Folha de S. Paulo
A influência do preço do petróleo sobre o valor do etanol nas bombas será mais forte ao longo de 2022. É o combustível fóssil que vai definir o ritmo dos reajustes, o que já foi visto neste mês.
Após a Petrobras ter anunciado um aumento de 18,8% no preço da gasolina e de 24,9% no valor do diesel no último dia 10 de março, o etanol também ficou mais caro para os motoristas nos postos.
Conforme levantamento da S&P Global Commodity Insights, a alta chegou a 5% em apenas uma semana após o reajuste feito pela petrolífera.
Analista sênior de biocombustíveis da S&P, Beatriz Pupo afirma que o impacto direto da alta do petróleo pode se traduzir em preços de etanol mais atrativos para os produtores, por aumentar o piso do álcool hidratado, que é o vendido nos postos. A previsão da consultoria é que a produção total na safra 2022/2023 fique em 29,3 bilhões de litros.
“Até agora, os preços domésticos do etanol foram sustentados por fortes valores internacionais de petróleo bruto e por um aumento concomitante na demanda doméstica de hidratado, uma vez que a paridade na bomba de gasolina ficou abaixo do ponto de equilíbrio de 70% na região Sudeste”, diz a analista.
Essa conta é feita com base no consumo médio dos combustíveis. Em geral, um veículo abastecido com etanol rende, em média, 30% a menos do que se estivesse rodando com gasolina.
Portanto, para compensar no bolso, o preço do álcool na bomba deve ser inferior a 70% do cobrado pelo litro da gasolina.
Além do petróleo, o clima é também uma das incógnitas para os usineiros no atual ciclo canavieiro.
Embora a previsão seja de crescimento em relação à temporada anterior, há preocupação por conta das condições climáticas no primeiro terço da safra. De acordo com a consultoria Datagro, houve piora no cenário em virtude dos incêndios e das geadas que ocorreram no ano passado.
A temporada 2022/2023, que começa em abril, deverá moer 562 milhões de toneladas no centro-sul do país, segundo a consultoria.
O montante é superior aos 525 milhões previstos para a safra 2021/2022, mas poderia ser melhor se não fossem as questões do clima. Com esse volume, as usinas produzirão mais etanol e mais açúcar, conforme a previsão da consultoria.
São projetados 29,8 bilhões de litros de etanol (incluindo de milho) na safra 2022/2023, ante os 27,7 bilhões previstos para a safra compreendida entre abril de 2021 e março de 2022.
Para o açúcar, a projeção aponta 33 milhões de toneladas, ante as 32,1 milhões de toneladas da safra 2021/2022.
A safra seguirá alcooleira, com 55,3% da cana-de-açúcar transformada em etanol anidro (misturado à gasolina antes da venda) e hidratado (vendido diretamente nos postos), índice ligeiramente superior aos 55,1% do mix de produção da safra 2021/2022.
Para a região Nordeste, a Datagro projeta colheita de 53 milhões de toneladas, acima das 52,5 milhões de toneladas da safra 2021/2022, com a produção praticamente estabilizada de etanol e açúcar.
Docente da USP (Universidade de São Paulo) especializado em agronegócios, Marcos Fava Neves afirma que a perspectiva de preços para a safra é boa para os produtores pelo fato de a oferta de cana-de-açúcar estar equilibrada, enquanto o consumo está maior.
“Provavelmente teremos preços bons, já que a oferta e a demanda de açúcar estão equilibradas e o petróleo com preço alto. Vamos entrar [na safra] com estoques baixos e consumo em alta.”