Fonte: Valor Online
O governo anuncia, hoje pela manhã, um conjunto de medidas ” estruturantes” para melhorar as condições gerais dos transportes rodoviário no país, em uma pauta que vai além do aumento do preço do diesel. Depois de suspender, na semana passada, o reajuste de 5,7% no diesel, que havia sido anunciado pela Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro convocou para hoje uma reunião com ministros e técnicos da estatal para conhecer em detalhes a necessidade do aumento de preços e a estrutura de produção e revenda de combustíveis.
O governo está muito preocupado com a ameaça de uma nova greve dos caminhoneiros, que considera uma questão de segurança nacional. Esse foi o principal assunto da conversa de Bolsonaro com o vice, Hamilton Mourão, a quem visitou na manhã de domingo. Mourão estava de repouso, com tendinite.
Ambos sabem que o governo não pode ficar refém de um movimento dos caminhoneiros e têm, como estratégia de mais longo prazo, a quebra do monopólio da Petrobras no refino, assim como investimentos em ferrovias. Para o curto prazo, as medidas que serão divulgadas hoje pelo ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, são relacionadas a melhoria da condições das rodovias, tais como a conclusão das obras nas BR-163 e BR-242.
O governo vai retomar, também, as demandas não atendidas nas negociações do ano passado. Bolsonaro anunciou recentemente a criação do cartão do caminhoneiro, com o qual o profissional poderá abastecer até 500 litros de diesel pelo preço inicialmente contratado. Haverá, também, o maior controle da "indústria" da multa por radares; o aumento da fiscalização do cumprimento da tabela do frete; e a construção dos locais de repouso nas rodovias pedagiadas.
Ontem, após quatro horas de reunião na Casa Civil, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, garantiu que a política de preços dos combustíveis "é uma decisão empresarial, não uma decisão de governo" e que a empresa "é livre" para deliberar sobre o tema. Não foi o que aconteceu na semana passada. Nos bastidores, auxiliares de Bolsonaro indicavam que sempre haverá algum grau de intervenção nesse assunto. Este governo está longe de ser "keynesiano", mas tampouco é "John Locke puro", disse uma fonte do Planalto.
Castello Branco ressaltou que a estatal chegou a um limite nas concessões que pode fazer a respeito da política de preços do diesel, ao concordar com reajustes quinzenais; e o cartão do caminhoneiro vai permitir aos profissionais comprar o combustível a um preço fixo.
O executivo negou que tenha sido intervencionista a postura de Bolsonaro, que na semana passada segurou um reajuste no preço do diesel. Isso porque, segundo ele, quem decidiu barrar a alta no fim das contas foi a diretoria da empresa, e não o presidente.
"Ninguém ordenou à Petrobras que não reajustasse; o presidente alertou para os riscos [de aumentar o preço do produto]", disse.
Além de Castello Branco e de Onyx Lorenzoni, participaram da reunião os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia); Tarcísio Freitas (Infraestrutura); Paulo Guedes (Economia); Santos Cruz (Secretaria de Governo); e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral), e o presidente do BNDES, Joaquim Levy.
O temor de uma nova greve de caminhoneiros preocupa Bolsonaro desde o período de transição. "Foi a escolha de Sofia", disse um interlocutor sobre a decisão do presidente de pedir para a Petrobras segurar temporariamente o reajuste do diesel.