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RIO – A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou nesta segunda (16/10) a lista dos 33 setores com blocos exploratórios, localizados em nove bacias diferentes, que vão a leilão em dezembro, no 4º Ciclo da Oferta Permanente – mecanismo de licitação sob demanda.
Ao todo, 12 setores na Bacia de Pelotas, fronteira ainda pouco explorada no litoral da região Sul, foram incluídos no leilão deste ano, após manifestação prévia de interesse do mercado pela região – o que não é garantia de que as áreas serão, de fato, negociadas.
Pelotas, contudo, entrou novamente no radar da Petrobras – que já teve blocos na bacia, mas que acabaram devolvidos sem avançar na fase de perfuração de poços. No início do mês, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, sinalizou interesse em voltar a explorar na região.
“No Sul, tem a Bacia de Pelotas, em frente ao Rio Grande do Sul, que era, nos tempos em que Campos e Santos eram o filé – e ainda são –, algo para um dia, quando precisar”, afirmou Prates, durante participação no programa Roda Viva, ao comentar sobre perspectivas de novas fronteiras exploratórias.
A licitação de dezembro é mais uma chance para essa bacia que não tem hoje uma concessão sequer sob contrato e que não é perfurada desde 2001 – justamente pela própria Petrobras.
A última vez que algum bloco exploratório de Pelotas foi arrematado num leilão da ANP foi há quase duas décadas, na 6ª Rodada de concessões, de 2004.
Bacia de Pelotas terá uma nova chance, na oferta permanente da ANP (Infográfico: ANP)
Mas o que mudou desde então? Pelotas está relativamente próxima ao litoral do Uruguai – que vem despertando o interesse de petroleiras, em leilões recentes, influenciado, por sua vez, pelo sucesso exploratório na Namíbia, na costa da África.
África e América do Sul compartilham história geológica
A margem oeste do continente africano possui uma evolução geológica similar à da costa sul-americana.
A origem das bacias sedimentares do leste da América do Sul remonta à ruptura do paleocontinente Gondwana e à separação definitiva das placas Africana e Sul-Americana, na formação do Oceano Atlântico Sul.
De acordo com o sumário geológico de Pelotas, da ANP, apesar da falta de descrição e caracterização das rochas geradoras na bacia, “há valorosas inferências a partir da correlação com as bacias de Walvis, Lüderitz e Orange da Margem Continental Africana”.
Descobertas na Namíbia impressionam
Em 18 meses, Shell e TotalEnergies já descobriram ao menos 11 bilhões de barris de petróleo e mais de 8,7 trilhões de pés cúbicos de gás natural na bacia de Orange, segundo autoridades do país africano.
O sucesso exploratório na Namíbia tem despertado o interesse de petroleiras pelo Uruguai, na expectativa de que as descobertas no país africano possam ser reproduzidas no pequeno litoral uruguaio.
Em julho, a estatal uruguaia Ancap aprovou oferta da empresa Challenger Energy para o bloco offshore OFF-3 – o último ativo exploratório até então não contratado na costa uruguaia.
Com dois blocos contratados, a Challenger se tornou a 2ª maior exploradora em atividade no país, atrás da Shell, com três ativos. A multinacional é uma das principais agentes na Namíbia.
Também possuem contratos exploratórios no país sul-americano a argentina YPF (1) e a Apache Corporation (1), dos Estados Unidos.
Alto risco exploratório
Com poucos poços perfurados, Uruguai e Pelotas possuem elevado risco exploratório. No Brasil, apenas 12 perfurações foram feitas na Bacia de Pelotas, desde a década de 1970.
Já no Uruguai, petroleiras como bp e TotalEnergies – em sociedade com a ExxonMobil e a Statoil (hoje Equinor) – chegaram a apostar no país, na década passada, sem sucesso exploratório.
Nenhuma descoberta comercial foi feita no Uruguai, até o momento, mas a expectativa das autoridades locais é que o sucesso recente na Namíbia renove o interesse por investimentos na costa do país.
“Até agora, as campanhas de exploração não fizeram descobertas comerciais, mas não foram testadas áreas e seções importantes das bacias offshore, o que, à luz das descobertas noutras bacias semelhantes na margem atlântica, seriam as mais prospectivas”, disse à AFP o gerente de Transição Energética da Ancap, Santiago Ferro.