Folha de São Paulo
Em meio ao embate para abrir nova fronteira para exploração de petróleo no Amapá, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, aproveitou evento no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para defender que o combustível fóssil “não é incongruente” com preservação do meio ambiente.
No evento desta quarta-feira (13), a Petrobras e o banco estatal de fomento comprometeram-se a aportar R$ 100 milhões em projetos de restauração da floresta amazônica, em áreas do chamado arco do desmatamento.
“Não estranhem me ver aqui ao lado do MMA (Ministério do Meio Ambiente)”, afirmou Chambriard, acompanhada pela diretora do Departamento de Florestas da secretaria nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais, Fabíola Zerbini.
“A Petrobras zela pelo clima”, continuou a executiva, enumerando uma série de projetos ambientais patrocinados pela empresa para mostrar “que nossa atuação, enquanto Petrobras, não é incongruente com os cuidados com o meio ambiente e com os cuidados de preservação ambiental”.
Chambriard defendeu ainda que a Petrobras aderiu aos compromissos de descarbonização do Acordo de Paris e tem como meta zerar suas emissões líquidas de petróleo em 2050. “É perfeitamente possível e desejável conciliar a liderança na transição energética justa com a exploração responsável de petróleo e gás.”
A Petrobras tenta licenciar um poço em águas profundas na costa do Amapá. Já teve o pedido negado pela área técnica do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) duas vezes, mas ainda tenta reverter a negativa.
As alegações da estatal são questionadas por organizações ambientalistas, que alertam para a necessidade de redução do consumo global de combustíveis fósseis, principal fonte de emissões de gases-estufa na atmosfera.
O esforço para zerar as emissões líquidas do setor de petróleo também é considerado insuficiente, já que se dá principalmente no consumo dos combustíveis. No evento desta quarta, o BNDES transmitiu um vídeo alertando que “a terra está chegando a um ponto de não retorno” e que “reduzir emissões é essencial”.
Foz do Amazonas
Magda Chambriard disse que a Petrobras trabalha para responder aos questionamentos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sobre o poço do bloco 59 da bacia da Foz do Amazonas.
“A Petrobras não está se furtando a explicar nada. Vai tentar esclarecer de todas as formas possíveis porque acredita que vai ser possível explorar petróleo na Foz do Amazonas”, disse ela. “Se essa licença não saiu ainda, é porque a gente não foi capaz de explicar tudo o que precisa ser explicado.”
Petrobras e BNDES anunciaram duas parcerias nesta quarta. Na primeira, cada um colocará R$ 50 milhões para contratar instituições para reflorestar cerca de 15 mil hectares de florestas, dentro do programa Restaura Amazônia.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, defendeu que o restauro é a maneira mais barata de reduzir o estoque de emissões na atmosfera. “O restauro sequestra carbono numa velocidade importante, envolve as comunidades e protege a floresta”, afirmou.
O banco pretende usar recursos do Fundo Amazônia para restaurar seis milhões de hectares até 2030. O BNDES já gastou R$ 450 milhões para contratar consultorias para elaborar projetos e espera gastar outros R$ 550 milhões com o replantio, dobrando esse valor com contribuições do setor privado.
Na outra parceria, foram selecionados 12 projetos de restauração de uma área de 2.744 hectares em sete corredores de biodiversidade para a conservação do Cerrado e do Pantanal. O projeto custará R$ 58,6 milhões.