O Globo
O ano começou com greves, inclusive em órgãos públicos, e a enchente no Rio Grande do Sul, afetando a produção de veículos. Mas, nas palavras do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio de Lima Leite, 2024 terminará de forma ‘espetacular’.
Os investimentos do setor totalizam R$ 180 bilhões, as vendas apresentam o maior crescimento desde 2007 e devem encerrar o ano em 2,6 milhões de unidades, alta de 15% em relação a 2023, colocando o Brasil como o país que mais cresceu entre os dez maiores mercados globais. As vendas incluem automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
— Foi um momento de harmonização das tecnologias, cada fabricante fez sua escolha e fizemos uma corrida junto ao governo para que as regulamentações se adequassem aos planos de investimentos. O ano começou com incertezas e terminou de forma espetacular — disse Lima Leite em apresentação a jornalistas do balanço do setor.
As vendas cresceram 15% no Brasil, e em seguida veio o Canadá, com crescimento de 10%, e México, 9,4%. As vendas na China cresceram 3,8%, na Índia, 3,4% e nos EUA, 2,8%. No Reino Unido, o crescimento foi de 2,5%, na Alemanha houve encolhimento de 0,04%, na França queda de 3,0% e no Japão uma baixa de 7,2%.
Em números de investimento, são R$ 130 bilhões das fabricantes e mais R$ 50 bilhões do setor de auto-peças. Trata-se, segundo a Anfavea, do maior ciclo de investimentos da história do setor automotivo no país. Foram 100 mil novos postos de trabalho criados.
A produção, este ano, deve fechar em 2,5 milhões de unidades, alta de 10,7%, em relação a 2023. O ano deve terminar com 403 mil unidades exportadas, pequena queda de 0,3% em relação a 2023.
Lima Leite explicou que o segundo semestre deu tração ao setor. As vendas, por exemplo, cresceram 32% em relação aos seis primeiros meses do ano, atingindo 1,5 milhão de unidades. Já as exportações cresceram 44,2% comparando os mesmos períodos.
— O segundo semestre foi marcado pelo crescimento de alguns países de destino. Os embarques para a Argentina, por exemplo, cresceram 39% e para o Uruguai, 14% — disse.
Importações da China crescem
Lima Leite disse, entretanto, que o país precisa ganhar competitividade para exportar mais. Ele pontuou que a reforma tributária é importante, mas há outros pontos do chamado Custo Brasil que precisam ser enfrentados, como ineficiência de portos, entre outros.
Ele defendeu que o Brasil tenha uma harmonização regulatória com países vizinhos para que os produtos brasileiros não precisem passar por homologação — que pode levar até um ano — para chegar a esses destinos.
Já as importações de veículos totalizaram de janeiro a novembro 463 mil unidades, enquanto no acumulado do mesmo período do ano passado foram 352 mil unidades. Hoje, disse Lima Leite, 28% do carros importados são de fabricantes de fora do Mercosul.
A China que teve participação de 10% nas importações de veículos entre janeiro e novembro do ano passado, com 32.180 unidades, este ano passou a ter participação de 26%, com 105.763 unidades importadas.
— O que preocupa é que a balança comercial do setor, pela primeira vez desde 2021, apresentou déficit. Isso tem que ser pontual e não pode ser uma tendência — disse o presidente da Anfavea.
Para 2025, a estimativa da Anfavea é de um crescimento de de 5,6% nas vendas, chegando a 2,8 milhões de unidades, e uma produção de 2,7 milhões, alta de 6,8%, já considerando o início de produção de novas fábricas.
Na expectativa da Anfavea, a taxa básica de juros deve chegar a 14,5% ano que vem, o que levará o juro ao consumidor a uma taxa de 28%. O financiamento é crucial para as vendas do setor. O presidente da Anfavea acredita que em 2025 haverá 50% de financiamento de veículos e 50% das compras serão feitas à vista.
Acordo Mercosul/UE
Sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, concluído na semana passada depois de 25 anos, o presidente da Anfavea disse que ele sinaliza para um ‘ganha/ganha’ entre os dois mercados, mas que será preciso entender os detalhes das medidas.
Ainda assim, Lima Leite afirmou que a União Europeia precisa desenvolver tecnologias e ter produtos que o Brasil já tem, inclusive a combustão (etanol), o que levará a transição de tecnologias por aqui ser mais longa.
— Tem tecnologias dos fornecedores aqui que podem ser adquiridas nas matrizes. Hoje, há dificuldade de acessar esses fornecedores por causa do imposto de importação. Com o acordo, haverá mais flexibilidade — disse o executivo, lembrando que o impacto do acordo só começará a ser sentido no setor depois de sete anos e não no curto prazo.
Lima Leite também comentou sobre a manutenção do imposto seletivo para veículos nas discussões da reforma tributária, avaliando que essa decisão vai na contramão de todo o esforço que o governo vem fazendo para a renovação da frota no país.
— A lógica do imposto seletivo é tributar algo que vai melhorar o meio ambiente, que é a renovação da frota — disse.