Folha de São Paulo – Editorial
O reajuste de preços da gasolina e do gás de cozinha, promovido pela Petrobras na semana que passou, é um sinal importante de que o governo petista e a nova direção da companhia reconhecem ser limitado o espaço para desvios em relação às cotações internacionais. Há limites, por o que se vê, ao intervencionismo populista.
Os aumentos de 7,1% e 9,8% para os dois produtos, respectivamente, favorecem a rentabilidade e a boa gestão operacional da estatal.
A correção ainda não elimina a defasagem ante os preços externos, que permanece em torno de 10% no caso da gasolina e de 8% no diesel. Ainda assim, não se chega a repetir o controle artificial imposto em governos passados, sobretudo sob Dilma Rousseff (PT).
Naquela ocasião, a empresa foi forçada a vender combustíveis abaixo do custo, com enormes prejuízos, um dos motivos para a disparada de seu endividamento. Desde então houve sensíveis melhorias na governança, e hoje o estatuto da Petrobras proíbe subsídios sem que haja aprovação em lei e compensação por meio de recursos do Orçamento federal.
O tema, contudo, é apenas uma das preocupações envolvendo a companhia. Ainda está em aberto a volta de aventuras perdulárias do passado, casos de refinarias inacabadas e de investimentos em tecnologias arriscadas, como a geração eólica em alto mar.
Um sinal disso é a retomada da aquisição de embarcações para transportes de combustíveis, em vez de afretá-las de terceiros. A construção de navios-sonda foi objeto de escândalos e prejuízos, como na Sete Brasil.
A Petrobras lançou edital para a contratação de quatro deles por meio de sua subsidiaria Transpetro, notória por casos passados de corrupção. Até aqui, ao menos, não há a exigência de conteúdo local, o que ocasionaria custos maiores.
As contratações fazem parte de um programa para adquirir 25 embarcações com custo de até US$ 2,5 bilhões. Ainda há grande pressão para que sejam resgatadas as preferências locais, uma repetição das muitas tentativas frustradas de viabilizar estaleiros nacionais.
Outro risco é a abertura da atual gestão a indicações políticas e sindicais, que vão sendo colocadas em cargos importantes, como a gerência de campos de exploração.
É típico de processos desse tipo que leve algum tempo até que as novas influências consigam suplantar as regras de governança, mas o passado petista não autoriza otimismo a esse respeito.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) persiste no objetivo de fazer novamente da Petrobras o principal veículo de investimentos politicamente dirigidos. Em que pesem a evolução das normas internas e a atenção maior dos órgãos de controle, todo cuidado é pouco.