Fonte: Jornal Nacional
O petróleo mais barato no mercado internacional fez a Petrobras reduzir os preços dos combustíveis nas refinarias pela sexta vez no ano: a gasolina, 9,5%; o diesel, 6,5%.
Na história econômica do Brasil, durante décadas o preço do petróleo era um pesadelo quando subia. Mas, nesta semana, o que provocou preocupação enorme foi exatamente o movimento contrário. E isso tem uma razão.
Quando o Egito e a Síria atacaram Israel na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, quase dois terços do petróleo no mundo eram produzidos pela Opep, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Para retaliar os aliados de Israel, os produtores árabes restringiram as exportações e os preços dispararam.
“Na crise de 73, o preço do barril de petróleo vai sair de US$ 3 para US$ 12 num espaço de quase um mês. Os preços são quadruplicados e isso foi um impacto muito forte para a economia mundial”, disse Helder Queiroz, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 73, o Brasil produzia apenas 170 mil barris de petróleo por dia e dependia do combustível que comprava no exterior.
“Naquela época, o Brasil importava cerca de 85% das suas necessidades de petróleo. A partir daí a gente vai assistir depois, ao longo da década de 80, uma série de efeitos que vão ser decorrentes dessas decisões, no caso do Brasil, um endividamento externo mais elevado, com problemas também de balança de pagamento e inflação superelevada”, explicou Helder.
Mas, na última década, a situação do Brasil mudou. A exploração do pré-sal colocou o país entre os dez maiores produtores do mundo. São três milhões de barris diários, um volume 20 vezes maior do que na crise de 73. E mais de 20% do que é produzido são exportados.
“A gente inverteu aquela situação do início dos anos 80, anos 70. Agora a gente praticamente produz aí 80% do petróleo que a gente consome”, afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.
A queda de 25% do preço do barril, na segunda-feira (9), cria agora um outro tipo de consequência. Especialistas afirmam que, se os preços do petróleo permanecerem num patamar mais baixo, os consumidores podem acabar pagando menos pelos combustíveis. Mas, ao mesmo tempo, a Petrobras, o governo federal, os estados e os municípios podem ter prejuízo, com a perda de arrecadação.
“Vai ter um impacto no valor das nossas exportações e, também, o que é bastante relevante, um impacto na arrecadação de royalties e outras participações governamentais que vão levar, inclusive, a revisar os orçamentos da União, estados e municípios beneficiários da renda do petróleo”, concluiu Helder Queiroz.