Com aporte de R$ 40 bilhões, quatro projetos de hidrogênio verde devem sair do papel em 2025

Grupo liderado pela 99 prevê R$ 180 mi em investimentos para eletrificação em 2025 
26/11/2024
Litro do biodiesel volta a superar barreira dos R$ 6
26/11/2024
Mostrar tudo

Valor Econômico

Pelo menos quatro projetos para produção de hidrogênio de baixa ou zero emissão de carbono (hidrogênio verde ou H2V) podem sair do papel a partir de 2025 no Brasil. O Nordeste concentra três desses futuros investimentos, que somam R$ 34 bilhões de um aporte que pode chegar a quase R$ 40 bilhões, se todas as iniciativas no país forem levadas adiante.

A multinacional australiana Fortescue e a Casa dos Ventos, junto com a TotalEnergies, devem construir sua base no Porto de Pecém (CE). Os outros dois estão previstos para ser implementados em Pernambuco e Minas Gerais.

Entre projetos anunciados e em estudo, o país já possui mais de 60 iniciativas no setor de hidrogênio verde, mas ainda há pouca tração para escalar de vez. Na prática, há hoje programas de baixa escala, de acordo com a Associação Brasileira de Hidrogênio Verde (ABIHV).

“O que temos em operação são projetos de pesquisa e desenvolvimento em universidades e que são muito pequenos, que não têm capacidade de produção comercial”, diz Fernanda Delgado, presidente da ABIHV.

Após as sanções das leis que garantiram o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, e preveem incentivos fiscais com o intuito de fomentar os investimentos na área, segundo a presidente da ABIHV, o H2V tem potencial de impactar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em aproximadamente R$ 7 trilhões, considerando que o Brasil atenda a 4% da fatia da demanda internacional.

Há quatro anos, o mercado praticamente não existia ou era muito pequeno, na visão do gerente nacional da Fortescue no Brasil, Luis Viga. Segundo ele, as empresas ainda estavam pensando que o hidrogênio verde era algo para o futuro e, hoje, já é possível ver mais movimentos do setor no país.

“[O mercado ainda] não está 100% amadurecido, mas está caminhando a passos largos para ter essas decisões de investimentos. Uma vez decidido, não tem mais volta. São várias peças de um quebra-cabeça que vão se encaixando e aí você começa a ter possibilidades. Se as coisas ocorrerem bem, dependerá de como está o mercado global. Aí, entra a regulamentação e o Brasil tem que entrar nos incentivos para reduzir o ‘gap’ entre o hidrogênio verde e o cinza”, diz.

Para tomar uma decisão de investimento e alavancar o hidrogênio verde em 2025, segundo Viga, seria importante ter iniciado neste ano o projeto de engenharia. Como as plantas são grandes, ele explica que o processo para se organizar um planejamento de H2V demanda prazo. Neste momento, o projeto da Fortescue no Ceará está começando a terraplenagem para logo depois iniciar as construções. O volume de produção anual de H2V da empresa, após a conclusão do projeto, será de 175 mil toneladas.

“No mundo inteiro é possível ver que o mercado de hidrogênio verde está andando para escalonar para uma produção comercial maior, e é possível ver que a regulamentação vai se desenvolvendo e vai criando condições não só aqui, mas também no mundo para ter esse mercado. Para se ter uma ideia, estamos há quase três anos fazendo engenharia nisso. Então, não é um processo qualquer, são plantas muito grandes e com muito investimento. Não é algo que você começa do nada. Diferente quando você está fazendo pesquisa e desenvolvimento, que aí é outra história”, afirma.

A Casa dos Ventos, associada à TotalEnergies, que também trabalha no projeto no complexo de Pecém, terá um volume ainda maior do que a produção da Fortescue, atingindo 900 mil toneladas ao ano. A empresa não quis dar entrevista.

Segundo Markus Francke, diretor da H2 Brasil, os projetos de pesquisa e desenvolvimento são importantes para desenvolver mão de obra especializada num setor que irá abastecer futuramente essas grandes fábricas, que tem como foco uma escala de geração comercial maior. Com uma planta de produção de hidrogênio verde estabelecida na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, implementada em parceria com a H2 Brasil e a Agência Alemã para Cooperação Internacional (GIZ), atrelada ao centro de pesquisas de H2V da universidade, o projeto terá capacidade de produção de hidrogênio verde a uma taxa de 60 normal metro cúbico por hora (Nm³/h).

“É um produto novo e parte da tecnologia também é nova, então, precisamos de engenheiros e de professores nas universidades que sabem ensinar isto e que sabem como tratar esse novo tema. É algo fundamental toda essa pesquisa e a capacitação dessas pessoas. Para as plantas de hidrogênio verde funcionarem, é preciso pessoas que trabalhem nela e teremos que primeiro educar. Portanto, é necessário tempo”, diz.

Além da mão de obra que ainda é necessária para escalar o mercado, uma das barreiras que impedem o H2V de avançar segundo a coordenadora do Laboratório de Transportes Sustentáveis (LabTS) da Coppe, ligado à planta de hidrogênio verde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Andrea Santos, são as limitações financeiras, tecnológicas e falta de capacidade e assistência técnica para o mercado. Na visão da professora, a baixa oferta de equipamentos e capacitação também são um problema.

“Alguns só querem vender a tecnologia e os eletrolisadores. Existe grande possibilidade de o mercado decolar em algum momento, mas, na minha opinião, ainda está longe disso. No futuro, de fato, o Brasil será um grande produtor de H2V de baixa emissão de carbono e terá mercado competitivo pela perspectiva de conseguirmos produzir em custos mais baixos e poderemos suprir algo em torno de 10% da demanda internacional”, diz a pesquisadora.

Em termos globais, diversos países já adotaram ou estão implementando políticas públicas de incentivo à produção de hidrogênio de baixo carbono. Entre os segmentos industriais que estão investindo no tema no Brasil, o setor de geração elétrica lidera com 42 projetos. A maioria deles, conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), é voltada para exportação. Dependendo da aplicação a que se refere, o H2V poderá ser competitivo, segundo o CEO da thyssenkrupp na América Latina, Paulo Alvarenga.

“Acho que existe, naturalmente, um mercado lá fora que também vai ficar viável. O mercado brasileiro está nesse momento, em um pouco daquilo que acontece no mundo, tem projetos que estão um pouco mais avançados e um pouco menos avançados. De maneira geral, tem muito estudo para poder identificar os primeiros projetos e no caso específico do Brasil e Estados Unidos aguarda-se clareza do aspecto regulatório. O Brasil publicou as leis que dão, inclusive, os subsídios. Os investidores estão todos avaliando como é que vai ser a regulamentação. Essa é minha visão sobre o mercado de H2V hoje”, destaca.

A fabricação dos eletrolisadores, essencial para a produção do hidrogênio, segundo o CEO, está avançada. “A thyssenkrupp é líder do mercado e temos hoje uma capacidade global de produzir efetivamente mais ou menos três gigawatts de eletrolisadores por ano e devemos chegar até o final do ano que vem até cinco gigawatts de capacidade por ano. Isso é uma capacidade global, então, como a gente não está fazendo isso no Brasil no momento, essa seria a capacidade nossa de fornecimento a nível global e eu espero que uma parcela relevante disso pudesse vir ao Brasil”, afirma.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *