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Valor Econômico

A produção de etanol a partir do milho, comum nos Estados Unidos, tem ganhado força no Brasil nos últimos anos, onde o biocombustível ainda é majoritariamente oriundo da cana-de-açúcar. A oferta abundante de milho principalmente no Centro-Oeste e o aumento da demanda global por energias renováveis têm impulsionado o setor no Brasil.

O etanol de milho está no foco de uma mobilização para a criação de uma nova entidade – o Instituto Brasileiro de Energias Renováveis e Segurança Alimentar -, que tem na liderança produtores de grãos e entusiastas do tema, como a ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Kátia Abreu.

Hoje, 15% do etanol produzido no país tem como matéria-prima o milho, segundo a União Nacional da Bioenergia. Mas o avanço na produção do grão indica que a fatia pode aumentar. Inicialmente, as usinas que utilizam o milho como matéria-prima se instalaram no Centro-Oeste, devido à grande disponibilidade do grão. Mas, recentemente surgiram projetos também no Sul. Segundo projeção da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a produção brasileira de etanol de milho alcançará 6 bilhões de litros na safra 2023/2024. Isso representa alta de 36% em relação ao ciclo anterior e de 800% nos últimos cinco anos.

O Brasil é o terceiro maior produtor de milho, atrás de China e EUA. A produção subiu de 42,5 milhões de toneladas na safra 2005/2006 para 131,9 milhões de toneladas no ciclo 2022/2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ainda que reconheçam o etanol de milho como uma alternativa ao combustível fóssil, há receio entre alguns ambientalistas e organizações da sociedade civil em relação a potenciais impactos socioambientais caso as lavouras avancem em regiões como Amazônia e Cerrado, para atender a demanda para produção do biocombustível.
Para Kátia Abreu, porém, é possível expandir a produção sem desmatamento. “Basta fertilizar as áreas que já temos”. Além disso, diz, como a produção de milho tem aumentado nos últimos anos não há por que temer risco de disputa de espaço entre combustível e cultivo de alimentos.

Segundo especialistas do setor, no Brasil, a produção do etanol de milho se diferencia de outros países por utilizar o grão cultivado na chamada segunda safra. O milho é plantado depois que a soja da safra de verão é colhida. Isso evita a competição com a produção de alimentos.

Kátia Abreu destacou a questão da segurança alimentar em apresentação, este mês, em Shenzhen, na China, durante o Brazil, China Meeting, uma iniciativa do Valor e Lide, com apoio institucional de “O Globo” e CBN.

Em sua defesa do etanol de milho, acrescentou que o biocombustível agrega valor, pois também gera subprodutos. Para a produção do etanol utiliza-se o amido. No fim do ciclo industrial, proteínas e fibras são transformados em DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis, na sigla em inglês), usados como ração animal altamente proteica.

Hoje, concentrada em Goiás e Mato Grosso, a capacidade produtiva do etanol de milho cresce com a chegada de novas usinas e a expansão das existentes. Em novembro, a FS, uma das maiores do país, anunciou o aumento de capacidade em Primavera do Leste (MT) e neste mês, a gaúcha 3Tentos anunciou investimento de R$ 2 bilhões até 2030, dos quais metade será direcionada à sua estreia no mercado de etanol de milho.

Um dos objetivos do instituto de energias renováveis será ampliar o relacionamento do setor com o governo. Segundo Kátia Abreu, a opção de agregar valor à produção de milho por meio do biocombustível é um processo ainda caro, que requer a participação do Estado.

Ela aponta ainda outro tema que requer atenção do governo: a alta dependência da importação de fertilizantes da Rússia e da Ucrânia, envolvidos em conflito há quase dois anos. “Criar subvenção para a produção é questão de segurança e precisa se transformar em interesse nacional”, diz.

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