As questões climáticas também impactam o valor dessas commodities, o que pode ser repassado ao consumidor
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Quarta-feira, 12 de março de 2025 às 02:00Foto cedida: Sistema FAEP/SENAR-PR
A restrição da oferta global de milho fez os preços subirem na Bolsa de Chicago. Para a safra 2024/25, estima-se uma redução nos estoques globais, em torno de 25 milhões de toneladas.
Os EUA são os maiores produtores de milho, e a previsão é de que tenham uma safra menor. A Argentina, terceiro maior exportador, enfrenta problemas climáticos que afetam seu desempenho. A previsão inicial do USDA para a safra dos hermanos foi ajustada de 51 para 50 milhões de toneladas, mas não deve atingir os 45 milhões de toneladas.
Já no Brasil, a alta demanda e o uso crescente do milho para etanol pressionam os estoques internos. Apesar da expectativa de uma safra nacional maior em 2024/25, o consumo crescente deve ficar em torno de 88 milhões de toneladas, um aumento de 5% em comparação com 2023/24.
O uso do cereal para a produção de etanol deve crescer 20% em relação à safra passada. E as exportações podem registrar uma alta, em relação ao ano anterior, o que resultaria em queda nos estoques domésticos de milho.
O Mundo Agro conversou com Francisco Queiroz, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Confira abaixo o bate-papo para entender o que está por trás da firmeza dos preços do milho.
Foto cedida : Itaú BBA
Mundo Agro: O que está acontecendo com o preço do milho?
Francisco Queiroz: O preço está em alta e bastante valorizado aqui no Brasil, e isso tem alguns motivos. O primeiro deles é a conjuntura internacional. O preço do milho também está valorizado no mercado externo, porque o balanço global de oferta e demanda de milho está mais apertado. Há uma redução dos estoques finais, o que favorece, em alguma medida, os preços do milho. Outro motivo é a forte exportação americana. Existe uma demanda aquecida, seja para a produção de etanol, seja para a produção de carnes. Além disso, tivemos um atraso na colheita da primeira safra, o que acaba reduzindo a oferta de milho disponível. O plantio da segunda safra está em andamento, mas esteve, em grande parte do período, atrasado em relação à média e ao ano passado. Isso também ajudou a sustentar os preços do milho no mercado doméstico.
Mundo Agro: Quem são os maiores produtores e exportadores?
Francisco Queiroz: Os maiores produtores, pela ordem, são Estados Unidos, China, Brasil, União Europeia e Argentina. Os Estados Unidos, de longe, são os maiores, com 378 milhões de toneladas. Depois vem a China, com 295 milhões, o Brasil com 125 milhões, a União Europeia com 58 milhões e a Argentina com 50 milhões de toneladas. Quanto aos maiores exportadores, também pela ordem, são Estados Unidos, Brasil e Argentina. A China, apesar de ser uma grande produtora, não exporta nada e ainda importa para conseguir abastecer o mercado interno.
Mundo Agro: Apenas o clima interfere no preço?
Francisco Queiroz: Não. O clima, na verdade, interfere indiretamente, porque está diretamente relacionado aos níveis de produtividade. No final do dia, a produção de qualquer grão, seja milho, soja ou trigo, depende disso. O clima é extremamente importante, mas não é o único fator. Quando falamos de commodities, o principal fator é o balanço de oferta e demanda – produção, consumo e estoques. Isso influencia diretamente no preço. Além disso, outras questões comerciais, como tarifas e variação cambial, também afetam os preços. Isso é especialmente relevante quando pensamos no preço em reais, no preço ao produtor aqui no Brasil.
Mundo Agro: Como está a situação no Brasil? A alta de preço está atrelada à demanda do milho para o etanol?
Francisco Queiroz: Sim, a situação no Brasil está de preços elevados, principalmente devido ao balanço interno de oferta e demanda de milho. Esperamos uma redução nos estoques para a safra 2024/25, embora a produção de milho deva ser maior. No entanto, o consumo está crescendo, e até mais do que a produção. Grande parte disso está relacionada ao aumento do consumo de milho para a produção de etanol, o que, sem dúvida, influencia a dinâmica dos preços. Esperamos também exportações um pouco maiores do que as da safra anterior, o que também deve resultar em uma redução nos estoques. O primeiro semestre será mais apertado, pois a produção da primeira safra representa cerca de 20 a 25% da produção total. Na segunda safra, que é a maior parte da oferta (cerca de 75 a 80% do milho do Brasil), se tudo correr bem, o cenário deve se tornar um pouco mais favorável, com preços mais baixos, mas ainda elevados em média.
Mundo Agro: Qual é a estimativa de safra? Primeira e segunda safra?
Francisco Queiroz: Nosso número, de maneira geral, é de 25 milhões de toneladas para a primeira safra e 100 milhões de toneladas para a segunda safra. Portanto, a safra total para 2024/25 deve ser em torno de 125 milhões de toneladas.
Mundo Agro: Essa alta no preço do milho vai impactar onde? O que pode ser reajustado por causa dessa alta no milho?
Francisco Queiroz: O milho é um dos principais insumos da ração animal, seja para porcos, frangos ou bovinos, além de ser fundamental para a alimentação de poedeiras e até na produção de leite. Esse preço mais elevado do milho pode impactar no custo da ração, e isso, eventualmente, pode ser transferido para o preço da carne, do leite ou do ovo. No entanto, não é uma relação direta de um para um, como por exemplo, se o milho sobe 10%, a carne sobe 10%. Mas, de forma geral, o milho mais caro acaba aumentando o custo de produção das proteínas animais, e isso pode ser repassado para o preço dessas proteínas, chegando ao consumidor. Por outro lado, temos outros ingredientes da ração, como o farelo de soja, que tende a ficar mais barato, devido à grande safra de soja. Esperamos um aumento no esmagamento e, consequentemente, uma maior oferta de farelo no mercado, o que pode ajudar na queda dos preços do farelo. O farelo também é um ingrediente importante na formulação das rações e, em certa medida, pode ajudar a contrabalancear a alta do milho. Essa equação não é simples, mas no final, podemos ver algum repasse, com o aumento do preço do milho resultando em um aumento no custo de produção e, eventualmente, em um reajuste no preço das proteínas animais.