O Estado de São Paulo
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, desmentiu nesta sexta-feira, 4, parte do relato do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 31. Prates negou que a estratégia de preços dos combustíveis tenha sido tratada na reunião. Pessoas presentes no encontro confirmam a versão de Prates.
Em entrevista na manhã desta sexta, Silveira disse que a diretoria da Petrobras informou ao governo que faria reajustes “se houvesse um aumento maior de preços (do petróleo e derivados)”. Isso, disse Prates, não teria acontecido na reunião com Lula, mas sim em uma reunião do Conselho de Administração da estatal, onde representantes da União têm lugar. Prates, inclusive, reclamou do vazamento de conversas realizadas no âmbito do Conselho.
“Em nenhum momento o presidente Lula se dirigiu ao presidente da Petrobras (Jean Paul Prates) para falar sobre segurar preços. O que eles falaram é que estava no limite do preço marginal e, se houvesse um aumento maior de preços (do petróleo e derivados), faria o aumento aqui”, afirmou Silveira à GloboNews, dando a entender que a tratativa aconteceu no Planalto.
Mas, segundo o presidente da estatal, a reunião se limitou a assuntos relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no que tange projetos da Petrobras, e para esclarecer pastas, como a Casa Civil, a esse respeito.
A relação entre Prates e Silveira não é boa devido a ataques do ministro à direção da Petrobras. O caso mais explícito diz sobre a política de reinjeçãod e gás natural da estatal para aumentar a pressão em reservatóriso de petróleo e facilitar sua pordução. Silveira defende que esse gás seja destinado ao mercado nacional.
Desta vez, Prates reclamou do “vazamento” da informação usada pelo ministro. “Esse tipo de informação já não deveria ser objeto de discussão externa à empresa”, disse.
Prates disse que a diretoria da Petrobras está “atentíssima” à questão dos preços e “não está sendo leniente em momento algum”. “Esse assunto não é trivial. O intervalo em que estamos operando é seguro para cada um dos produtos”, afirmou.
Segundo Prates, a Petrobras trabalha com uma banda cujo teto é o preço alternativo ao cliente (concorrentes) e o piso é o preço marginal da Petrobras.
“O preço pode tocar no teto da banda. Em algum dia, estava no limite; hoje, pode não estar mais nesse limite. É uma faixa dentro da qual a gente trabalha. O que não é normal é alguém do conselho ficar falando disso para fora (da empresa)”, disse Prates, novamente criticando o ministro e seus interlocutores da alta administração da Petrobras.
A receita com derivados do petróleo nesse segundo trimestre caiu 27,2% ante um ano atrás, e 13,2% na comparação com os três primeiros meses do ano, para US$ 72,98 bilhões. Segundo analistas, essa queda se deve, em boa medida, à redução sistemática dos preços dos combustíveis pela atual gestão. Mas a Petrobras menciona, em relatório financeiro, uma redução de mais de 40% nos crack spreads (diferença entre o preço do petróleo bruto e os produtos extraídos dele) internacionais de diesel no período.
Queda no lucro
Prates negou que a queda no lucro da companhia no segundo trimestre (R$ 28,7 bilhões) tenha a ver com a nova estratégia de preços de combustíveis, que levou a reduções sistemáticas e nenhum aumento em sua gestão.
Segundo ele, o lucro menor foi determinado pela queda nos preços internacionais do petróleo e do diesel no referido trimestre ante um ano atrás. Ele falou em entrevista coletiva sobre o resultado financeiro do período.
“É absolutamente desconexa a linha de raciocínio que atribui a queda no lucro à mudança na política de preços (de combustíveis). Houve queda brutal do Brent. Estamos falando de um período (segundo trimestre de 2022) com o petróleo muito alto e margens de diesel extremamente expressivas. Estamos em outras circunstâncias”, disse Prates.
Segundo o ex-senador, a Petrobras teve desempenho melhor que outras grandes petroleiras. “Nós desempenhamos melhor do que as nossas coirmãs e investindo mais”, disse.
“Em termos de fluxo de caixa operacional, essas empresas caíram em média US$ 6,5 bilhões, queda de 45% (em um ano). Nós caímos abaixo da média, 35,9%”, disse Prates.
Ele destacou que o lucro do segundo trimestre foi o 10º maior da história da Petrobras e que o volume de produção trimestral do pré-sal foi recorde.