Eletrificação com etanol precisa vencer custo e tecnologia

América Latina enfrenta retração na demanda por gasolina
09/09/2021
Bolsonaro faz apelo, mas caminhoneiros que apoiam o presidente mantêm bloqueios em 16 estados
09/09/2021
Mostrar tudo

EPBR

Aposta de países europeus, Estados Unidos e China para descarbonizar o setor de transportes, a eletrificação deve ocorrer de forma mais lenta no Brasil. Por aqui, o governo tem sinalizado que a solução terá que passar pelos biocombustíveis — e parte do mercado começa a orientar seus investimentos nesta direção.
“Ainda existe um desafio tecnológico [para a célula a etanol], porque tem que ser algo comprimido, pequeno, que possa se adequar ao carro”, conta Priscilla Cortezze, diretora de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Volkswagen em entrevista à epbr.
Priscilla explica que é importante que a tecnologia consiga se adequar aos modelos de veículos que já existem hoje e o Centro de P&D de Biocombustíveis em estudo pela companhia tem essa premissa.
“Nós não vamos produzir um veículo especialmente para rodar com etanol. Temos que adaptar essa vanguarda de tecnologias ao que já temos hoje”, completa.
Recentemente, a montadora anunciou um Centro de P&D de Biocombustíveis no Brasil.
A proposta é pesquisar fronteiras do uso do etanol como modelo de eletrificação via célula a combustível, com foco também na exportação.
Mundialmente, o grupo alemão vai investir 14 bilhões de euros no programa Way to Zero, um pacote de medidas para acelerar a descarbonização da empresa e dos seus carros.
Parte da estratégia é a eletrificação acelerada, que deve acontecer com mais força na Europa.
A meta é que em 2030 mais de 70% dos carros vendidos pela companhia no continente sejam elétricos. Nos Estados Unidos e China, a meta para 2030 é de 40%.
Já em países emergentes, como o Brasil, a aceitação dos elétricos deve ser diferente e o plano é se adaptar.
Entre os desafios estão os investimentos necessários em infraestrutura de recarga, garantir que a matriz elétrica seja renovável, o custo dos veículos e a manutenção.
“Talvez não alcancemos essas mesmas porcentagens da Europa e Estados Unidos, mas a eletrificação da frota também vai acontecer no Brasil, só que por meio de tecnologias com o etanol”.
De acordo com Priscilla, há um alinhamento de que o etanol é uma estratégia complementar já existente.
“Por isso, a nossa estratégia é desenvolver tecnologias a partir do etanol como combustível além do que a gente tem hoje”, destaca.
Extremos climáticos encarecem etanol
Além de vencer barreiras tecnológicas, a aposta na dobradinha eletrificação e biocombustíveis como solução de baixo carbono tem pela frente uma corrida contra o tempo.
Eventos climáticos extremos cada vez mais recorrentes já afetam a safra brasileira de cana-de-açúcar, principal matéria-prima para produção do etanol brasileiro.
“A quebra da safra de cana-de-açúcar no Centro Sul este ano expõe as fragilidades e desafios da dependência de insumos agrícolas para reduzir emissões de carbono globalmente”, avaliou Beatriz Pupo, analista sênior de Biocombustíveis da S&P Global Platts Analytics, durante a Rio Energy Virtual Forum.
Segundo a especialista, a expectativa de que essas adversidades climáticas se tornem uma norma desafiam a disponibilidade de matéria-prima e apontam para a necessidade de diversificação, tanto de matérias-primas quanto de novas tecnologias.
Estimativa da S&P Global Platts mostra que a disponibilidade de cana deve ser reduzida para 522 milhões de toneladas na safra 2021/2022 – o menor nível desde 2011.
“Isso é devido à prolongada estiagem que a gente teve, a pior em quase um século, e as séries consecutivas de geadas em julho. Como resultado, etanol e açúcar alcançaram preços recordes nas últimas semanas [de agosto]”, explica.
A previsão da S&P Global Platts é que os preços cheguem a mais de R$ 4 por litro nas usinas até outubro.
Com oferta mais restrita e consequente aumento de preço, os consumidores optam pela gasolina — a opção fóssil para veículos leves.
A participação do etanol hidratado na demanda total de combustíveis leves caiu para a menor desde abril de 2018. A demanda pelo biocombustível já está 26% abaixo dos níveis pré-pandêmicos de 2019, diz Beatriz.
“As ambições do país precisam de diversificação para continuar a avançar. Os desafios climáticos continuarão, por isso é vital apostar na diversificação de matérias-primas e investir em novas tecnologias para fomentar a produção de biocombustíveis de baixa intensidade de carbono e evitar reduções drásticas na produção por estarmos expostos a um só tipo de cultura”, completa.
Biocombustíveis como solução na América Latina
Apesar do crescimento acelerado na venda de veículos elétricos na América Latina, levantamento da S&P Global Platts mostra que essas vendas ainda representam 7% do mercado de carros novos no mundo.
Na AL, a expectativa é que os elétricos cresçam exponencialmente, para uma participação de 10% nas vendas até 2040.
Mas, na comparação com o tamanho da frota da região, o total de VEs na AL deve chegar a 4 milhões de veículos — em meio a mais de 120 milhões de carros com motores a combustão ainda em circulação.
“Embora as vendas de elétricos tenham crescido na AL, elas ainda estão consideravelmente atrasadas, em comparação ao mercado global. E o ambiente político e regulatório ainda não foi determinante para impulsionar a nossa visão no cenário de longo prazo na região”, explica Beatriz Pupo.
No horizonte até 2050, a consultoria vê os biocombustíveis como a principal solução de baixo carbono para a América Latina.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *