä, referência global em soluções tecnológicas para os setores de energia e marítimo, anunciou projetos de desenvolvimento de embarcações movidas por combustíveis mais sustentáveis, como etanol, também apontando a direção em crescimento e novos negócios adiante.
— Seguimos fortes no mercado offshore com muitas atividades de serviços em nossa base instalada, oferecendo suporte a clientes que operam embarcações para as principais empresas de óleo e gás — disse Mário Barbosa, General Manager da Wärtsilä para a América Latina.
A demanda deve aumentar nos próximos anos. Rodolfo Saboia, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), disse no ROG.e que a perspectiva é lançar novos editais de oferta permanente de blocos de petróleo entre o fim deste ano e o início de 2025:
— Vamos retirar blocos que estavam em oferta há muito tempo. Estamos fazendo uma limpeza, um filtro nesses blocos e trabalhando para adicionar novos blocos com novos critérios. A ANP vai trazer ofertas mais atraentes, e esse processo se dará na virada do ano, com novos editais disponíveis para as áreas em oferta permanente.
Patrick Pouyanné, CEO global da Total Energies, disse que a companhia francesa está aberta a novas parcerias com a Petrobras em oportunidades de exploração e produção de petróleo e gás no Atlântico.
— Estamos interessados em explorar no Atlântico. Temos um projeto no Suriname, com mais de dois mil barris por dia. E a Petrobras pode bater na porta da Total. Em Angola, temos parceria com a Petrobras. Estamos também na Namíbia, que é uma nova fronteira — disse o executivo.