Revista Nordeste
Quando o Fundo Mubadala adquiriu uma das mais antigas refinarias do Brasil, conhecida como Refinaria Landulpho Alves (RLAM) ou Refinaria de Mataripe, no município de São Francisco do Conde, na Bahia, em 2021, no valor de U$ 1,65 bilhão (R$ 8,25 bilhões), os embates foram muitos por parte da sociedade em geral.
A transação fez parte do plano de desinvestimento da Petrobras, que buscava focar em projetos de exploração e produção de petróleo e gás, principalmente no pré-sal, enquanto se desfazia de ativos não prioritários.
Controvérsias
sobre a Venda
À época, críticos levantaram preocupações sobre o impacto da privatização em um setor estratégico como o de refino de petróleo, temendo a criação de monopólios regionais e possível elevação de preços de combustíveis para o consumidor final.
Além disso, setores sindicais questionaram se a venda atenderia ao interesse nacional de longo prazo. Contudo, o Fundo Mubadala avançou, comprometendo-se a realizar investimentos robustos, e logo se revelaria o potencial inovador e sustentável de sua nova gestão, sob o comando da Acelen.
Em menos de três anos na Bahia, a Acelen investiu mais de R$ 2 bilhões em revitalização e recuperação da Refinaria de Mataripe. Foi implementado o maior programa de modernização da história da planta industrial, com foco na segurança e automação, ampliando a confiabilidade, eficiência, capacidade e diversificação produtiva, melhorando índices ambientais, eficiência hídrica e energética.
A Refinaria de Mataripe representa hoje cerca de 14% da capacidade de refino de petróleo do Brasil, sendo responsável pela produção de diversos derivados de petróleo, incluindo diesel e gasolina.
Fundo Mubadala:
Expansão e Inovação
Global
O Fundo Mubadala, sediado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, é um dos maiores fundos soberanos de investimentos do mundo, com um portfólio diversificado que inclui setores como energia, tecnologia, saúde e infraestrutura. Fundado em 2002, expõe entre suas missões a promoção do desenvolvimento econômico e a redução da dependência dos Emirados Árabes Unidos do petróleo, investindo em várias indústrias globais.
Entretanto, vale lembrar que, na época da compra da Mataripe pelo Fundo Mubadala, poucos apostariam que essa aquisição resultaria hoje em um inovador e inédito projeto focado na produção de combustíveis renováveis a partir da macaúba, uma planta nativa brasileira de alto poder energético, que é de 7 a 10 vezes mais produtiva por hectare plantado em comparação à soja.
Acelen e o Pioneirismo com a Macaúba
Por meio da Acelen Renováveis, a companhia investirá, inicialmente, em torno de US$ 3 bilhões (R$ 15 bilhões) na primeira unidade integrada para produção de combustíveis renováveis, HVO (Diesel Renovável) e SAF (Combustível Sustentável de Aviação), na Bahia, próxima à Refinaria de Mataripe. Sua localização estratégica se dá principalmente pela logística, com acesso facilitado pelo mar, o que permite o transporte eficiente de combustíveis, inclusive para exportação.
O projeto é pioneiro no Brasil e marca a utilização da macaúba como matéria-prima principal para a produção de biocombustíveis. A planta, além de altamente produtiva, tem maior resistência a condições climáticas adversas, como secas, podendo ser cultivada em áreas degradadas, o que a torna uma solução ambientalmente sustentável.
Neste momento, a Acelen está na fase final do projeto de engenharia da biorrefinaria. As obras devem começar em 2025, e a previsão é que a unidade entre em operação no início de 2027, segundo informações do COO, Marcelo Cordaro, à revista NORDESTE.
“O mundo reconhece o grande potencial agroindustrial do Brasil para produção dos biocombustíveis de última geração. À medida que a conscientização sobre as mudanças climáticas e a necessidade da transição energética aumenta, os investidores passam a priorizar mais as oportunidades de investimento sustentáveis e socialmente responsáveis”, comenta o executivo.
Neste cenário, Marcelo Cordaro ressalta que o relevante ciclo de investimentos verdes da Acelen Renováveis no país muda a perspectiva brasileira, a partir do projeto inédito de produção de 1 bilhão de litros, por ano, de SAF e HVO, derivado de óleo vegetal.
Em novembro, lembra o executivo, o Brasil defenderá no G20, entre líderes das maiores economias do mundo, a criação de padrões de sustentabilidade internacionais que reconheçam o valor da biomassa e dos biocombustíveis na transição energética global.
A Transformação do
Cenário Econômico e Social
Com um modelo integrado, maciços de macaúba (agrupamentos de árvores dessa espécie que ocorrem em áreas naturais) já foram mapeados e a Acelen busca uma fazenda piloto para o primeiro plantio em 2025.
O plantio será gradativo, ano a ano, até atingir 180 mil hectares em pastagens degradadas em Minas Gerais e na Bahia, e considera 20% dessas plantações em parceria com agricultura familiar e pequenos produtores. Esta inclusão visa criar um impacto social, promovendo o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade das comunidades rurais.
Além da parceria com pequenos produtores, a iniciativa envolve diversos parceiros como Embrapa, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Universidade Federal de Viçosa, entre outras instituições brasileiras e internacionais. A Petrobras também é uma das interessadas em realizar parceria com a biorrefinaria.
“Acreditamos que a combinação de inovação, pesquisa e uma equipe altamente qualificada, comprometida e experiente é exatamente um dos nossos grandes diferenciais para liderarmos a produção de combustíveis renováveis”, ressalta o COO da Acelen Renováveis.
Tecnologia e Inovação
a Serviço da
Sustentabilidade
Em Montes Claros (MG), o Acelen Agripark – Centro de Inovação Tecnológica Agroindustrial – será fundamental para o desenvolvimento do projeto com a germinação e produção de sementes e mudas de macaúba. Com uma área de 150 hectares, o Agripark será capaz de germinar 1,7 milhões de sementes por mês e produzir 10 milhões de mudas por ano.
São 250 milhões de reais para todo o programa de P&D da Acelen, o que inclui o Acelen Agripark. Esse valor está em fase final de financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A biorrefinaria contará com tecnologia 4.0 e 5.0, integrando IoT (Internet das Coisas) e automação para monitorar cada etapa do processo produtivo, desde o cultivo até o refino. Isso permitirá uma rastreabilidade completa da origem da semente ao combustível, maior segurança na redução de poluentes e eficiência no consumo de recursos como água e energia.
“Criamos um ecossistema robusto e integrado de parceiros dedicados a fomentar conhecimento e inovação, com o foco em desenvolver a cultura da macaúba, desde a germinação até a produção em larga escala”, disse à NORDESTE, Marcelo Cordaro.
A biorrefinaria vai utilizar a tecnologia HEFA (Hydroprocessed Esters and Fat Acids), que transforma óleos vegetais em combustível renovável de aviação ou diesel renovável. A planta terá capacidade de produzir 20 mil barris de combustível verde por dia, ou 1 bilhão de litros anuais.
Impacto Ambiental e
Redução de CO2
Os combustíveis produzidos pela Acelen serão totalmente drop-in, ou seja, podem substituir os combustíveis fósseis sem necessidade de adaptações nos motores. O potencial de redução de emissões de CO2 é significativo, estimado em até 80% em comparação aos combustíveis convencionais, segundo a empresa. “Isso alinha a Acelen com as metas globais de descarbonização”, complementa Marcelo Cordaro.
Além da geração de mais de 90 mil empregos diretos e indiretos para a implementação dessa nova cadeia produtiva, o impacto econômico esperado é da ordem de US$ 16 bilhões (R$ 80 bilhões), com potencial de transformar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das regiões envolvidas e promover a redução da pobreza.
A Riqueza Nativa da
Macaúba
Estudos indicam que a macaúba tem um potencial produtivo superior ao da soja em termos de biocombustíveis. Comparada à soja, a macaúba gera de 7 a 10 vezes mais óleo por hectare e pode ser cultivada em áreas degradadas, tornando-a uma alternativa ambientalmente vantajosa.
Embora a soja já seja amplamente utilizada como matéria-prima, a macaúba desponta como uma solução mais sustentável e de maior produtividade a longo prazo, especialmente em um cenário de crescente demanda por combustíveis renováveis.
Saiba Mais sobre os
investimentos da Acelen
Acelen é uma empresa de energia criada pelo fundo Mubadala Capital. Hoje, a empresa é composta por três negócios. O primeiro, a Refinaria de Mataripe, adquirida no processo de desinvestimento de refinarias da Petrobras.
A Acelen Renováveis, start up em desenvolvimento para produção de combustíveis renováveis a partir da macaúba. E, por último, um complexo solar por meio de uma joint venture com a Perfin Infra Administração de Recursos e a Illian Energias Renováveis para construção de um parque com 161 MW de potência no Semiárido baiano. A joint venture foi consolidada em julho deste ano
O empreendimento vai mitigar 128 mil toneladas de CO2 por ano, e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região com a criação de 530 vagas no mercado de trabalho. Além de atender a própria demanda de energia elétrica, a companhia avança em suas metas de descarbonização.
Incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e com financiamento do BNDES, o complexo solar tem o aporte de cerca de R$530 milhões em investimentos.