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Época Negócios

Enquanto o mundo busca por alternativas mais limpas, especialmente porque mais de 90% das fontes de energia para o transporte vêm de fósseis, o Brasil entra em uma imensa oportunidade de gerar negócios nesse setor.

Os carros elétricos surgiram como a promessa de uma solução verde para os problemas ambientais do transporte. No entanto, os sinais de que essa tendência está perdendo força já estão claros. Basta olhar para os anúncios recentes das gigantes automotivas: a Ford adiou US$ 12 bilhões de seu planejado investimento de US$ 50 bilhões em capacidade de fabricação de VE, enquanto a General Motors adiou a produção de modelos-chave de VE e cancelou uma parceria de US$ 5 bilhões com a Honda para fabricar VE mais baratos. Até mesmo a Tesla – antes a estrela dos VE – anunciou que adiaria uma fábrica planejada no México e recentemente vimos a Tesla demitir um grande número de funcionários devido a uma queda nas vendas.

Embora as emissões zero do escapamento durante a operação sejam a maior vantagem dos VEs, o impacto ambiental real dele depende da fonte de eletricidade usada para o carregamento. O benefício total ocorre apenas se a eletricidade vier de fontes renováveis. Se a eletricidade for gerada a partir de combustíveis fósseis, parte ou a maioria dos benefícios ambientais são perdidos. Outro ponto importante é a pegada ambiental do processo de fabricação, que se acredita ser menor para os VEs do que para os carros a combustível fóssil. Mas os críticos apontam que a produção de baterias para veículos elétricos, em particular, envolve a mineração e o processamento de matérias-primas como lítio, cobalto e níquel, e esta é uma área que ainda não foi totalmente explorada quanto ao seu verdadeiro impacto. Some a isso o custo da substituição da bateria e o custo total da vida útil com reciclagem. Em resumo, enquanto os veículos elétricos são geralmente mais limpos em termos de emissões diretas, o impacto ambiental geral depende de vários fatores.

Muitas pessoas expressam relutância em possuir um VE devido a uma série de preocupações que permeiam o cenário atual da mobilidade elétrica. Uma das principais preocupações é a questão da autonomia da bateria. Embora os VEs tenham percorrido um longo caminho em termos de alcance, ainda há apreensão quanto à capacidade de cobrir viagens de longa distância sem a necessidade de recargas frequentes. Além disso, a falta de infraestrutura de carregamento adequada nas cidades e ao longo das estradas é um desafio significativo. Muitos motoristas se preocupam com a conveniência e acessibilidade dos pontos de carregamento, especialmente em áreas urbanas congestionadas e em rotas de viagem populares. Por fim, há dúvidas em relação à economia real de combustível proporcionada pelos VEs. Embora se saiba que os VEs são mais eficientes em termos de custo operacional e manutenção, muitos consumidores ainda não têm certeza sobre os custos de propriedade a longo prazo e a economia em comparação com veículos movidos a combustíveis fósseis.

De todos os agentes do setor de mobilidade, os formuladores de políticas e os governos são os jogadores mais essenciais, pois detêm a chave para políticas que podem apoiar a fabricação, a adoção desses veículos por meio da fabricação, leis de importação e exportação, incentivar a atualização da frota, etc.

Os países produtores e exportadores de petróleo e gás natural, como os do Oriente Médio e a Venezuela, têm um interesse direto em manter a demanda por combustíveis fósseis. Por outro lado, a Europa e os Estados Unidos estão liderando o movimento em direção a veículos elétricos (VEs) e outras formas de energia limpa, impulsionados por preocupações com as mudanças climáticas e a busca por uma economia mais verde e sustentável.

O ponto que trago aqui é que o desenvolvimento dos futuros da mobilidade precisa ser rápido, e os líderes da indústria devem olhar uns para os outros como colaboradores (como fazem na indústria de telefones celulares e eletrônicos) e focar em inovações que podem ser desenvolvidas com valores compartilhados.

Enquanto isso, o Brasil tem a oportunidade de se destacar como líder mundial no uso de um combustível que já conhecemos muito bem: o álcool. O etanol, derivado da cana-de-açúcar, não só é uma alternativa mais verde do que os VEs, mas também é uma indústria na qual já somos especialistas. Temos todo o potencial agrícola para impulsionar essa revolução e nos tornarmos uma potência no fornecimento de combustível verde para o mundo.

É possível que muitos já tenham ciência das vantagens do etanol de cana, conhecido por sua natureza renovável, baixa toxicidade ambiental e alta octanagem, além de emitir até 90% menos gases de efeito estufa do que a gasolina. No Brasil, sua ampla produção e utilização não são apenas resultado dessas características, mas também da sua viabilidade técnica como substituto da gasolina, seja em misturas ou no uso direto. Desde os anos 1920, o etanol tem desempenhado um papel crescente na matriz energética nacional, alcançando destaque entre 1970 e 1980, quando sua mistura com gasolina se tornou comum em todo o país, acompanhada pelo surgimento do carro a álcool. A ascensão dos carros Flex, em 2003, foi outro marco significativo, com mais de 25 milhões de veículos adotando essa tecnologia até 2016, representando cerca de 70% da frota leve em circulação.

O estímulo aos biocombustíveis pode influenciar diretamente o uso do solo. As grandes áreas necessárias para o cultivo de monoculturas, como a cana-de-açúcar ou o milho, tendem a ficar nas mãos de poucos proprietários, o que pode gerar conflitos. Embora o etanol atualmente não contribua diretamente para esse problema, um aumento significativo na sua produção exigirá cuidadosa consideração desse potencial impacto.

O etanol não é apenas uma alternativa viável, mas também uma escolha sustentável e econômica. O Brasil tem a oportunidade de liderar essa mudança e abraçar uma nova era de mobilidade verde.

Para responder a esta pergunta, vamos precisar olhar para além do convencional que conhecemos. Pode soar grandioso, mas pense comigo: nós temos uma gama imensa de recursos naturais – eco, bio, agro – que podem ser a chave para o Brasil liderar o futuro da mobilidade sustentável.

É hora de elevarmos nossa autoestima e reconhecermos que somos possivelmente os maiores guardiões da próxima fonte global de energia verde e os principais fornecedores desse recurso vital para o mundo. É uma oportunidade não apenas para impulsionar nossa economia, mas também para desempenharmos um papel significativo na construção de um futuro mais humano e sustentável para todos.

*Daniela Klaiman é futurista com foco em comportamentos emergentes. Fundadora das empresas eta e FutureFuture, faz consultoria e projetos para empresas analisando o comportamento do consumidor e futuro dos negócios.

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