Estatal prevê ainda venda de até US$ 20 bilhões em ativos. Integrante da equipe de transição do governo diz que plano vai passar por mudanças
O Globo Online
A Petrobras pretende investir US$ 78 bilhões entre os anos de 2023 e 2027. A estatal apresentou seu novo Plano de Negócios (PNG) após aprovação do Conselho de Administração, que se reuniu das 8h30 às 19h30 desta quarta-feira.
O valor anunciado pela estatal é maior que os US$ 68 bilhões para o período 2022/2026, e que os US$ 55 bilhões para o quadriênio 2021/2025. Porém, está na mesma faixa dos dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro: o plano de 2020/2024 previa recursos de US$ 75,5 bilhões; e o de 2019/2023 tinha orçamento de US$ 84,1 bilhões.
O novo plano, como já era esperado, foca os investimentos na produção de petróleo no pré-sal e destina recursos para a exploração na chamada Margem Equatorial, na região Norte do Brasil. Segundo a estatal, o segmento de Exploração e Produção (E&P) é 83% do total, seguido pelo Refino, Gás e Energia com 12%, Comercialização e Logística com 2%, e 3% no Corporativo.
Venda de ativos de até US$ 20 bi
O Investimento total para E&P é de US$ 64 bilhões, com cerca de 67% destinados para o pré-sal. ” A produção do pré-sal representará 78% do total da companhia no final do quinquênio”, destacou a empresa. Além disso, o plano considera investimento total em exploração de US$ 6 bilhões, sendo aproximadamente 50% na Margem Equatorial.
Para isso, a estatal pretende alocar cerca de US$ 20 bilhões somente em afretamentos de 11 novas plataformas. Além disso, a companhia prevê a construção de seis plataformas próprias. A meta de produção de óleo e gás comercial da companhia passará de 2,3 milhões de barris em 2023 para 2,8 milhões de barris em 2027.
Na edição desta quarta-feira, o GLOBO antecipou que os investimentos da estatal estariam entre US$ 70 bilhões e US$ 80 bilhões para 2023/2027.
Além disso, o novo plano prevê forte venda de ativos. A expectativa de desinvestimentos oscila entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões no quinquênio, “o que contribuirá para melhorar a eficiência operacional, o retorno sobre o capital e a geração de caixa adicional para realização de novos investimentos mais aderentes à estratégia da Companhia”, destacou a estatal. A indicação desagradou integrantes da equipe de transição do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva.
‘Plano nasce velho’
Porém, o novo PNG já nasce velho, conforme definiu uma fonte do governo de transição. Isso porque o grupo de transição já vinha sinalizando que pretende alterar o novo plano e focar os investimentos da estatal em energias renováveis e em refino.
O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, avalia que o planejamento estratégico da Petrobras será revisto pelo governo Lula, para incluir investimentos em aumento da capacidade de refino, em projetos de transição energética, com estímulos a fontes renováveis, como biocombustíveis, e encomendas à indústria naval brasileira, com a construção de plataformas e embarcações no país, gerando emprego no Brasil.
A mudança do plano, segundo explicou essa fonte, deve ocorrer apenas no ano que vem. Durante reunião entre a atual gestão da estatal e o grupo de transição, nesta semana, chegou a ser pedido que a empresa adiasse a divulgação nesta quarta-feira do plano de negócios.
O ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Maurício Tolmasquim, que coordena o grupo técnico de Minas e Energia da equipe de transição de Lula, disse em entrevista ao GLOBO que a estatal precisa se transformar em uma empresa de energia, voltando a investir em energias renováveis. Defendeu ainda que a companhia aumente os investimentos em refino.
Ampliação de refinarias
Uma fonte do grupo de transição explicou que ‘transição energética implica em diversidade de fontes’. Essa mesma fonte citou investimentos em energia eólica, biomassa e biocombustíveis.
Na área de refino e gás, a estatal prevê US$ 9,2 bilhões com cerca de 50% dos recursos aplicados na expansão e aumento da qualidade e eficiência. A companhia prevê investimentos em oito novas unidades de processamento dentro das refinarias, além de seis obras de adequações em unidades já existentes. Assim, a Petrobras pretende elevar a capacidade de processamento e conversão do refino em 154 mil de barris por dia (bpd) e a capacidade de produção de Diesel S-10, de maior qualidade, será ampliada em mais de 300 mil bpd.
Estudo de eólica offshore e hidrogênio verde
A estatal destacou ainda que vai destinar US$ 4,4 bilhões (6% do total) em projetos direcionados a iniciativas em baixo carbono. Entre as iniciativas estão a reinjeção de gás carbônico nos campos, redução de captação de água doce, iniciativas de biorrefino (diesel renovável e bioquerosene de aviação) e o aprofundamento de estudos nos novos negócios de eólicas offshore (mar), hidrogênio e captura de carbono.
Apesar da incertezas com a economia mundial, a Petrobras espera que o barril do petróleo (Brent) entre 2023 e 2027 seja , em média, de US$ 75 e a taxa de câmbio média para o mesmo período é de R$ 5 para cada dólar.
Dividendos de até US$ 70 bilhões
A empresa sinalizou também que pretende distribuir de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões em dividendos a seus acionistas entre 2023 e 2027. Desse total, a União deve receber entre US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões.