“Nos últimos 10 anos, uma coisa que não tivemos no Brasil foi estabilidade”, diz Cosan

Associação apoia comercializadora independente de etanol
24/11/2020
Preço da gasolina fica 0,07 por centro mais barato em novembro e recua pela primeira vez desde maio, aponta Ticket Log
24/11/2020
Mostrar tudo

O Estado de S. Paulo

Paula Kovarsky, diretora de relações com investidores da Cosan, explica como empresa está superando a pandemia

A Cosan é dona de marcas importantes que prestam serviços essenciais para o País, como a Comgás, a Raízen (postos Shell) e a Rumo Logística. A pandemia causou dois impactos no dia a dia dessas empresas: mesmo com a redução drástica do consumo, todas mantiveram o pleno funcionamento para abastecer cada uma das cadeias.
Os números refletem esse momento. A receita líquida do terceiro trimestre deste ano recuou 6,9%, para R$ 17,5 bilhões, e o lucro líquido despencou 63%, para R$ 304 milhões.
Em compensação, a geração de caixa, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação a amortização) aumentou 6%, para R$ 1,7 bilhão. “Voltamos para um patamar mais perto da normalidade em Ebitda por conta da gestão de cada um dos negócios”, diz Paula Kovarsky, diretora de relações com os investidores e do escritório de Nova York.

Confira os principais trechos da entrevista ao E-Investidor:
No terceiro trimestre, a geração de caixa (medida pelo Ebitda) é o dado mais importante para o investidor avaliar do que o lucro líquido?
O lucro não é o indicador que olhamos, porque no final das contas a holding tem vários negócios, cada um com suas dinâmicas particulares. A gente realmente foca mais no Ebitda. Olhando especificamente para ele, conseguimos na combinação dos nossos ativos chegar bem perto do que seria a normalidade, seja lá o que ‘normalidade’ signifique hoje.

Poderia dar mais detalhes sobre essa normalidade?
A razão disso ser possível é a retomada dos volumes na Comgás, especialmente industrial, a retomada de volumes em todos os países de atuação da Moovie, atrelado a uma estratégia comercial de suplementos super assertiva. Mesmo no setor de distribuição, em que vimos uma retomada de demanda em alguns dos segmentos, mas outros sofrendo muito ainda, como o de aviação, mesmo assim nós conseguimos resultados importantes. Por fim, temos o nosso setor de açúcar e etanol, que já imaginávamos que seria menos afetado pela crise. Em resumo, nós voltamos para um patamar mais perto da normalidade em Ebitda por conta da gestão de cada um dos negócios, mas também por conta da combinação deles.

Quais são as perspectivas para 2021?
Temos alguns desafios, algumas incertezas pela frente, desde como vai ser a pandemia no Brasil e no mundo e em que momento vamos ter um cenário de vacinação e tranquilidade. É difícil prever isso. Mas a gente se posiciona como grupo, dado esse cenário: se olharmos para os últimos dez anos, se teve uma coisa que não tivemos no Brasil foi estabilidade. Teve ano em que o PIB foi para cima, para baixo, para o lado, cenários políticos desafiadores, momentos externos variados, e o que a gente viu foi o crescimento contínuo e consistente do que a gente chama de “Ebtida sob gestão do grupo”. Esse Ebitda é a forma de olharmos 100% todos os negócios que controlamos. Ao olharmos dessa forma, a participação da Cosan nesses negócios variou no tempo, mas eles foram geridos por nós. Se você olhar esse gráfico de “Ebtida sob gestão”, ele cresceu consistentemente. Aliás, o que ele não vai crescer em 2020 é essencialmente em função das perdas na pandemia – que é uma turbulência fora de qualquer padrão. Por isso, quando olhamos para 2021, temos talvez menos certezas sobre qual vai ser o cenário macro, mas temos uma enorme certeza de que esse portfólio vai ser capaz de performar, seja qual for o cenário.

Como foi que a Cosan enfrentou a pandemia?
Eu diria que em uma semana nós enfrentamos as nossas três maiores crises de uma vez só. Em uma segunda-feira teve o “crack” do preço do petróleo, que de uma hora para outra ficou negativo. Um dia depois sofremos um ataque hacker e no final daquela semana começou o lockdown no Brasil. De uma hora para outra tivemos que, literalmente, recomeçar todas as nossas operações com todo mundo de casa ou, pelo menos, com a maioria dos nossos colaboradores de casa. Na sequência, ainda, a demanda de distribuição de combustíveis caiu 70% a 80% muito rapidamente, tivemos perdas de estoques altíssimas no segundo trimestre do ano.

Como o grupo reagiu a todos esses acontecimentos?
O que ficou evidente foi a capacidade do Grupo de rapidamente se organizar, colocar de pé todos os protocolos e procedimentos necessários para garantir que todos os nossos colaboradores estivessem protegidos. E, ao mesmo tempo, sabendo que todos os negócios do grupo foram considerados serviços essenciais, nós conseguimos manter abastecidos todos os nossos clientes, sejam eles consumidores de gás na Comgás, sejam usuários de serviços de transporte da Rumo, sejam eles consumidores de diesel, sejam as pessoas que abastecem seus veículos nos nossos postos e etc. Temos um portfólio que tem um alcance de mais de 7 mil postos, 2 milhões de clientes na Comgás, 14 mil quilômetros de ferrovias. Fora isso, são 13 países atendidos pela Moove, que é a nossa empresa de lubrificante, e cada um dos consumidores desses portfólios não viu, não reparou, nem foi afetado, no sentido de ter tido qualquer tipo de disrupção nos serviços que a gente presta.

Quais foram as lições desse período?
É um momento de muito orgulho quando olhamos para trás e vemos tudo o que foi feito. A rapidez com que nós conseguimos colocar tudo isso de pé também nos permitiu que, rapidamente, começássemos a olhar para quais eram as tendências, oportunidades e mudanças que viriam na sequência dessa confusão toda.

E quais são essas tendências?
Estou falando de macrotendências globais, como a aceleração de digitalização, uma tensão muito maior para todas as questões socioambientais, onde a gente tem um portfólio super bem posicionado para seguir capturando as oportunidades. Nós temos nos posicionado cada vez mais nessa agenda de sustentabilidade. Temos a convicção muito forte que o nosso portfólio está muito bem ajustado para criar valor nesse ambiente, que valoriza as coisas que acreditamos. Sempre falamos nesse conceito de “ESGE”, que é com um E a mais, de Economics, como sendo um quarto pilar de sustentabilidade, e olhamos para isso de verdade como mecanismo de criação de valor para o futuro. Essa é uma agenda que sempre esteve forte na Cosan e agora ficamos ainda mais felizes porque o assunto está tendo cada vez mais eco.

O que podemos esperar dos resultados da Cosan neste 2º semestre?
Quando olhamos para o 2º semestre de 2020, estamos olhando para uma performance do nosso portfólio que não é muito diferente do que era a expectativa dessa performance antes da covid-19. Claro, com as suas variações. Entre os segmentos, tem coisa que está indo melhor, tem coisa que está indo pior, mas quando olhamos o todo, nós realmente conseguimos nos estruturar para capturar a retomada de demanda, onde teve retomada de demanda, e novas oportunidades, onde teve novas oportunidades.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *