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A recente aprovação da Lei do Combustível do Futuro traz perspectivas de transformações significativas para o setor de biodiesel no Brasil, especialmente com o aumento da demanda por soja. Segundo o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias, 90% do biodiesel produzido no país é derivado do óleo de soja, mas a nova lei também abre espaço para a diversificação das fontes de oleaginosas utilizadas na produção. Essa diversificação é essencial para ampliar a capacidade produtiva e atender à demanda crescente.
Dias destaca que uma das alternativas seria aproveitar as áreas que ficam sem cultivo após a colheita da soja, possibilitando o plantio de outras oleaginosas, como a carinata, que tem mostrado potencial promissor. Ele menciona que culturas como o cramber, pouco conhecida no Brasil, também possuem elevado teor de óleo e se adaptam bem ao clima do Centro-Oeste. “Precisamos desenvolver novos materiais e criar protocolos de produção para culturas que podem ser introduzidas no ciclo agrícola após a soja”, afirma.
Desafios na indústria e no campo
Além de diversificar as fontes de produção, Dias ressalta a importância de pesquisas na área de motores para garantir que os equipamentos agrícolas e industriais consigam utilizar esses novos combustíveis de maneira eficiente. Ele aponta que, em algumas regiões do Brasil, há desafios técnicos, como o uso de biodiesel em motores no inverno, quando o combustível pode formar borra e comprometer o funcionamento de bombas injetoras.
Ele também enfatiza a necessidade de uma agricultura regenerativa que leve em consideração a sustentabilidade e a pegada de carbono. “Não se trata apenas de produzir biodiesel; precisamos criar sistemas agrícolas que melhorem a qualidade do solo e reduzam as emissões de gases de efeito estufa”, explica Dias. Isso incluiria o uso de insumos regionais, como fosfato natural e silicatos de potássio, e a adoção de biotecnologias que minimizem o uso de fertilizantes sintéticos.
A aviação e o desafio do querosene verde
Outro ponto destacado pelo engenheiro agrônomo é o impacto da nova lei no setor de aviação, que será incentivado a utilizar combustíveis sustentáveis. Dias explica que o desenvolvimento do querosene verde, produzido a partir de óleos vegetais ou graxas de origem animal, é fundamental para a descarbonização da aviação. No entanto, ele alerta que a produção desse combustível exige uma série de pesquisas e cuidados rigorosos, pois sua utilização envolve variações extremas de temperatura nas altas altitudes.
“O querosene verde tem um papel crucial na redução das emissões de gases de efeito estufa pela aviação, mas precisamos garantir que ele atenda aos padrões de segurança e eficiência”, alerta.
O futuro do combustível verde no Brasil
João Pedro Cuthi Dias vê grandes oportunidades para o Brasil se destacar no mercado de combustíveis verdes, tanto no setor agrícola quanto na indústria. Ele cita o exemplo da exportação de sebo bovino para os Estados Unidos, onde é utilizado na produção de querosene verde, como um indício de que o país já está inserido nesse contexto global.
O engenheiro agrônomo conclui sua análise reforçando a importância da pesquisa e do desenvolvimento de novas tecnologias para garantir que o Brasil possa, de fato, aproveitar todo o potencial da Lei do Combustível do Futuro. “Precisamos investir em inovação e adaptar nossa produção para atender às demandas desse novo cenário”, finaliza.