Raízen investirá R$ 6 bi em etanol de 2ª geração

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Aportes foram anunciados após acordo de fornecimento por dez anos para a Shell, de ? 3,3 bilhões

Valor Online
A Raízen deu ontem a maior tacada na área de biocombustíveis avançados de sua história, com o anúncio de um pacote de investimentos de R$ 6 bilhões para construir cinco novas plantas de etanol de segunda geração (E2G) nos próximos cinco anos. Os aportes foram anunciados após o fechamento de um acordo com a Shell para a venda do produto por dez anos, por 3,3 bilhões de euros.

A companhia chega, assim, a nove fábricas de E2G em operação, em construção ou anunciadas, dentre as 20 que prometeu quando fez seu IPO, no ano passado. Desde a abertura de capital, que levantou R$ 6,9 bilhões com investidores, a companhia já anunciou R$ 9 bilhões em aportes em E2G.
A primeira das novas unidades já deverá começar a operar em 2023, e se somará à unidade de Piracicaba, que já funciona há oito anos. O início das atividades das plantas anunciadas ontem será entre os anos de 2025 e 2027.
Todas as novas plantas terão capacidade para produzir 82 milhões de litros de E2G por ano, e usarão resíduos da cana que hoje são descartados, como palha e bagaço. As cinco unidades entregarão à Shell 3,3 bilhões de litros do bicombustível ao longo de uma década e ainda terão capacidade para produzir e vender para outros clientes.
Os volumes entregues à Shell serão direcionados ao mercado externo, destino prioritário do etanol celulósico brasileiro. Diferentemente do mercado doméstico, o internacional paga mais pelo E2G por causa de sua menor pegada de carbono em relação a outros biocombustíveis e pelo fato de não utilizar área agrícola adicional para produção.

Sem competição com alimentos
“Ele não compete com alimento, o que resolve a equação do ‘food versus fuel’ [alimento versus combustível]”, o que é valorizado no exterior, disse Paulo Neves, vice-presidente de trading da Raízen, ao Valor.
O mercado preferencial é o europeu, mas outros destinos também estão na mira, como Japão e Califórnia (EUA), que oferecem prêmio aos biocombustíveis de baixa intensidade de carbono.
Quase todo o etanol celulósico já produzido pela Raízen é exportado, com exceção de uma pequena parcela que é vendida ao Boticário, para uma linha de perfume.
O contrato com a Shell dá segurança para a Raízen erguer as unidades, por garantir o retorno do aporte. Outras empresas que estão dando os primeiros passos em biocombustíveis avançados também vêm adotando esse modelo, como é o caso do ECB Group com seu projeto de diesel verde.
Uma vez quitado o valor do investimento, o E2G será mais competitivo que o próprio etanol de primeira geração, feito da matéria-prima agrícola, já que seu custo de produção é muito menor por usar resíduos do campo. “No etanol de primeira geração, tem a terra, o custo dos insumos. No E2G, depois do capex, só tem o opex, que é menor”, disse Neves.
A companhia prevê uma margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de cerca de 50%, com investimentos em manutenção de R$ 50 milhões por planta ao ano.
O contrato estipula um preço mínimo para a entrega do E2G para a Shell, mas o valor de execução será ajustado mensalmente conforme preços de mercado, que atualmente chega a € 1,4 mil por metro cúbico. O valor adicional será “compartilhado” entre as partes.
O produto da Raízen poderá atender tanto à demanda para abastecimento de veículos leves, em substituição à gasolina, como a produção de bioquerosene de aviação ou outros usos. “Vamos entregar na indústria que tiver a maior diferenciação de valor”, disse Neves.

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