Contrariando as expectativas do setor sucroalcooleiro, a recomposição de impostos federais PIS/Cofins sobre a gasolina, no início de julho, ainda não se traduziu em elevação nas vendas de etanol hidratado ao consumidor — mesmo com os preços do biocombustível mais atrativos em algumas regiões.
A perspectiva, no entanto, é que essa retomada das vendas aconteça no curto prazo.
“O consumidor ainda não percebeu que ele pode economizar e descarbonizar”, disse Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), à Globo Rural.
O volume de etanol hidratado vendido no mercado doméstico alcançou 561,04 milhões de litros na primeira quinzena de julho, queda de 24,97% em relação ao mesmo período da safra passada, de acordo com os dados mais recentes da Unica.
Segundo a entidade, o biocombustível chegou a ser encontrado em alguns Estados com preços entre R$ 1,65 e R$ 2,10 mais baixos que os da gasolina no período, o que indica que havia competitividade por parte do etanol, mas a escolha do consumidor ainda estava na gasolina.
André Braz, economista e coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, disse que “o consumidor, às vezes, está tão acostumado com o preço (alto do combustível) que ele nem olha o preço do etanol e vai direto na gasolina”.
Dessa forma, ele acredita que seria necessário avançar na divulgação de que o etanol está com valores mais atrativos para o bolso da população e, além disso, enfatizar os benefícios que o biocombustível renovável traz ao meio ambiente.
A recomposição de impostos aumentou os preços da gasolina, de fato, e isso já se reflete na inflação. Braz afirmou que o IPCA-15, que mede a prévia inflacionária, indicou que houve alta de quase 3% na gasolina no início de julho, contra uma redução em junho influenciada também pela política de preços praticada pela Petrobras.
“No acumulado do mês de julho a gasolina deve subir algo em torno de 6% (…) e teríamos oportunidade de ter deflação se não fosse essa alta da gasolina”, estimou. Ele calcula que a inflação de julho ficará próxima de zero, com o combustível puxando para cima, enquanto os preços dos alimentos recuaram e pressionam o indicador para baixo.
Nesse contexto de cotações mais elevadas para a gasolina, o presidente da Unica acredita que a reação no consumo de etanol nas bombas dos postos é questão de tempo, e pode acontecer nas próximas semanas.