Petrobras dá ‘guinada’ e acelera cortes nos preços da gasolina e diesel

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Valor Econômico

Nos últimos dois meses, a Petrobras fez 11 cortes nos preços dos combustíveis, incluindo um leque amplo de produtos: gasolina, diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP), gasolina e querosene de aviação e asfalto. A queda acumulada na gasolina, entre 20 de julho e 2 de setembro, foi de 19,22%, em quatro rodadas de reduções de preços. Já o diesel caiu 12,84% de 4 de agosto até ontem, considerando três anúncios feitos pela empresa no período.
Chama a atenção o fato de que a Petrobras passou a “derrubar” os preços dos derivados de petróleo no mercado doméstico mais rápido do que fez no primeiro semestre, quando tinha que aumentá-los. Na ocasião, os preços do petróleo no cenário global estavam mais elevados e atingiram picos de US$ 130. A partir do começo de agosto, as cotações do barril tipo Brent, referência internacional para o setor, passaram a se estabilizar em patamar inferior aos US$ 100.
O recuo nas cotações da commodity contribuiu para reduzir os preços da gasolina e do diesel, na visão de especialistas. Há consenso em relação a esse ponto. Mas fontes dizem que os cortes nos preços estão sendo mais rápidos a despeito de uma métrica existente na Petrobras que leva em conta médias móveis de cotações para definir os reajustes. Essa média serviria para evitar decisões “arbitrárias”. Na prática, porém, a Petrobras estaria operando abaixo da média móvel, em um “piso”, facilitando as reduções de preço dos combustíveis.
Procurada, a Petrobras não respondeu às perguntas do Valor. Em apresentações públicas, diretores da empresa têm reforçado que não há periodicidade definida para repasses nos preços.
Na segunda, a Petrobras anunciou corte de 5,78% no preço do diesel, válido a partir desta terça-feira, 20. A avaliação de fontes é de que havia espaço para reduzir mais, na faixa de 8%. Mas a magnitude do corte demonstra o quanto a Petrobras está pisando no acelerador para reduzir os preços pois quase zerou a diferença em relação à paridade de importação de uma só vez. Na gasolina, os cálculos são de que ainda existe um sobrepreço da ordem de 12%-13% em relação ao exterior e que a Petrobras poderia anunciar nos próximos dias uma nova redução, que ficaria na casa dos 6%.
Hoje está prevista reunião do conselho de administração da Petrobras, mas não há na pauta, segundo apurou o Valor, item sobre nova rodada de redução de preços dos combustíveis. O que deve ser referendada é a substituição de Juliano Dantas por Paulo Palaia na diretoria-executiva de transformação digital e inovação. A mudança tinha sido comunicada pela Petrobras no dia 5 deste mês, mas ainda precisava passar pelos procedimentos internos de governança. Fontes dizem que é possível que ocorram outras demissões na diretoria-executiva da companhia a curto prazo.
No caso dos preços, há quatro elementos principais considerados para definir os reajustes no mercado doméstico: o preço internacional do petróleo, o custo de internação e distribuição, o câmbio e a volatilidade dos preços externos. Conta ainda o grau de eficiência e a ocupação do parque de refino. Fontes explicam que as decisões de reajustes da Petrobras também levam em conta questões como a fatia de mercado de importação e a duração dos contratos de compra fechados. No primeiro semestre, por exemplo, a empresa teria ganho fatia de mercado ao ter mantido os preços abaixo do exterior, o que impediu a atuação de importadores independentes, que não conseguiam competir com a estatal.
“Se a companhia esperar muito agora para repassar as quedas, os importadores independentes podem conseguir contratos mais baratos e ganhar fatia de mercado [em cima da Petrobras]. A frequência dos reajustes depende da estratégia da empresa levando em consideração o posicionamento dela em relação aos contratos e clientes, por exemplo”, disse uma fonte. O sócio-diretor da Leggio Consultoria, Marcus D’Elia, afirma que a frequência maior de queda de preços dos combustíveis tem relação com aspectos comerciais.
Um exemplo de como a estratégia da empresa mudou no ano está no primeiro semestre, quando os reajustes eram mais espaçados. De janeiro a junho, a companhia fez reajustes só em quatro ocasiões e em três delas reajustou gasolina e diesel na mesma data. Na gasolina, houve três aumentos (janeiro, março e junho) e no diesel, além destes, ocorreu um também em maio.
O consultor e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Felipe Kury diz que a conjuntura internacional ajudou a Petrobras a reduzir preços, com a estabilização das cotações no mercado externo, após o aumento das taxas de juros e dos receios de recessão global. “A companhia trabalha com contratos futuros e tem uma mesa de negociação do petróleo que vende, que faz o hedge [instrumentos de proteção]. A gestão da empresa acompanha as alterações de preços e pode contingenciar isso.” Como o preço da commodity está em tendência de queda, é improvável que as reduções de combustíveis tenham impactos negativos na saúde financeira da Petrobras, afirma: “Qualquer governo aproveitaria essa boa conjuntura do mercado externo”.
Como publicado ontem pelo Valor, integrantes da campanha de presidente Jair Bolsonaro têm a expectativa de que a Petrobras continue a produzir boas notícias a cada semana até a conclusão do processo eleitoral. Isso porque, além do efeito no bolso dos consumidores, notícias sobre a redução nos preços dos combustíveis têm sido utilizadas pelo presidente em atos de campanha. Bolsonaro falou dos preços da gasolina no Reino Unido, onde esteve para o funeral da rainha Elizabeth II, e voltou ao tema Petrobras ao discursar ontem na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
A mudança na postura da Petrobras em relação aos preços coincide com a chegada à presidência da empresa de Caio Paes de Andrade, ligado a Bolsonaro e que foi escolhido depois de críticas do governo federal aos preços da estatal. Andrade assumiu a estatal em 27 de junho, em substituição a José Mauro Ferreira, que ficou apenas 40 dias no cargo. Paes de Andrade, que está em tratamento de câncer, continua ativo na empresa e tem tido a missão dada por Bolsonaro facilitada pela queda do barril de petróleo no mercado mundial.
Fontes dizem que a estratégia da Petrobras, ao não zerar as diferenças de preços em relação ao exterior, pode ser de continuar a ter espaço para fazer cortes semanais. A avaliação é de que a estatal tem adotado uma postura similar à defendida por Maquiavel, em “O Príncipe”, para a boa reputação de governantes: “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos; quando for praticar o mal, faça-o de uma só vez”.

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