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Fonte: UOL

A eventual privatização da Petrobras divide economistas. De um lado, um grupo defende que a venda da estatal traria mais competição para o setor de combustíveis, afastaria o fantasma da greve dos caminhoneiros e reduziria a interferência do governo nesse mercado.

Outro grupo afirma que a medida não teria qualquer efeito sobre possíveis greves. Esses especialistas afirmam que o Brasil tem caminhões em excesso, poucas ferrovias e baixa exploração do transporte marítimo de cargas.

Desde a polêmica interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, quando questionou a alta no preço do diesel sob a justificativa de que o reajuste poderia implicar nova greve dos caminhoneiros, o debate sobre a privatização da Petrobras voltou a ganhar força.

Em entrevista à GloboNews em abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que tem conversado sobre a privatização da empresa com Bolsonaro. Segundo Guedes, o presidente estaria preocupado com as greves no Brasil e com o fato de isso não ocorrer em outros países.

O economista Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), é favorável ao processo de privatização da Petrobras e avalia que essa medida reduziria o poder de pressão dos caminhoneiros. “Não vemos greve de caminhoneiros nos Estados Unidos e na Europa porque ocorreu aumento no preço do diesel”, disse.

Privatização reduziria interferência governamental

Segundo Pires, como a Petrobras é a única empresa a produzir óleo diesel no Brasil, os caminhoneiros direcionam o foco das pressões para o governo, que controla a estatal e teme uma nova greve.

"A pressão chega na Petrobras porque a empresa é do governo, que tem medo das consequências de uma nova greve. Se tivéssemos várias refinarias produzindo diesel, isso não aconteceria", disse.

A falta de concorrência no setor, afirmou o economista, é o principal problema. Pires declarou que o preço dos combustíveis só ganha relevância no Brasil porque há forte interferência estatal no setor, com uma única empresa dominando o mercado.

"Quando só há empresas privadas em um mercado, a probabilidade de intervenção do governo é zero. Mas na América Latina ainda existe um ranço populista. Nos Estados Unidos, nunca vimos intervenção nos preços dos combustíveis. Então não há manchete de jornal sobre isso."

Queda no preço de gasolina depende de competição

O economista José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que uma eventual privatização da Petrobras não teria efeito sobre possíveis greves de caminhoneiros. Segundo ele, esse é um problema que decorre do excesso de caminhões vendidos no governo Dilma Rousseff, com linhas de crédito subsidiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

"Se as pessoas estão preocupadas com a dependência do transporte rodoviário de cargas, os investimentos devem ser feitos em ferrovias e nos serviços de cabotagem [navegação] pela costa para desafogar as estradas. A greve do ano passado está relacionada à crise econômica, que diminuiu o volume de mercadorias em circulação. Vale lembrar que na Noruega, por exemplo, a extração de petróleo é estatal", afirmou.

Imposto sobre gasolina é educativo

Ele declarou que comparar a realidade brasileira com a dos Estados Unidos e Europa não é adequado. O economista disse que nas duas regiões o poder de pressão dos caminhoneiros sobre o governo é reduzido diante da existência de ferrovias e transporte de cargas por hidrovias.

O economista da UnB também afirmou que a privatização da Petrobras não garantirá a redução no preço dos combustíveis. Ele disse que o valor do petróleo é determinado por cotação internacional, e o custo da gasolina está ligado ao processo de refino e distribuição.

"No Brasil temos competição no mercado de distribuição, mas não no mercado de refino. A entrada de novas empresas no mercado de refino do petróleo para produção de gasolina e diesel pode ser positiva. Mas temos de lembrar que o valor final dos combustíveis é influenciado por outros fatores, como incidência de impostos", informou.

Oreiro afirmou que a taxação dos combustíveis não é negativa, porque os combustíveis fósseis trazem prejuízos para o meio ambiente e contribuem para o aquecimento global. "O imposto, nesse caso, é introduzido para reduzir o consumo de combustíveis, que trazem problemas para o meio ambiente e para a população. Há um caráter educativo", disse.

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