Não há voz do governo dentro da Petrobras mandando mexer no preço’, diz Prates

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O Globo

Em entrevista ao GLOBO, Jean Paul Prates defende sua política de “abrasileirar” preços de combustíveis para conciliar os interesses da Petrobras e do consumidor, define a exploração da Margem Equatorial “com comedimento” como decisiva para repor reservas de petróleo e delimita alvos internacionais.
Ele afirmou que a empresa está pronta para, até o fim do ano, apresentar um novo plano para responder ao desafio da transição energética sem tirar o foco da produção no pré-sal e na exploração de novas fronteiras petrolíferas para repor reservas.
O plano é investir em geração eólica no mar, na produção de hidrogênio e até na cadeia de eletrificação de veículos, incluindo suas baterias, revelou Prates:
— A primeira fase é buscar áreas com afinidade ao petróleo e gás e onde já temos proficiência. Esse anzol para o futuro já está jogado.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual é o plano da Petrobras para aumentar as reservas?
Além da produção do pré-sal, há as revitalizações de áreas (na Bacia de Campos) e a Margem Equatorial, que é um enorme nova fronteira. Vamos com comedimento ali. Vamos tatear aquele processo e buscar novas reservas de uma forma a repor as nossas, pois temos menos de 15 anos de reserva se mantivermos a produção no atual ritmo.
O senhor esteve recentemente na China. Qual é o plano na área internacional?
A Petrobras, do alto de seus 70 anos de história, vai buscar parceiros do mesmo nível que tenham equipamentos e métodos de produção que complementem. Um exemplo é o coprocessamento em refinaria com óleo vegetal. Mubadala é um. A China National Chemical Engineering (CNCEC) é outro. Outra coisa é o parceiro estratégico, como os que já temos em blocos do pré-sal, como CNOOC, CNPC e Petrochina.
Dessa parceria estratégica podem sair novas refinarias?
Não temos intenção de construir nova refinaria, mas pode ser o upgrade (ampliação) de uma. Na indústria petroquímica, o desenvolvimento de plástico verde e armazenamento de carbono. Pode ser desenvolvimento eventualmente de alguma coisa na área de armazenamento de energia, baterias e uso de minerais críticos. Pode se estender para muita coisa e não necessariamente para uma coisa que você já fazia. Na China todos fazem mais ou menos tudo. Não fomos lá só assinar e tomar chá.
E tem planos para colocar a Petrobras no Exterior?
O terceiro bloco das parcerias é internacionalização. E com muita parcimônia e sem exageros, sem parecer que estamos abandonando áreas no Brasil, porque temos essa prioridade. Mas existem novas fronteiras, como a costa da África, principalmente o ambiente atlântico, onde os chineses e empresas como Shell, Total e Equinor têm operado e se tornado protagonistas.
Então, também estamos nos juntando com elas e analisando oportunidades, revisitando desde Suriname até África do Sul, passando por Mauritânia e Angola. A Petrobras é uma empresa global. Ela precisa ser reconhecida mais ainda lá fora pelo consumidor normal e não apenas por especialistas.
Mesmo com troca de governo, o preço dos combustíveis é sempre um tema de discussão. Como resolver isso?
A celeuma sobre se a Petrobras está ou não segurando o preço será dirimida ao longo do tempo, quando a gente conseguir mostrar que, ao abrasileirar os preços, estamos praticando o preço do mercado brasileiro, constituído por produto produzido aqui e as importações. A mistura dessas coisas gera um preço abrasileirado.
A situação que a gente vivia era como se o país fosse importador de tudo. O PPI (paridade de preço com base na cotação internacional do petróleo e variação do dólar) imposto na porta da refinaria brasileira era tratar todo produto brasileiro como se ele tivesse acabado de chegar num navio da Alemanha.
Agora, é referência internacional, pois importamos. A gente não é isolado do mundo. A gente não pode ser a Venezuela e vender diesel a R$ 1. A Petrobras pode fazer o preço brasileiro porque tem o seu modelo de 70 mil variáveis de programação.
E o senhor acha que essa nova política deu certo?
Deu, pois a promessa era abrasileirar os preços.
Os reajustes têm sido mensais. Continua essa avaliação?
A avaliação não é por prazo. É por patamares de relevância e de consolidação de um preço novo. Muita gente nem acreditava que a gente fosse fazer um ajuste na magnitude que a gente acabou fazendo (em agosto, a estatal elevou a gasolina em 16% e o diesel em 25%).
O barril de petróleo Brent ultrapassou os US$ 90 e vai rumo aos US$ 100. O diesel teve tempestade perfeita, com parada de refinaria nos EUA, entre outros fatores. Aqui teve a reoneração (restabelecimento de impostos federais e estaduais sobre combustíveis).
Estamos pagando por uma crise atual e por uma crise do ano passado que o (ex-presidente Jair) Bolsonaro empurrou para agora. Ele simplisticamente retirou os impostos dos estados e retirou os impostos federais como se isso fosse solução para baratear qualquer produto no mercado.

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