G1
Recuo pode atrasar queda nos preços do biocombustível, avalia consultor em agronegócios. Depois de chegar a R$ 4,00, produto baixou nos postos, mas preço se manteve em patamares superiores aos de 2020.
Com recuo na moagem e na qualidade da matéria-prima, a safra da cana-de-açúcar 2021/2022 começou mais lenta com uma queda de 25% na produção de etanol na região Centro-Sul do país, apontam números divulgados nesta terça-feira (27) pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Segundo o acompanhamento periódico, as usinas produziram na primeira quinzena de abril um total de 730,5 milhões de litros do biocombustível contra 986 milhões registrados no mesmo período do ano passado.
Nesse contexto, a queda de preços nos postos, geralmente esperada com o início da safra, deve demorar a chegar com a menor oferta do produto e pode começar a ser percebida pelos consumidores somente entre o final de maio e o início de junho, projeta o consultor em agronegócios José Carlos de Lima Junior.
“Aquela queda natural do litro do etanol que nós observamos no início de toda safra geralmente já estaria acontecendo em abril se a safra tivesse começado com todas as unidades no mesmo período que é final de março, começo de abril. Então, na primeira semana de maio já teria uma queda nos preços do etanol, coisa que, com essa baixa moagem, vai jogar um pouco mais pra frente”, analisa.
Em Ribeirão Preto (SP), no centro de uma das principais regiões produtoras de etanol do país, o litro do combustível hidratado chegou a custar R$ 4,00 na entressafra e agora registra um preço médio de R$ 3,48, segundo dados mais recentes da Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis (ANP), ainda assim em patamar superior ao registrado no ano passado.
Ainda que mais caro, o combustível teve alta de quase 20% nas vendas por parte das usinas na primeira quinzena de abril em todo o Centro-Sul, principalmente graças ao aumento do consumo no mercado interno.
Safra começa mais lenta
Dados divulgados pela Unica mostram que o Centro-Sul começou a safra 2021/2022 com um processamento de 15,63 milhões de toneladas de cana em 15 dias, 30,57% a menos do que no ano passado, com um recuo não só no etanol, como também no açúcar, na ordem de 35,7% em relação ao ano passado.
De acordo com a entidade, a queda da moagem está associada ao menor número de usinas que iniciaram os trabalhos em abril – 147 contra 180 um ano antes. Essa diferença se deu, segundo a Unica, em função do adiamento adotado por parte das empresas. Apesar de o clima seco favorecer a colheita mecanizada, o desenvolvimento da lavoura foi prejudicado pelo período prolongado de estiagem.
Além disso, houve baixa de 3,6% na qualidade da matéria-prima: cada tonelada rendeu 108,73 quilos de açúcares totais recuperáveis por tonelada de cana, enquanto que, no início de 2020, rendia 112,81 quilos.
Segundo Lima Junior, essa queda na produtividade já era esperada, como consequência de um regime de chuvas abaixo da média e de um menor montante de investimentos por parte dos produtores no ano passado.
“A própria disparada do dólar e a baixa atratividade da produção de cana fizeram com que muitos produtores ou fornecedores de cana não investissem em vários insumos na produção agrícola, então você já tem histórico de problema de clima associado a baixo investimento com alguns insumos necessários que foram encarecidos”, explica.
O cenário ainda marcado pela pandemia, por chuvas irregulares e pelo atraso no início das atividades foi mencionado por especialistas do setor em março, quando projetaram uma moagem menor para o ciclo 2021/2022, bem como uma diminuição na produção de etanol.
Segundo projeções da Datagro, a safra deve chegar a um total de 586 milhões de toneladas, abaixo dos 605,4 milhões de toneladas concretizados até o final de março, com baixas acima de 4% na produção de açúcar e etanol.