Folha de SP
As ações da Petrobras registravam alta no início da tarde desta segunda-feira (31) após a divulgação da nova política de dividendos da companhia. Apesar da redução no valor a ser distribuído para acionistas, a avaliação é de que as novas regras não trazem grandes mudanças e aproxima a empresa de concorrentes internacionais
Com isso, as ações preferenciais da Petrobras subiram 4,20%, a R$ 31,01, enquanto as ordinárias avançaram 4,20%, a R$ 34,68.
A petrolífera estatal disse na sexta-feira (28) que reduzirá o pagamento de dividendos trimestrais para pelo menos 45% de seu fluxo de caixa livre, abaixo dos atuais 60%, e estabelece a distribuição de no mínimo US$ 4 bilhões por ano sempre que o preço do petróleo estiver acima dos US$ 40 por barril.
A nova política também permitirá que a empresa recompre ações para destinar parte dos recursos, enquanto não eleva os investimentos.
Segundo analistas do BTG Pactual, a nova política de dividendos da petroleira “não é tão ruim quanto se temia”.
O banco diz que as novas regras em vigor e o atual preço do petróleo —de US$ 80 o barril do tipo Brent— mantêm a projeção de pagamentos praticamente inalterada. Além disso, destaca que a nova distribuição anual mínima de US$ 4 bilhões em dividendos reforça a intenção da nova direção da empresa de manter os retornos para acionistas minoritários.
O assessor de investimentos Gabriel Meira, da Valor Investimentos, também afirma que o mercado previa mudanças
“O mercado sempre precifica o pior, mas muito pouco mudou. O valor dos dividendos ainda é muito grande e o governo também é acionista. Se houver uma redução drástica, o governo também deixa de arrecadar. Além disso, a Petrobras continua sendo recomendada tanto pelo preço do petróleo quanto por seus resultados operacionais”, diz Meira.
Ele lembra, ainda, que as ações da petroleira registraram fortes quedas na semana passada, justamente por uma antecipação de investidores que previam possíveis mudanças na política de dividendos da companhia.
Para a equipe do Itaú BBA, as novas regras para distribuição de dividendos da companhia são positivas, já que os rendimentos, segundo estimativas da equipe do banco, ficarão equivalentes aos de outras grandes companhias do setor.
“A nova política deve implicar num dividend yield [rendimento de dividendos] de 3,4% no segundo trimestre de 2023. A estimativa parece significativamente maior que os das principais companhias do país: na semana passada a Shell, Repsol e Total reportaram dividendos e recompras no segundo trimestre de 2,6%, 2,6% e 1,4%”, diz o banco em relatório.
Além disso, os analistas destacam que a companhia manteve os pagamentos trimestrais e deu mais ênfase aos dividendos que à recompra de ações, o que foi bem recebido pelos investidores.
Para analistas do Credit Suisse, a nova política não traz nenhuma revolução, o que “é uma boa notícia”. Em relatório, acrescentaram que a empresa mantém o alinhamento de interesses entre os acionistas e o governo.
Já analistas do JPMorgan escreveram que a redução de dividendos já era esperada, é modesta e sustenta a visão positiva sobre a remuneração aos acionistas pela companhia.
Nesta segunda, a Petrobras também foi favorecida por uma elevação de sua nota pela Fitch. A agência de classificação de risco alterou de “BB-” para “BB” a nota de crédito da companhia, na esteira da melhora de suas expectativas para o Brasil.
Além disso, o petróleo Brent operava em alta de 0,47% na sessão, cotado a US$ 85,39, o que também auxilia a performance da companhia.
MUDANÇA NO CÁLCULO DE INVESTIMENTOS TRAZ INCERTEZAS
Apesar da reação positiva do mercado, analistas ainda veem com receio algumas das mudanças apresentadas.
Uma delas é a alteração na fórmula de cálculo de investimentos da Petrobras. Antes, o conceito abarcava aquisições de bens imobilizados e intangíveis. Com a nova política, os investimentos passam a incluir aquisições de participações acionárias.
A mudança no conceito afeta a distribuição de dividendos pois a parcela de recursos destinados a investimentos é deduzida do fluxo de caixa para calcular o fluxo de caixa livre, ou seja, a base de cálculo da remuneração a acionistas.
A equipe do Itaú afirma que a nova fórmula pode indicar que a Petrobras pretende expandir seu plano de investimentos de forma inorgânica, por meio de aquisições e parcerias, para além do crescimento orgânico por meio de projetos de capital.
Já o BTG diz que o novo conceito vai diminuir a capacidade do mercado de avaliar os níveis de investimento da empresa, em meio a discussões sobre o retorno aos setores petroquímico e de distribuição de combustíveis.
Sobre o potencial programa de recompra de ações, permitida pela nova política, os analistas afirmam que ainda não há informações para a avaliação da medida.
“O tempo e o tamanho do potencial programa de recompra permanecem altamente incertos”, diz a equipe do BTG.
ENTENDA AS MUDANÇAS
PORCENTAGEM TOTAL DESTINADA AOS ACIONISTAS SERÁ MENOR
Até a mudança, eram reservados para a distribuição de dividendos 60% do fluxo de caixa livre, que é a diferença entre fluxo de caixa das operações e os investimentos investimentos. O pagamento é autorizado sempre que a dívida da companhia estiver abaixo dos US$ 65 bilhões —teto estabelecido no atual plano estratégico, 2023-2027.
Agora essa fatia passa para 45% do fluxo de caixa livre, também com a condição de que a dívida não supere os US$ 65 bilhões.
Com a redução aprovada nesta sexta, a Petrobras se aproxima de concorrentes internacionais que usam o indicador de fluxo de caixa como parâmetro: segundo levantamento do Goldman Sachs, elas distribuem entre 25% e 40% do indicador.
ACIONISTAS TERÃO REMUNERAÇÃO MÍNIMA
Independentemente do nível de endividamento da companhia, a nova política estabelece que no mínimo US$ 4 bilhões serão distribuídos em dividendos por ano, sempre que o preço do petróleo estiver acima dos US$ 40 por barril.
Para essa cláusula, a companhia considera o preço médio do barril de petróleo tipo Brent.
Em 2022, por exemplo, o preço médio do barril de petróleo tipo Brent foi US$ 97,20 e, em 2021, US$ 70,40. Na última sexta, data da mudança na política, o barril fechou a US$ 84,41.
CONCEITO DE INVESTIMENTOS FOI AMPLIADO
Até a mudanças, investimentos eram aquisições de imobilizados e intangíveis. Agora investimentos passam a incluir aquisições de participações acionárias (aportes, adiantamentos para futuro aumento de capital e as aquisições e/ou aumento de participação em empresas, inclusive em controladas da Petrobras).
Como os investimentos são deduzidos do fluxo de caixa, se o montante de investimentos cresce, diminui o fluxo de caixa livre, ou seja, a “caixa d’água” do qual saem os 45% distribuídos na forma de dividendos.
PETROBRAS ESTUDA PROGRAMA DE RECOMPRA DE AÇÕES
A companhia confirmou nesta sexta que a nova política cria a possibilidade de um programa de recompra de ações para destinar parte dos recursos, enquanto não eleva os investimentos.
Não foi aprovada nenhuma recompra na reunião desta sexta, mas, se realizada, a recompra também reduzirá o volume da “caixa d’água” para distribuição entre os acionistas: “Eventuais valores alocados a programas de recompra de ações serão abatidos da fórmula da política de
remuneração, com o desconto dos montantes gastos com recompra a cada trimestre, conforme reportado na demonstração dos fluxos de caixa do consolidado da companhia”.
Programas de recompra de ações se tornaram mais frequentes em empresas de commodities, que tiveram os caixas inflados pelas cotações recordes dos últimos anos. Entre as grandes petroleiras, por exemplo, 41% dos recursos distribuídos aos acionistas em 2022 foram para reduzir a base acionária.
No Brasil, a Vale também vem adotando a estratégia. Em três programas de recompra, já adquiriu 16% das ações negociadas em Bolsa, ampliando em 20% o ganho dos acionistas remanescentes, segundo o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.
Com Reuters