EPBR
A produção de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, sigla em inglês) vai precisar de hidrogênio verde como insumo, colocando essa indústria (que ainda não nasceu no Brasil) como mais uma potencial consumidora da nova energia (que também quer despontar por aqui).
“Estamos falando da produção de um combustível que depende fundamentalmente, como uma de suas matérias-primas, de hidrogênio. Se quisermos reduzir a pegada de carbono, precisamos de um hidrogênio verde”, disse na quarta (3/8) o diretor de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Fábio Vinhado.
Fábio participou do encontro organizado pela Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) para discutir o mercado de hidrogênio verde no estado e as demandas regulatórias.
Enquanto o governo federal discute estratégias para o hidrogênio — sem uma opção de rota tecnológica –, o Ceará avança em acordos com a iniciativa privada para desenvolvimento de um hub no Porto do Pecém, com foco na tecnologia verde, que combina geração elétrica renovável e eletrólise.
Até o momento, o governo estadual já assinou 18 memorandos de cooperação com diferentes agentes de mercado, com o objetivo de produzir e exportar hidrogênio verde a partir do complexo portuário.
No MME, o hidrogênio é abordado em mais de uma frente. Uma delas é o programa Combustível do Futuro, onde a tecnologia aparece em pelo menos três subcomitês: o que trata da bioletrificação com células a combustível etanol, o de PD&I e o de SAF.
Fábio explica que o hidrogênio é um importante insumo na fabricação do SAF pelo processo Fischer-Tropsch, que pode usar tanto biomassa tradicional, quanto capturar CO? de fontes limpas e usar hidrogênio para produzir o gás de síntese que dá origem ao querosene sustentável.
O produto, também conhecido como combustível sintético, tem um potencial significativo de redução de emissões, podendo chegar a uma pegada de carbono negativa — mas, para isso, o insumo precisa ser verde.
E é um dos focos da parceria Brasil-Alemanha no ProQR, projeto que aposta nos combustíveis produzidos com energia eólica e solar como uma solução possível para o transporte aéreo atingir suas metas de descarbonização.
Em meados do ano que vem, a Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) devem inaugurar no Paraná uma planta piloto para produção de SAF a partir de biogás e hidrogênio verde.
“A gente precisa da geração de hidrogênio limpo e não de hidrogênio que venha de fontes fósseis, porque dessa maneira [a aviação] melhora sua participação, reduz emissões de carbono e fica mais aderente aos critérios internacionais de descarbonização”, disse Fábio.
PNH2
O governo barsileiro publicou nesta quinta (4/8) a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que institui o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) e estabelece a estrutura de governança do programa.
Originalmente, a proposta com as diretrizes do programa havia sido apresentada pelo MME há um ano, em agosto de 2021, e a governança foi aprovada no final de junho de 2022.
O texto também institui cinco câmaras temáticas para desenvolver estudos e produzir relatórios técnicos para subsidiar o comitê gestor do PNH2. Cada câmara terá que elaborar um plano trienal já este ano, para ser aprovado pelo comitê até dezembro de 2022. Veja a resolução publicada no Diário Oficial
“A ideia é até o final do ano aprovar o primeiro plano de trabalho do PNH2, que, na definição aprovada pelo CNPE, tem que ser um plano de três anos. Anualmente esse plano é implementado, avaliado ao final do ano, e atualizado para os três anos seguintes”, explica Agnes da Costa, chefe da Assessoria Especial em Assuntos Regulatórios do MME.
Durante apresentação na Fiec, na quarta, Agnes afirmou que a estratégia brasileira se assemelha a de países como Austrália e Canadá, sem “trancamento tecnológico”.
E que a tendência é a discussão global migrar do hidrogênio verde — principalmente a partir de energia eólica e solar, como é o foco hoje — para o hidrogênio de baixo carbono.
“Estamos vendo o hidrogênio verde, mas também a eletrólise com fósseis com CCUS”, comentou.
Ela também apontou a necessidade de criação de um mercado para o Brasil, desenvolvendo logística e infraestrutura para aproveitar os diferentes recursos energéticos do país.
“Com o tempo, a gente vê que o mundo inteiro vai migrar para o que é hidrogênio de baixo carbono, mas aí quando chegar nesse estágio o Brasil vai estar com uma indústria funcionando, com capacidade de produção, com profissionais trabalhando”.
Índia de olho no comércio de carbono
Em um projeto de lei apresentado ao parlamento no último dia 3, o governo indiano propõe obrigar o uso de hidrogênio verde, amônia verde, biomassa e etanol para energia e matéria-prima e introduzir o comércio de carbono para combater as mudanças climáticas.
Com meta de atingir emissões líquidas zero até 2070, o país pretende reduzir as emissões de carbono em 1 bilhão de toneladas até 2030. Uma das formas de chegar lá será alcançando cerca de cinco milhões de t/ano de produção de hidrogênio verde até o final da década.
O texto também propõe multas por não conformidade de até 1 milhão de rúpias (US$ 12.640) e emissão de certificados de crédito de carbono que podem ser vendidos ou comprados voluntariamente de acordo com um esquema de comércio de créditos de carbono. Argus
Hidrogênio para refinarias no Texas
Também nesta quinta, a NewFotress Energy anunciou um acordo com a fornecedora de soluções de hidrogênio Plug Power para uma planta de escala industrial de 120 megawatts perto do porto de Beaumont, Texas.
Segundo a companhia, será um dos maiores empreendimentos do tipo na América do Norte. A instalação usará a tecnologia de eletrólise de membrana de troca de prótons (PEM) da Plug para a produção de mais de 50 toneladas por dia de hidrogênio verde. Com o desenvolvimento de infraestrutura de suporte adicional, a instalação será escalável para quase 500 megawatts.
O projeto está estrategicamente localizado próximo ao porto e ao distrito Sabine-Neches, onde há uma série de instalações industriais de grande porte nos setores de refino, petroquímico e outros que utilizam hidrogênio em seus processos.
GD no Brasil
A 2W Energia fechou um contrato de arrendamento de usinas fotovoltaicas com a francesa GreenYellow para fornecer energia solar em sete estados brasileiros a partir de 2023 no modelo de geração distribuída (GD).
O contrato prevê o arrendamento de sete usinas de 5 MW de potência, somando 35 MW (ou 48,6 MWp), durante quinze anos. Com a parceria, a 2W calcula o fornecimento de 102 GWh de energia, e mais de 10 mil toneladas de CO? evitadas. As usinas estão localizadas em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Ceará, Piauí e São Paulo.