Valor Econômico
O consumo de gasolina tende a cair e a demanda por etanol aumentar na década de 2020, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
De acordo com o Plano Decenal de Energia 2030, colocado em consulta pública pela estatal, o consumo do setor de transportes aumentará, em média, 1,9% ao ano entre 2019 e 2030.
A demanda por gasolina deve recuar de 27 mil toneladas equivalentes de petróleo (tep) em 2019 para 24 mil tep em 2024 e 26 mil tep em 2030. Já o consumo de etanol hidratado deve subir de 12 mil tep em 2019 para 14 mil tep em 2024 e 17 mil tep em 2030. O diesel, por sua vez, crescerá de 39 mil tep para 45 mil tep e 53 mil tep na mesma base de comparação.
A EPE estima que o diesel representará 35% da demanda do setor de transporte em 2030, um pequeno incremento quando comparado aos 34% de 2019. Já a gasolina perderá importância, de 32% para 25% no horizonte avaliado, enquanto o etanol aumentará a sua participação dos 14,1% para 16,3%.
A demanda de eletricidade no transporte, apesar da taxa de crescimento elevada (2,5% ao ano), não constitui demanda expressiva: apenas 0,25 mil tep ou 0,2% da demanda do setor em 2030.
Exportações
Segundo ainda estimativas da EPE, metade da produção nacional de petróleo será exportada em 2021. De acordo com o Plano Decenal de Energia 2030, a relação entre exportações de óleo bruto e a produção nacional crescerá gradualmente nos próximos dez anos, dos 42% em 2019 para 50% em 2021 e 65% em 2030.
A previsão é que os embarques para o exterior totalizem 1,63 milhão de barris/dia em 2021 e 3,43 milhões de barris/dia em 2030.
“Esse volume expressivo poderá alçar o Brasil como um dos cinco maiores exportadores do mundo, o que elevaria a importância e relevância do país no quadro geopolítico da indústria mundial do petróleo”, cita o PDE.
Mesmo com o processo de abertura do refino no Brasil, a EPE não estima “investimentos significativos na expansão da capacidade de refino” até 2030.
A estatal projeta, contudo, ampliações de pequeno porte nas refinarias existentes, de forma a adequar o parque nacional à demanda crescente de combustíveis de baixo teor de enxofre.
O fator de utilização do parque nacional de refino, porém, deve crescer nos próximos dez anos, de 75% em 2019 para 83% em 2030.
Hidrelétricas
O Brasil não deve ter novas usinas hidrelétricas entrando em operação nos próximos dez anos, segundo projeções do Plano Decenal de Energia 2030 da EPE.
De acordo com a estatal, os prazos para a obtenção de licenças ambientais para novas hidrelétricas têm impactado a viabilização dos empreendimentos e afetado a competitividade da fonte frente a outras tecnologias. Ainda assim, a participação hidrelétrica na matriz se mantém praticamente inalterada no horizonte do plano, saindo de uma fatia de 63% de participação na capacidade instalada contratada para o Sistema Interligado Nacional (SIN) em dezembro de 2020 para 64% em dezembro de 2030.
O PDE prevê que cerca de 10% da expansão elétrica nacional na próxima década virá da modernização de usinas hidrelétricas existentes, ou seja, aumento da capacidade do sistema sem construir novas usinas, além do melhor aproveitamento dos recursos hídricos, com a maior eficiência da geração hidrelétrica.
A EPE destaca, no entanto, dois projetos que podem ser atrativos para o sistema nacional, caso sigam adiante: a UHE Tabajara, em Rondônia, e a UHE Bem Querer, em Roraima. A primeira tem potência de 400 megawatts (MW) e só deve entrar em operação após 2029, enquanto a segunda tem 650MW e está prevista somente para depois do horizonte de 2030.
Fontes renováveis
A geração de energia a partir das fontes solar e eólica deve ganhar espaço na matriz elétrica nacional ao longo da próxima década, de acordo com projeções do PDE. As fontes devem sair de uma participação de 11% na capacidade instalada contratada para o Sistema Interligado Nacional (SIN) em dezembro de 2020 para 15% ao final de 2030. Juntas, solar e eólica devem acrescentar 6 gigawatts (GW) de geração centralizada na capacidade instalada contratada para o SIN no período.
As fontes também devem ser responsáveis pelos maiores aumentos na oferta de energia elétrica no período, com uma expansão de 16,4 GW vindo de empreendimentos eólicos e 5,3 GW de projetos fotovoltaicos até 2030.
De acordo com a EPE, o crescimento da participação das renováveis na matriz vai gerar necessidade de expansão do sistema de transmissão para ampliar a capacidade de escoamento e de troca de suprimento entre as regiões. A expansão da transmissão para os próximos dez anos prevê investimentos de R$ 89,6 bilhões para a implantação de 37,4 mil quilômetros de linhas, um aumento de 24% na extensão do sistema.
No documento, a EPE projeta que uma segunda onda da pandemia de covid-19 pode levar a um crescimento mais lento da demanda de energia elétrica brasileira na próxima década. O prolongamento da crise sanitária pode levar a uma taxa média de crescimento de consumo de 2,9% ao ano entre 2020 e 2030, com a carga nacional chegando a 84,4 MW médios ao final do período.
Por outro lado, uma maior efetividade das políticas de combate à crise do novo coronavírus poderia levar a uma alta anual de 4,2%, o que levaria a carga a 100,4 MW médios em 2030. O cenário de referência adotado pela estatal considera uma carga de 93,8 MW médios ao fim da década.