Fonte: Valor Online
O Brasil foi um dos principais contribuintes para o excesso de oferta global do petróleo nos últimos 12 meses. A excetuar o Irã – um caso específico pois volta ao mercado após anos de sanções do Ocidente -, a média de aumento mensal na produção do país foi a maior do mundo, mostram dados da Agência Internacional de Energia (AIE). Em um ano até fevereiro, a extração brasileira da commodity subiu, em média, 27 mil barris por dia a cada mês. Depois do Brasil aparecem gigantes como a Rússia – que elevou o volume em 18 mil barris por dia todo mês – e os principais produtores não convencionais – como o Canadá, com 16 mil barris diários. LEIA MAIS Com BG, Shell espera produzir 550 mil barris por dia no Brasil em 2020 Produção no pré-sal pela Petrobras em dezembro soma 666 mil barris/dia Dilma celebra a marca de 500 mil barris no pré-sal Ao mesmo tempo, maior participante de um acordo costurado entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outras nações de alta relevância no mercado global, a Arábia Saudita cortou, em média, 30 mil barris por dia a cada mês dessa análise. Mais que ela, considerando os protagonistas internacionais, só aparece a Nigéria, com 34 mil barris diários. "Dois motivos podem explicar o status de produtor em ascensão", afirma Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria Integrada. "Um é óbvio, que de fato a atividade se acelerou, em um momento de maturação dos investimentos feitos lá atrás. Mas do outro lado, o mercado doméstico encolheu, o que fez com que as exportações subissem." De fato, o consumo foi um calcanhar de Aquiles para o país nos 12 meses. A demanda brasileira encolheu em média 40 mil barris por dia todo mês. Dos países analisados, só a Arábia Saudita se igualou ao Brasil, também com 40 mil barris diários. Na outra ponta, a China elevou a cada mês sua demanda em 68 mil barris. Levando em conta o balanço entre oferta e demanda, o Brasil está empatado com o Irã. As adições líquidas foram, em média, de 67 mil barris por mês. Os chineses, do outro lado, retiraram do excesso 92 mil barris por dia em cada mês. De acordo com Norbert Ruecker, do banco Julius Baer, o Brasil é retrato de um cenário global maior, de continuidade de crescimento da produção mesmo em ciclo de baixa. "Isso ajuda em nossa visão de que o excesso de oferta provavelmente não vai desaparecer tão rápido quanto se esperava", acrescenta. "O causador maior dessa dinâmica, porém, é o xisto." Se observada a tendência dos países desde novembro, quando a Opep estabeleceu um teto para sua produção, os Estados Unidos lideram por muito esse ranking. Foram 60 mil barris diários, em média, por mês. O Canadá, em segundo lugar, acrescentou 32,5 mil barris por mês. Já o Brasil, desde então, elevou em 2,5 mil barris a cada mês a produção. "Acreditamos que o Brasil vai continuar a ser um grande fator no mercado global de petróleo, dadas as reservas abundantes do pré-sal e o baixo custo da Petrobras ", afirma Brian Gibbons, analista da casa de análise de dívida CreditSights. "Mas o processo de evolução provavelmente será tortuoso, dado o momento de entrada de vários projetos iniciados e o desempenho dos preços." Essa perspectiva de aumento da relevância brasileira é um dos motivos pelos quais Esa Ramasamy, diretor da S&P Global Platts - uma formadora de preço -, vê "oportunidade de ouro" para que seja criado novo preço de referência. Assim como existem hoje o Brent e o WTI, o Brasil poderia criar um "benchmark" para o pré-sal, que tem um tipo de concentração intermediária ainda não contemplado, disse ontem em evento. Vitto, da Tendências, é mais cético. "Acredito que o Brasil vai ser um produtor mais relevante, mas não vejo como formador de preço", opina. "O que o xisto fez, a revolução geopolítica nesse mercado, não poderá ser imitado. Foi brutal", acrescenta. O secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustível (IBP), Antônio Guimarães, compartilha dessa visão. "A discussão sobre preço ainda é prematura. Há muito que destravar no Brasil ainda", diz. (Colaboraram Camila Maia, de São Paulo, e André Ramalho, do Rio)