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O reaquecimento da economia mundial após a pandemia e, agora, a guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia, colocaram o petróleo em um ciclo de alta. O barril saltou dos US$ 60, antes da covid, para cotações acima dos US$ 100 neste começo de ano. Esses reajustes que vêm de fora encarecem a gasolina e o diesel, que são derivados do petróleo. Mas também o etanol, produzido dentro do país, e a partir da cana-de-açúcar. Por que isso acontece?
Segundo economistas, o etanol segue a cotação do petróleo porque compete com a gasolina. Como grande parte da frota de carros é flex, os motoristas podem optar por um ou outro combustível de acordo com os preços.
Assim, quando a gasolina sobe, o consumidor busca o etanol, que passa a vender mais. Com o etanol vendendo mais, os produtores podem subir o preço cobrado dos postos. Por sua vez, os postos aumentam o preço para os consumidores.
“O fator determinante para a definição do preço do etanol na bomba é o preço da gasolina. Se fizermos uma correlação entre o preço da gasolina comum e do etanol hidratado nas bombas entre janeiro de 2013 e semana passada, teremos uma correlação quase perfeita, de 0,97. Ou seja, o preço do etanol sobe ou desce praticamente na mesma proporção da subida ou descida do preço da gasolina.
Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social da Petrobras e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).
Veja abaixo a variação dos preços dos combustíveis Aumento acumulado em 12 meses até fevereiro Etanol: +36,17% Gasolina: +32,62% Diesel: +40,54% Gás veicular (GNV): +38,41% IPCA (inflação oficial): +10,54% (Fonte: IBGE)
Variação em um ano até março do preço médio Etanol hidratado: +17,43% Gasolina comum: +25,23% Diesel: +42,90% Gás veicular (GNV): +44,36% (Fonte: ANP)
Na última safra, o Brasil produziu 28 bilhões de litros de etanol, sendo 39,3% de anidro e 60,7% de hidratado. O etanol responde por 45% do consumo de combustíveis entre os veículos leves no Brasil
Hidratado: Vendido diretamente aos motoristas, tem adição maior de água, daí seu nome. Anidro: É o etanol adicionado à gasolina A, na proporção de 27% (desde março de 2015). O resultado é a chamada gasolina comum
Por que etanol sobe com o petróleo? Antes de mais nada, é preciso entender por que gasolina, diesel e gás veicular (GNV) oscilam conforme a cotação do petróleo no mercado internacional, visto que o Brasil já extrai petróleo suficiente para o consumo local há mais de 15 anos. São dois motivos principais:
Política de preços da Petrobras: a empresa controlada pelo governo é a maior exploradora de petróleo no Brasil, respondendo por cerca de 75% da produção interna. Controladora de 13 das 18 refinarias do país, pratica uma política de preços que reajusta os combustíveis no Brasil de acordo com as cotações praticadas no mercado internacional. As cotações são em dólar, então a variação da moeda norte-americana também afeta o preço dos combustíveis. Refino de petróleo: 14 das 18 refinarias brasileiras são antigas, de antes dos anos 1980. Elas foram construídas para processar o petróleo que era importado, um produto do tipo leve. Já o óleo produzido no Brasil é do tipo pesado. Assim, o país precisa importar petróleo para fazer uma mistura que possa ser processada nas refinarias de forma eficiente.
Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), diz que o fator determinante para o preço do etanol nas bombas é o preço da gasolina. Por isso, se o petróleo sobe, leva junto a gasolina e o etanol.
“Sempre que a gasolina sobe, vai haver espaço para aumento do etanol. E, sempre que a gasolina cai, o produtor de etanol não consegue vender se não baixar o preço também. O consumidor é o grande formador de preço nesse mercado. Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da Unica. Para ler esta notícia.