Correio da Bahia
Desde que a Acelen assumiu as operações na refinaria baiana, produção vem em um crescente
Donaldson Gomes@donaldsongomes
Em 10 meses de operação, a Acelen registra um aumento de 20% na produção da Refinaria de Mataripe. E segundo Marcelo Lyra, vice-presidente da Acelen, esse desempenho deverá ser ainda melhor assim que a empresa concluir os investimentos necessários para operar com uma capacidade maior e a segurança necessária. Segundo o executivo, o refino de petróleo, apesar de carro-chefe e cartão de visitas da empresa, está longe de ser o único investimento previsto por aqui. Ele aponta tanto a possibilidade de aquisições ou operações greenfield, iniciadas a partir do zero. Lyra apresenta as ações da empresa relacionadas à agenda ESG e, sem perda de tempo, indica a prioridade social da Acelen: “Nós iremos trabalhar com muita firmeza na área educacional”.
Quem é
Marcelo Lyra trabalha a mais de 25 anos nos setores petroquímicos, de mídia e comunicação e em holdings com atuação multisetorial. Foi vice-presidente e diretor de empresas nacionais e multinacionais, nas áreas de relações institucionais, sustentabilidade, comunicação e de negócios. Tem ampla experiência em gestão de crise e reputação corporativa, construção de marcas, estratégias de posicionamento institucional, competitividade setorial e ambientes regulatórios. Lyra é formado em Engenharia Eletrônica com ênfase em Telecomunicações e tem pós-graduação em General Management pela Harvard Business School.
Vocês se aproximam de completar o primeiro ano na operação da Refinaria de Mataripe. O que vocês destacam entre as transformações mais importantes neste período?
Eu acho que temos alguns marcos importantes. Vou começar pela produção. A refinaria operava com a Petrobras numa média de 205 mil barris por dia nos últimos quatro anos. A gente elevou isso para 255 mil, com picos de 280 mil. E por que não fixamos em 280 mil? Porque a estrutura ainda não nos dá condições para fazer isso de forma firme. Os investimentos que estamos fazendo irão permitir isso. Hoje até chegamos, mas não conseguimos sustentar. De todo modo, já estamos em um patamar que é mais de 20% superior. Já batemos recorde de produção de diesel, gasolina, asfalto, foram vários recordes. A produção de asfalto aumentou em quase 90% em setembro.
Quando você fala em produção, trata-se de algo bastante palpável.
Além disso, já lançamos três novos produtos, com destaque para um propeno especial que atende à indústrias de aerossóis, que ainda é largamente importado da Bolívia. Nós estamos agregando valor e substituindo importações. E ainda temos três novidades para apresentar em breve. Estamos trabalhando também com iniciativas relacionadas a produtos oriundos de reciclagem ou que eram resíduos. No campo de produção, entendemos que já temos o que mostrar. É diferente ter uma empresa focada numa refinaria com outra que tem um conjunto de estruturas para investir. Para dar firmeza aos nossos planos, estamos fazendo um investimento numa parada de manutenção. Paramos uma unidade importante, estamos praticamente reconstruindo ela. E temos um investimento grande, de quase R$ 600 milhões, começando agora. O objetivo é justamente gerar essa firmeza, nos dar confiabilidade, mas também pela necessidade de fazer uma série de investimentos na área ambiental.
O que está sendo pensado nessa área?
Vamos fazer uma redução significativa na emissão de particulados. São movimentos muito importantes.
O que são particulados?
Quando a unidade industrial emite fumaça, ali sai o vapor e partículas de outras substâncias. O que estamos fazendo é garantir que a fumaça seja muito mais vapor que partículas. É um movimento importante e focado na qualidade ambiental.
Qual é o impacto da refinaria no entorno dela hoje e o que se espera para o futuro neste sentido?
Do ponto de vista ambiental, essas melhorias de processos que estamos fazendo têm alguns impactos significativos. Por exemplo, vamos conseguir uma redução do consumo de energia por tonelada de produtos em cerca de 12%. Reduções de emissões no flair de 2 mil toneladas de CO2. Fizemos uma mudança nos nossos processos em que reduzimos em 92% as emissões de enxofre, que agora vai se transformar em um produto. Também tivemos uma diminuição no consumo de água em 10%. Agora, na questão social, temos um impacto importante na geração de empregos. No caso da parada de manutenção, vamos chegar a mais de quatro mil empregos diretos no pico de operação (iniciado entre meados de outubro e o final de novembro). Fizemos um trabalho para tentar trazer o máximo de pessoas do próprio entorno. Investimentos em centros de treinamento e qualificação para profissões voltadas a essas atividades. Eu não posso usar o termo universidade corporativa porque ainda precisamos crescer bastante antes, mas já estamos qualificando a turma. Fizemos um convênio com o Cimatec para turmas de qualificação no refino de petróleo. E, numa parceria com a Fundação Banco do Brasil, numa política onde cada Real investido por nós eles colocam mais um Real, estamos investindo na qualificação de jovens em situação de vulnerabilidade e de jovens de modo geral.
Qual é o centro da atuação social de vocês?
Nós entendemos que a educação é o nosso pilar principal, tanto a profissional quanto a básica mesmo. Neste sentido, fizemos uma parceria com a Fundação Irmã Dulce e adotamos duas turmas de crianças para que elas continuem recebendo todo o suporte e o carinho da Osid. No começo, fizemos algumas coisas mais emergenciais, mas nosso foco é ajudar na área educacional dos municípios. Tem uma coisa importante que eu queria enfatizar, estamos fazendo a reativação dos conselhos comunitários consultivos. É um canal direto conosco, tanto para questões de vizinhança, mas também para qualquer demanda futura.
Como está sendo o processo de aproximação a essas comunidades?
Está dando um pouquinho de trabalho porque as pessoas estão ressabiadas e acham que estamos entrando para agir da mesma forma que antes. Nós estamos dispostos a provar que iremos atuar de maneira diferente, ao mesmo tempo em que acabamos sendo cobrados por necessidades sérias e urgentes, que são atribuições de governo. Não dá para resolvermos tudo, mas fazemos o que está ao nosso alcance.
Como vocês planejam o futuro em relação à transição energética?
A Acelen foi criada com o propósito de ser uma empresa de energia, de ser um ator importante na transição energética do Brasil. Nós esperamos que o investimento na refinaria gere um fluxo de caixa para acelerarmos nossos investimentos na transição energética. Este é o conceito. Mataripe é o nosso primeiro ativo, esta é a nossa proposta. Temos analisado tanto aquisições, quando investimentos para a produção de energia renovável, falando tanto em relação a combustível, quando energia mesmo, solar, eólica. A ideia da empresa é construir um portifólio em que a energia fóssil seja um acelerador dos negócios na área de transição energética. Não dá para falar muito mais além disso porque ou as conversas estão acontecendo ou os projetos greenfield ainda estão em fases embrionárias. Mas certamente teremos novidades nessa área.
O Agenda Bahia 2022 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Acelen e Unipar, parceria da Braskem e Rede+, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Fieb, Sebrae, Rede Bahia e GFM 90,1 e Apoio da Suzano, Wilson Sons, Unifacs, HELA, Socializa e Yazo.