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Na mesma semana, o preço também subiu nas usinas do Estado de São Paulo, maior produtor e consumidor do combustível do país. O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) registrou média de R$ 2,8136 o litro do etanol hidratado, valorização de 5,06% em relação à semana anterior, sem contar a incidência do ICMS nem de PIS/Cofins, tributos federais que tiveram alíquota zerada por medida do governo federal
Do campo às bombas nos postos de combustível, diversos fatores contribuem para a formação dos preços do biocombustível, que, anidro, é misturado à gasolina, e hidratado, abastece diretamente os tanques dos veículos. É o que lembram especialistas ouvidos pela reportagem da Globo Rural.
No Brasil, a principal matéria-prima utilizada para a produção do etanol é a cana-de-açúcar. O produto também pode ser fabricado a partir do milho (o que já é feito, principalmente, na região Centro-oeste), da aveia e de outros grãos. Em média, uma tonelada de cana pode gerar 80 litros de etanol de primeira geração (E1G). O hidratado tem composição de 95,1% e 96% de etanol e o restante de água.
A professora Mirian Bacchi, pesquisadora responsável pela área do no Cepea, explica que o preço do etanol ao consumidor final sofre influência de diversas variáveis. ‘Entre as mais importantes está o clima, seguido do preço do açúcar, da sazonalidade relacionada aos períodos de safra e entressafra, da paridade do preço com a gasolina e também da exportação – que ainda não tem um significado importante’, elenca. No Centro-Sul 2022/23, 5,67% do etanol hidratado foi destinado ao mercado externo, segundo o Observatório da Cana e Bioenergia.
Mirian ressalta que, em 2022, o clima foi mais favorável em comparação com 2021 – quando foram registradas seca e geada -, o que resultou em uma produção menor de cana-de-açúcar. ‘O ano passado foi atípico em relação ao clima, assim foi observada uma tendência de crescimento no preço do etanol durante quase todos os períodos do ano safra’, recorda.
Já neste ano, o preço médio do etanol ficou menor. ‘A população ainda está sendo beneficiada com valores mais baixos em termos reais’, avalia a pesquisadora. Segundo o Cepea, o levantamento parcial da safra atual, de abril a novembro, indica o preço médio de venda da usina à distribuidora – em termos reais, descontando-se a inflação – de R$ 2,88 o litro. O valor é 13,8% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Safra maior em 2023
2 de 2 Se o clima contribuir, safra de cana-de-açúcar deve ser maior em 2023 – Foto: Globo Rural
Se o clima contribuir, safra de cana-de-açúcar deve ser maior em 2023 – Foto: Globo Rural
Luciano Rodrigues, diretor de Economia e Inteligência Setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), adianta que, se o verão seguir com temperaturas e chuvas dentro do normal, a produção de cana-de-açúcar deve crescer em 2023. ‘Se não tiver uma surpresa do ponto de vista climático, vamos ter uma oferta maior’, avalia.
Segundo dados da Unica, a moagem de cana na primeira quinzena de dezembro, na região Centro-Sul, totalizou 5,61 milhões de toneladas, um aumento de 630,18% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram processadas 769 mil toneladas. Já no acumulado do início da safra 2022/2023 até 16 de dezembro, a moagem atingiu 538,97 milhões de toneladas, ante 522,60 milhões no mesmo período de 2021 – avanço de 3,13%.
Na primeira quinzena de dezembro, 36 unidades produtoras encerraram a moagem de cana-de-açúcar no atual ciclo, de acordo com os dados divulgados pela Unica. No acumulado, o encerramento de safra atingiu 211 unidades. No início da segunda quinzena de dezembro, 47 unidades estavam em operação no Centro-Sul frente a 7 empresas na safra 2021/2022.
Informações preliminares do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para uma amostra comum de 27 unidades produtoras indicam que foram colhidas 67,9 toneladas por hectare em novembro de 2022, o que representa um aumento de 7,3% no rendimento agrícola da lavoura na comparação com o mesmo período na safra 2021/2022 (63,3 toneladas por hectare).
Vendas de etanol aumentaram
Assim como a trajetória observada em outubro, o mês de novembro registrou aumento nas vendas totais de etanol pelas usinas. As unidades produtoras do Centro-Sul comercializaram 2,43 bilhões de litros de etanol no período, o que representa um aumento de 17,76% em relação ao mesmo período da safra 2021/2022.
No mercado interno, o volume de etanol hidratado comercializado foi de 1,25 bilhão de litros, o que significa um aumento de 18,21% em relação ao mesmo período da safra anterior. As vendas domésticas de etanol anidro totalizaram 958,8 milhões de litros, crescimento de 11,90%. No acumulado da safra, foram comercializados 10,83 bilhões de litros de hidratado domesticamente (-1,71%) e 7,27 bilhões de litros de etanol anidro (+6,15%).
Na primeira metade de dezembro, a tendência se manteve. As usinas do centro-sul do Brasil comercializaram 1,14 bilhão de litros de etanol, um aumento de 10,26% em relação ao mesmo período da safra 2021/2022.
Rodrigues acrescenta que a dinâmica do que acontece na bomba é diferente da dinâmica vivenciada pelo produtor. Enquanto o preço na bomba subia, o valor ao produtor caiu, diz ele. A alta no valor do combustível vendido pelas usinas de São Paulo, registrada pelo Cepea na semana passada, veio depois de quatro semanas seguidas de queda no indicador medido pela instituição. O diretor da Unica comenta que o preço do produtor representa em torno de 50% a 60% do valor cobrado do consumidor.
‘É um fator importante, mas não é o único. Para entender essa dinâmica de preço, a gente tem que olhar para a margem de lucro e o custo das distribuidoras, os tributos estaduais e federais e, por fim, a margem de lucro das revendedoras e dos postos de combustíveis’, explica.
Sazonalidade e competitividade
Mirian Bacchi, pesquisadora do Cepea, acrescenta que, devido à sazonalidade, variações de preço do etanol são comuns, tendo em vista os períodos de safra e entressafra, ‘como é próprio dos produtos do agronegócio’. Assim, entre os meses de fevereiro e março, é esperado um novo movimento de queda de preços, uma vez que em abril terá início a nova safra de cana-de-açúcar.
A professora lembra de outro fator: a paridade do preço com o da gasolina, que ajuda o consumidor a verificar se abastecer com etanol é mais vantajoso. Essa vantagem se concretiza, via de regra, quando o preço do biocombustível corresponder a até 70% do valor do derivado do petrélo na bomba do posto de combustível. “Pode demorar um pouco, mas o preço deve se ajustar a 70% do preço da gasolina’, enfatiza.
Rodrigues, da Unica, acrescenta que é o preço da gasolina, definido pela Petrobras, que determina a competitividade do biocombustível. E também destaca a relação da oferta e procura, fator decisivo para a definição do preço final do etanol.
‘Em relação à demanda, há alguns elementos para observar: a venda de veículos e o tamanho da frota, a intensidade de utilização dos veículos, a renda da população. Tudo isso vai influenciar no consumo total de combustíveis leves. Em períodos de festas e feriados, por exemplo, a demanda é maior’, considera. Quando há uma movimentação das distribuidoras porque o mercado está aquecido, a tendência é que o preço pago ao produtor aumente, diz ele.