Biocombustíveis e potencial em energia solar e eólica destacam país no processo de transição

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O Globo

A transição energética, que visa modificar os sistemas de produção e de consumo de energia direcionando-os para fontes limpas e renováveis, é uma das prioridades da agenda brasileira na presidência do G20. O país se destaca nesse tema pelo seu amplo uso de hidrelétricas, pelos progressos na área de biocombustíveis e pelo potencial em energia solar e eólica. Essas condições qualificam o país a receber investimentos para acelerar a transição.
Na avaliação de Patricia Pinho, diretora-adjunta de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e autora do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o Brasil vem se posicionando bem nas questões climáticas. Mas ressalta que muitas das projeções feitas sobre a atratividade e competitividade foram construídas sem considerar os agravantes climáticos que vêm assolando o país.
— Esse é um desafio que está posto ao Brasil no G20, e o país ainda patina na agenda de alavancagem de adaptação, uma vez que os desastres ambientais de grande magnitude na esfera do clima já atingem praticamente todos os estados e municípios — afirma Pinho, citando a seca de maior extensão e intensidade nos últimos 70 anos que atingiu boa parte do país e os focos de incêndios florestais recordes. Apesar desta avaliação, a diretora do Ipam não crê que essa condição climática negativa afete a atração de investimentos externos.
— Temos um PIB muito associado à geração de commodities e, diante de um clima alterado, os setores terão de se adaptar.
O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, ressalta que é preciso avaliar se 2024 foi um ano atípico para esses eventos climáticos extremos ou se já se trata de uma tendência. Ele destaca, contudo, que o Brasil teve avanços como o Projeto Mover, que cria incentivos para a descarbonização da indústria automobilística e a regulamentação do hidrogênio de baixo carbono.
A estratégia de baixo carbono da Confederação Nacional da Indústria (CNI) já está desenhada, segundo Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Por meio do Business 20 (B20), que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, o setor industrial entregou ao presidente Lula um documento propondo soluções para temas relevantes, entre eles a transição energética.
Baixo carbono
A aprovação do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono pela Câmara dos Deputados, em agosto, dará impulso extra aos projetos já anunciados no país, de acordo com empresas e especialistas do setor. Hoje, segundo a consultoria Mirow & Co, o potencial de investimento é estimado em R$ 188,7 bilhões em locais como Ceará, Pernambuco, Rio, Piauí, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Tida como a próxima fronteira energética capaz de substituir os combustíveis fósseis em fábricas, carros e aviões, o hidrogênio de baixa emissão pode colocar o Brasil como protagonista no cenário energético global, avaliam especialistas.
Embora o programa aprovado na Câmara ainda precise passar pelo Senado, especialistas e empresas acreditam que os primeiros projetos de hidrogênio serão voltados para a exportação. Ele pode ser usado para produzir amônia, matéria-prima para fertilizantes, ou metanol, utilizado como combustível para navegação e indústria química. Há quem projete também o uso do hidrogênio como substituto dos combustíveis fósseis usados em fábricas e veículos. Segundo Felipe Diniz, sócio da Mirow & Co, o Brasil possui vocação para a produção de hidrogênio graças à abundância de recursos e a uma rede elétrica interligada.
— O hidrogênio é considerado um vetor energético estratégico, pois permite a descarbonização de diversos setores da economia. O próximo passo é promover o consumo no país e ter agilidade nos processos de licenciamento — afirma Diniz.
Para impulsionar o setor, o projeto aprovado pela Câmara prevê que, entre 2028 e 2032, o governo concederá créditos fiscais a empresas que produzam ou comercializem hidrogênio de baixa emissão de carbono e seus derivados, totalizando mais de R$ 18 bilhões.
— A aprovação do projeto representa um avanço significativo, mas um dos principais obstáculos é a necessidade de uma infraestrutura adequada, que inclua redes de transporte e armazenamento eficientes. E é crucial que se estabeleçam normas técnicas claras e um processo de certificação rigoroso. — afirma Bruna de Barros Correia, advogada especializada em energia do escritório BMA.

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