Valor Econômico
Mesmo com a queda dos preços do petróleo no mercado internacional nesta terça-feira (21), após Donald Trump afirmar que vai aumentar as exportações da commodity, a gasolina e o diesel no Brasil continuaram com defasagem frente aos preços externos. A diferença do diesel variou entre 12,2% e 23,6%, segundo avaliações de cinco instituições. Já a gasolina registrou preços entre 8,5% e 15% abaixo do exterior. É com esse cenário que o conselho de administração da Petrobras se depara antes da reunião que fará em 29 de janeiro e que pode discutir a política de preços dos combustíveis da estatal.
Sem reajustar os preços do diesel há mais de um ano e tendo mexido nos preços da gasolina uma única vez, em julho do ano passado, a estatal viu a cotação do dólar disparar em dezembro e a do barril do petróleo enfrentar volatilidade. Empossado na presidência dos Estados Unidos na segunda-feira (20), Trump prometeu exportar mais petróleo, o que fez os preços internacionais recuarem: as cotações do barril do tipo Brent, referência internacional, encerraram ontem em queda de 1,17%, a US$ 79,29. O WTI, referência nos EUA, fechou cotado a US$ 75,83, recuo de 2,01%.
Segundo a StoneX, a gasolina está 11,2% abaixo da paridade de importação, ou R$ 0,33 por litro. O diesel está com diferença de 23,6%, o equivalente a R$ 0,82 por litro. Thiago Vetter, analista da StoneX, afirma que a alta do câmbio e o clima frio nos Estados Unidos têm pressionado os preços dos combustíveis. “O frio nos Estados Unidos nos últimos dias tem elevado o consumo de diesel para calefação no país e colocado em risco o refino de petróleo, que pode sofrer paradas pelas condições extremas do clima.”
De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a gasolina da Petrobras ficou 11,09% abaixo da paridade internacional, ou R$ 0,38 por litro. O diesel fechou a terça-feira 18,7% aquém do preço externo, ou R$ 0,81 por litro. Para a consultoria Argus, a defasagem da gasolina da Petrobras está em 8,5%, igual a R$ 0,42 por litro, enquanto o diesel apresenta diferença de 12,2%, ou R$ 0,62 por litro. A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) estima a defasagem da gasolina da Petrobras em 13% (R$ 0,37 por litro) e a do diesel em 24%, ou R$ 0,85 por litro.
Nos cálculos do Itaú BBA, o preço da gasolina da Petrobras está 15% abaixo e relação ao importada, enquanto no diesel essa diferença é de 19%. O banco informou em relatório que, apesar das quedas do petróleo e gás com a posse de Trump, os preços da Petrobras ainda continuam abaixo das cotações internacionais. Como a estatal tenta evitar repassar a volatilidade dos mercados, a empresa deve aguardar uma visão mais clara sobre a tendência de preços globais antes de definir um ajuste nos combustíveis, diz o banco.
Nesse contexto, os conselheiros da estatal devem avaliar se a atual política de preços é sustentável. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, tem dito que a atual política permitiu “abrasileirar” os preços dos combustíveis ao considerar parâmetros nacionais para o cálculo, além do Brent e do dólar. Em maio de 2023, a Petrobras abandonou o preço de paridade de importação (PPI). A decisão de reajustar preços dos combustíveis é da diretoria executiva da Petrobras, sem envolvimento direto do conselho de administração.
Em meados de 2022, o conselho da Petrobras havia aprovado uma “camada adicional de supervisão”, segundo a qual o colegiado vai avaliar a cada três meses a sustentabilidade da política de preços. Isso inclui a evolução dos valores praticados e a participação de mercado da companhia. Os conselheiros não podem obrigar a diretoria a reajustar os preços: no máximo, segundo as fontes, recomendar à diretoria eventuais reajustes.
Sob essa nova política de preços, a Petrobras só aplicou um reajuste nos preços da gasolina em 2024, quando concedeu em julho aumento de 7,04%. A estatal não mexeu nos preços do diesel no ano passado: a última alteração foi corte de 7,85% em dezembro de 2023. A percepção das fontes é que o conselho está convencido de que a política atual é sustentável e a empresa “está longe” de apresentar prejuízo com a nova estratégia comercial. O problema é que a defasagem reduz os ganhos. “Poderia estar ganhando mais com o PPI [preço de paridade de importação] se ainda estivesse em vigor, mas é diferente de dizer que tem perdas”, disse uma das fontes.
Procurada, a Petrobras reiterou posicionamento apresentado ao Valor no dia 5 de janeiro, em reportagem sobre o tema, afirmando em nota que, desde maio de 2023, adota estratégia comercial que considera as melhores condições de produção e logística na precificação de diesel e gasolina na venda para as distribuidoras. Disse também que segue observando os fundamentos de mercado e, “por questões concorrenciais, não pode antecipar suas decisões.”
“Essa estratégia permite à empresa mitigar a volatilidade do mercado internacional e da taxa de câmbio, proporcionando períodos de estabilidade de preços para os seus clientes, assim como contribui para uma melhor competitividade dos seus produtos frente às principais alternativas de suprimento, considerando a participação no mercado que permita a otimização dos seus ativos e a rentabilidade de maneira sustentável”, informou a Petrobras.
No fim de dezembro, a presidente da Petrobras disse em entrevista ao programa “Canal Livre”, da Band TV, que os preços da estatal estão “sensivelmente” menores do que os registrados em 31 de dezembro de 2022, último dia da gestão de Jair Bolsonaro e negou prejuízos. “Estamos fazendo dinheiro mesmo depois de abrasileirar os preços e evitando volatilidades no mercado interno”, disse Chambriard.
Os combustíveis podem ter ainda aumento nas bombas quando entrar em vigor o reajuste no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), em 1º de fevereiro, salienta a Argus. O imposto sobre a gasolina aumentará em 7%, para R$ 1,47. Sobre o diesel, o ICMS subirá 5%, para R$ 1,12.