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Fonte: Valor Online

Uma mudança na regulação do mercado marítimo com o objetivo de reduzir poluição a partir de 2020 pode acabar rebatendo, de forma negativa, no mercado de etanol do Brasil. Isso porque as alterações que deverão ocorrer no mercado de combustíveis marítimos poderão levar a um aumento da oferta global de gasolina e, assim, dificultar a competitividade do biocombustível nacional, segundo a consultoria INTL FCStone.

A partir de 1º de janeiro, todas as embarcações terão que utilizar óleos combustíveis com teor de enxofre de até 0,5%, conforme regulamento da Organização Marítima Internacional (IMO). Como o teto atual é de 3,5%, a mudança deverá provocar uma redução de 80% nas emissões de poluentes Trata-se de uma mudança importante para um segmento que responde por metade da demanda global por óleo combustível.

Para substituir o óleo combustível com alto teor de enxofre, os armadores têm como alternativa o uso de óleo diesel marítimo (MGO, na sigla em inglês) ou o óleo combustível com baixo teor de enxofre. O problema é que, se a primeira opção é pouco produzida, a segunda quase inexiste.

A produção de MGO hoje atende o transporte de embarcações em hidrovias, nas Áreas de Controle de Emissão (Mar Báltico, Mar do Norte e a maior parte da costa dos EUA e do Canadá) e as embarcações pequenas e de alta velocidade. É um mercado de cerca de 900 mil barris por dia, mas que tende a crescer para 2 milhões de barris por dia a partir do ano que vem, com a entrada em vigor da nova regulamentação.

A segunda opção, o óleo combustível de baixo teor, ainda não é produzida e, segundo a FCStone, poucas refinarias estão equipadas para tal. Ainda que ocorram investimentos, a produção deverá alcançar 1 milhão de barris por dia em 2020, estima a consultoria.

No curto prazo, contudo, a única forma de os produtores ampliarem a oferta de [óleo] diesel para abastecerem o mercado naval é através do aumento do fator de utilização das refinarias, observaram os analistas Fábio Rezende e Matheus Costa, que assinam o relatório da INTL FStone. E é esse aumento no fator de utilização das refinarias que deverá resultar no aumento da produção de gasolina.

Daí para frente, as consequências para o segmento de etanol no Brasil são mais previsíveis. O aumento da oferta de gasolina poderá pressionar as cotações do combustível fóssil no mercado internacional que, se repassado para o mercado interno pela Petrobras, como manda a política de preços da estatal, aumentará a competitividade do produto no mercado de ciclo Otto.

Nessas contas, o câmbio pode fazer toda a diferença – e a aposta da consultoria é que o dólar deverá arrefecer, caindo abaixo de R$ 4 no primeiro semestre de 2020. Com isso, a Petrobras pode revisar para baixo as cotações do combustível fóssil nas refinarias, o que influenciaria, com viés de baixa, os preços domésticos do etanol, afirmaram os analistas.

Esse cenário pode reforçar a indicação de que o Centro-Sul do Brasil poderá, na safra 2020/21, aumentar sua aposta na produção de açúcar em detrimento do etanol, o que já vem sendo aventado por alguns analistas no mercado.

A FCStone observou que no mercado americano, a queda da gasolina pode acabar abrindo espaço para a alta do etanol – nos EUA, o biocombustível não compete com o fóssil, mas é misturado à gasolina. Se o preço do etanol americano subir, isso pode reduzir a pressão sobre as importações brasileiras.
As alterações no mercado naval devem provocar mais um efeito colateral: a alta dos fretes marítimos. Isso pode acabar levando os compradores a tentar baixar os preços de produtos de exportação, como o açúcar bruto, acrescentaram os analistas.

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