Etanol, solução brasileira para a transição energética do mundo

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Estadão

Enquanto o mundo procura novos caminhos para a transição da matriz energética, o Brasil já tem uma solução para ser utilizada em larga escala global. O etanol pode se tornar o “novo petróleo”, considerando-se o enorme potencial que oferece para contemplar crescentes demandas por uma mobilidade mais sustentável com a redução nas emissões de carbono. “Ao contrário da maioria dos países, podemos expandir a nossa produção de bioenergia sem ocupar áreas de florestas e sem prejudicar a produção de alimentos”, avalia Davi Bomtempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Nosso potencial é enorme, apenas com o aumento da produtividade.”

Na safra 2023/2024, a área ocupada pela cana-de-açúcar no território brasileiro permaneceu no patamar do ciclo anterior, 8,3 milhões de hectares, mas a produção subiu quase 7%. A produtividade média saltou de 73.655 para 78.779 quilos por hectare, de acordo com dados da Federação da Agricultura e Pecuária de São Paulo (Faesp). A safra resultará em 27,7 bilhões de litros de etanol de cana-de-açúcar, crescimento de 4,5% em relação à marca anterior.

Mobilidade sustentável

Além da expansão do uso de etanol, uma das possibilidades para a mobilidade mais sustentável é o desenvolvimento de veículos elétricos híbridos, com motores movidos a biocombustível. “A distribuição de estações de recarga de veículos elétricos é um desafio para todos os países. No Brasil, por conta de suas dimensões continentais e distribuição desuniforme de sua população, esse desafio é maior ainda”, lembra Bomtempo. “Paralelamente, temos a melhor tecnologia de veículos flex do mundo e uma cadeia estruturada para produção de etanol. Essas condições fazem com que a solução híbrida seja ideal, conseguindo potencializar todas nossas vantagens comparativas, inclusive nossa matriz de energia elétrica com alta participação de renováveis.”

Outro ponto relevante é que, considerando-se o ciclo completo de produção, o etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil apresenta menor pegada de carbono, se comparado à eletrificação, por exemplo, em função das práticas de economia circular do início ao fim do processo, com reaproveitamento integral da matéria-prima, da palha ao bagaço. Já o carro elétrico pode causar um impacto ambiental um pouco maior, principalmente quando se considera a fonte de energia utilizada para recarga das baterias, que, em muitos lugares do mundo, pode não ser limpa. Considerando-se todas essas circunstâncias, abastecer o tanque com etanol obtido da cana-de-açúcar emite apenas 37g de CO2/km. Na Europa, com o atual perfil de geração de energia para recarregar a bateria, um carro elétrico de mesmo porte emite 54g de CO2/km.

Brasil na linha de frente

“O Brasil tem muito potencial para ser um dos líderes nesse mercado tão promissor, mas ainda é preciso fortalecer políticas públicas de incentivo e planejamento para um maior estímulo tanto para a produção quanto para a troca da frota de veículos para os modelos flex”, diz Bruno Serapião, CEO da Atvos. A empresa está se posicionando como uma plataforma global de biocombustíveis, com grande apoio do Mubadala Capital, uma companhia global de gestão de ativos com sede em Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos.

“A empresa tem capacidade para produzir 2,9 bilhões de litros de etanol por safra, o suficiente para abastecer 58 milhões de carros compactos, além de gerar 3,9 mil gigawatts-hora de energia elétrica limpa para iluminar cidades inteiras. Também é uma das maiores emissoras de Créditos de Descarbonização (CBIOs) do País, com potencial de emitir mais de 2 milhões de títulos por ciclo. Mas podemos ir além, inclusive iniciando as exportações de etanol no médio prazo”, descreve o executivo. Com 10 mil colaboradores nas unidades agroindustriais localizadas em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a Atvos prevê investimentos de R$ 4,6 bilhões nos próximos três anos, sendo R$ 1,6 bilhão ainda na safra 2023/2024.

Além disso, a Atvos também deve iniciar nas próximas safras a produção de etanol de milho, aproveitando a infraestrutura instalada já existente de suas atuais unidades industriais. Outra iminente frente de atuação está no biometano, que poderá ser produzido a partir da palha dos canaviais e da vinhaça, um subproduto resultante do processo produtivo e que hoje é amplamente utilizado na fertirrigação. A companhia também almeja, em um horizonte um pouco mais à frente, o início da produção de SAF (combustível sustentável de aviação — na sigla em inglês), que se apresenta como uma das soluções mais inteligentes do mercado para substituir o querosene de aviação. Essa soma de iniciativas certamente posicionará a Atvos como uma das protagonistas na missão de construir um futuro mais sustentável.

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