Valor Econômico
No ano passado, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou o “programa para uso sustentável do carvão mineral nacional”, que tem como um dos focos a continuidade da atividade de mineração de carvão na região Sul. O objetivo é auxiliar na manutenção da atividade econômica da indústria carbonífera. A estimativa é que o programa possa trazer investimentos da ordem de R$ 20 bilhões em dez anos, e criar 5 mil empregos diretos na substituição de usinas termelétricas, além de outros 600 na operação das minas.
As mudanças na matriz elétrica têm impactos imediatos principalmente para comunidades que habitam no entorno das usinas e das minas de carvão. De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico sustentável de Santa Catarina, Luciano Buligon, a interrupção abrupta da geração na usina Jorge Lacerda “seria como se uma guerra acontecesse” na região, com impactos em 600 mil pessoas e 15 municípios. “Ao todo, R$ 5 bilhões seriam retirados da economia do Estado abruptamente [com o fim do contrato da térmica] e perderíamos 15 mil empregos. Seria uma verdadeira tragédia. Não podemos abrir mão disso de maneira nenhuma”, diz.
Defensores da fonte argumentam que o setor pode sobreviver se adotar tecnologias para mitigar ou impedir as emissões. Segundo eles, o carvão é importante para garantir a segurança do suprimento de energia, pois haverá necessidade de uso de térmicas despacháveis para compensar o crescimento nos próximos anos das fontes renováveis que, em sua maioria, dependem de boas condições climáticas para gerar energia. Além disso, dizem, o carvão produzido nacionalmente gera eletricidade mais barata do que o gás natural e o diesel, cujos preços são cotados no mercado internacional.
O professor de engenharia de energia e mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Schneider, diz que deveria haver maior colaboração entre agências nacionais reguladoras e os organismos de meio ambiente, além dos governos estaduais e federal, na elaboração de planos de transição energética. “Deve-se buscar redirecionar essas regiões para outras atividades. Para o carvão, o bonde da história passou, mas a região Sul não está preparada para o baque. A geração a carvão é uma atividade industrial, cria empregos diretos e indiretos, tem funcionários especializados, fornecedores, prestadores de serviços, tudo isso vai desaparecer”, diz.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm se movimentado em busca de novos investimentos com a transição. Em 2021, ambos Estados enviaram delegações à Conferência do Clima (COP 26).
Em janeiro, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (sem partido), sancionou a lei que institui uma política estadual de transição energética. O objetivo é atrair investimentos principalmente para a área de gás natural, menos poluente do que o carvão. Uma das apostas está na construção do Terminal Gás Sul na Baía de Babitonga (SC), que terá uma unidade de armazenamento e regaseificação flutuante de gás, projeto conduzido pela New Fortress Energy.
O secretário catarinense cita ainda alternativas para a descarbonização da geração a carvão. O governo estadual apoia o Centro de Inovação de Criciúma, ligado à Universidade do Extremo Sul Catarinense, em pesquisas sobre projetos de armazenamento e captura de carbono. Fora do setor de energia, Buligon vê potencial para fomento ao turismo como fonte de renda nas regiões de exploração do carvão, que têm uma história ligada à imigração europeia.
Já o Rio Grande do Sul assumiu o compromisso de acabar com as emissões de carbono até 2050. Este mês, o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), teve conversas com o embaixador da Noruega no Brasil, Odd Magne Rudd, em busca da atração de investimentos de hidrogênio verde. Em nota, a secretaria do meio ambiente e infraestrutura gaúcha disse que a transição energética será gradual. “O Estado deverá capacitar e criar meios, no decorrer da transição, para que a população possa se voltar a outras atividades”, disse.