Veja como o conflito entre Israel e Irã afeta os preços dos combustíveis

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Valor Econômico
A preocupação com a defasagem nos preços dos combustíveis vendidos pelas refinarias da Petrobras frente ao mercado internacional ganhou mais corpo com a escalada das tensões no Oriente Médio. Os preços do óleo diesel e da gasolina acumulam meses sem que a Petrobras tenha feito mudanças. O lançamento de drones e mísseis pelo Irã sobre Israel, no fim de semana, deixou em alerta especialistas que acompanham o mercado global de petróleo e gás.
O petróleo tem sido negociado com volatilidade, em torno dos US$ 90, desde o início do mês, quando Israel bombardeou a embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Ao mesmo tempo, o dólar, que já vinha nos últimos dias em trajetória crescente, disparou ontem, impulsionado pela aversão a risco no Oriente Médio. O câmbio também refletiu a preocupação com a meta fiscal no Brasil. A moeda americana fechou o dia em alta de 1,24%, cotada a R$ 5,1847, no maior patamar de fechamento desde 27 de março de 2023, tendo encostado no patamar de R$ 5,21 na máxima do dia. Câmbio e preço do barril são as principais variáveis para o reajuste dos combustíveis.
A defasagem para o óleo diesel ante a paridade internacional varia entre 8,46% e 14,50%, a depender da estimativa feita por StoneX, Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), XP Investimentos e Warren Investimentos. Para a gasolina, o percentual frente ao mercado externo varia entre 9,60% e 28,60% (ver gráfico acima).
Especialistas afirmam que a Petrobras tende a “segurar” os preços em eventos que façam com que as cotações do petróleo fiquem mais instáveis, evitando repassar a volatilidade para o mercado doméstico. A última vez que a Petrobras mexeu nos preços da gasolina foi em 21 de outubro, quando aplicou redução de 4,1% (R$ 0,12 por litro). São 178 dias com preços mantidos nas refinarias. O diesel está sem mudanças nos preços desde 27 de dezembro, quando a companhia reduziu os valores nas refinarias em 7,94%, totalizando 111 dias sem alterações.
Se a Petrobras mantiver os combustíveis sem reajuste por mais tempo – no atual cenário de escalada do petróleo -, corre risco de reduzir a rentabilidade, como já ocorreu no passado. Nos governos anteriores do PT, a empresa ficou longos períodos sem reajustar os preços da gasolina e do diesel, o que levou a prejuízos e a aumento da dívida. Anos foram necessários para recuperar as finanças.
Procurada, a Petrobras não respondeu até a conclusão desta edição. Uma dúvida adicional é a capacidade de a empresa reajustar preços em meio ao debate sobre uma possível troca no comando da companhia, que dominou o noticiário nas últimas semanas.
Charles Laganá Putz, conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), disse que as pressões sobre a política de preços da Petrobras trazem desafios adicionais, pois a legislação estabelece que o uso da estatal pelo governo para interesses públicos e sociais contrários aos da empresa demanda ressarcimento à companhia: “Não parece que o governo pretenderia compensar a empresa, o que geraria demandas judiciais de seus acionistas”, disse Putz.
Um dos possíveis efeitos de uma retenção mais prolongada de reajustes é o risco de desabastecimento de combustíveis em algumas regiões. O Brasil importa cerca de 25% do total de óleo diesel vendido no país. O Valor apurou que a importação de derivados, em fevereiro, foi abaixo da média dos últimos 12 meses, o que acenderia alerta para eventual risco de falta pontual de produto.
Apesar das tensões entre Irã e Israel, os preços do petróleo não subiram ontem. Chegaram a recuar em alguns momentos para abaixo de US$ 90. O barril do tipo Brent encerrou o dia cotado a US$ 90,10, queda de 0,38%.
Para Bruno Cordeiro, analista de inteligência de mercado da StoneX, alguns fatores impediram uma extensão mais significativa dos conflitos na região, com reflexos para o mercado de petróleo. Um dos fatores, destacou, seriam as afirmações do Irã de que o ataque com drones e mísseis foi algo “isolado”, como resposta ao bombardeio à embaixada na Síria. Do lado de Israel, o mercado entendeu que uma resposta até pode vir, mas não a curto prazo, sem poder de estender os conflitos.
“A gente vê uma pressão por parte dos Estados Unidos para que não haja um aumento mais significativo das tensões e em meio ao fato de que o Irã é um fornecedor global. Ele se posiciona como terceiro maior produtor global de petróleo”, disse Cordeiro.
“No Brasil, apesar de ser produtor e exportador, os potenciais benefícios de preços altos do petróleo podem ser contrabalançados por desafios internos como inflação, câmbio demasiado valorizado e desestruturação da indústria”, acrescentou Putz, do Ibef-SP. (Colaborou Arthur Cagliari, de São Paulo)

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