O Estado de São Paulo
O aumento da oferta mundial de petróleo em 2025, especialmente com a retomada gradual do padrão das exportações da Rússia a partir do segundo trimestre, e menor ritmo da demanda global pela commodity, causado pela imposição de tarifas de produtos importados pelos EUA, devem derrubar o preço do barril do Brent neste ano.
Na segunda-feira, 3, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Países Aliados (Opep+) decidiu aumentar a produção da commodity a partir de abril, citando como justificativa para a decisão “os fundamentos de mercado saudáveis”. Em nota, a Opep+ afirmou também que “o aumento gradual pode ser pausado ou revertido” se isso for necessário.
O grupo disse que aumentaria a produção em 2,2 milhões de barris por dia, ou cerca de 2% da demanda global, até 2026. Isso seria uma boa notícia para os consumidores, que geralmente se beneficiam quando a energia custa menos, mas reduziria os lucros dos produtores de petróleo e dos países e Estados onde eles operam.
A decisão teve efeito imediato no mercado e os preços atingiram o nível mais baixo do ano nos EUA: US$ 68,37 por barril na segunda-feira, queda de 2%. Uma ótima notícia para Donald Trump, que vinha pressionando por reduções no preço da commodity. A esse valor, em geral, é lucrativo perfurar novos poços nos Estados Unidos, que produzem mais petróleo do que qualquer outro país. Muitos outros poços deixam de ser lucrativos quando o petróleo é vendido a US$ 60 por barril ou menos.
Para Kim Fustier, chefe de pesquisas na Europa para petróleo e gás do HSBC, a média da cotação do barril do Brent será de US$ 70 no quarto trimestre. A redução ocorrerá pelo aumento da produção mundial de petróleo de 102,6 milhões de barris por dia em 2024 para 103,9 milhões de barris por dia neste ano. Enquanto isso, a demanda global avançará em menor velocidade no período, de 102,8 milhões de barris por dia para 103,8 milhões de barris por dia.
A adoção de tarifas a importados pelos EUA pode provocar uma desaceleração do nível de atividade em vários países e reduzir a demanda mundial por petróleo. “Há um grande risco de ocorrerem guerras comerciais. Tarifas gerais podem atingir o crescimento global, o comércio internacional e a demanda pela commodity”, disse Eric Lee, estrategista global de energia do Citi. O banco estima que o Produto Interno Bruto (PIB) americano reduzirá de uma alta de 2,8% em 2024 para 1,5% neste ano.
“O setor de energia dos Estados Unidos pode ser afetado por tarifas ao aço importado, um custo importante à indústria americana de petróleo e gás natural, o que poderá aumentar os preços de derivados aos consumidores do país”. Ele estima que a cotação média do barril do Brent baixará de US$ 68 no segundo trimestre para US$ 60 entre outubro e dezembro.
O governo americano já adotou tarifas de 20% sobre importados da China. Taxas de 25% sobre aço exportado por diversos países aos EUA começarão a valer em março e o presidente Donald Trump planeja implementar uma alíquota ao redor de 25% sobre automóveis fabricados no exterior, que poderão ser aplicadas no início de abril.
Essa política na área do comércio tem impactos diretos na produção industrial da Europa e China e terá efeitos na demanda global de diesel e gasolina, destacou Joel Hancock, analista de petróleo do banco Natixis. “A menor atividade das fábricas nesses mercados atingirá a renda real dos consumidores, o que diminuirá suas compras de gasolina.”
As tarifas a importados poderão elevar a inflação nos EUA e reduzir a aquisição de derivados de petróleo pelos seus cidadãos, destaca Hancock. “O consumo de gasolina no país representa 10% de toda demanda global de petróleo. Qualquer grande impacto nesse mercado pode ter efeitos sobre a tendência da demanda mundial do petróleo”, disse.
Para o Natixis, o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) terá uma pequena redução neste ano, passando de 2,9% em 2024 para 2,6%. Isso deve levar o Fed a cortar os juros somente em setembro e dezembro.
A tendência de menor demanda global do petróleo ante a oferta mundial neste ano também ocorre com as dificuldades econômicas da China, que poderão ser agravadas pela adoção de tarifas pelos EUA às suas exportações. “As tarifas causam incertezas, especialmente para investimentos em novas fábricas na China, que ficaram mais arriscados agora e podem ser o fator de maior repercussão negativa à sua economia no curto prazo”, comentou Jim Burkhard, vice-presidente da S&P Global Commodity Insights. /COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS