Valor Econômico
O trabalho de recuperação de resultados que está em curso na Ipiranga apareceu com mais força nas margens do segundo trimestre e, até o fim do ano, a distribuidora de combustíveis do grupo Ultra deve reduzir ainda mais a diferença de rentabilidade em relação a suas principais concorrentes, Raízen e Vibra (antiga BR Distribuidora).
De abril a junho, a Ipiranga alcançou margem Ebitda ajustado recorrente de R$ 134 por metro cúbico, comparável a R$ 52 um ano antes também em base recorrente, acima do esperado. Condições favoráveis de mercado, as mudanças em curso na empresa e ganhos com estoque explicam esse desempenho.
“O desempenho das margens ficou acima das expectativas e os ganhos de estoque (não quantificados) parecem ter sido um fator positivo no trimestre”, escreveram os analistas Frank McGann e Leonardo Marcondes, do Bank of America (BofA). A margem reportada ficou 15% acima da estimativa do banco.
Em teleconferência para comentar os resultados no intervalo, o presidente do Ultra, Marcos Lutz, disse que os trabalhos na Ipiranga envolvem muitas variáveis, que somadas fazem diferença importante no desempenho operacional da distribuidora.
“Difícil ressaltar um tema. A Ipiranga amadureceu rapidamente em precificação, mas há uma soma de múltiplas atividades que estão em processo”, afirmou.
A ambição, reiterou Lutz, é chegar ao fim do ano com qualidade operacional considerada de alto nível. “O ano de 2022 é o ano em que queremos fazer o ´catchup´ operacional”, disse.
Para o trimestre em curso, a expectativa é de volumes sazonalmente mais fortes na Ipiranga, porém com margens um pouco mais pressionadas do que o visto no primeiro semestre. Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores do grupo, Rodrigo Pizzinatto, em julho, houve perda de estoque por causa da redução da alíquota de ICMS e da redução dos preços da gasolina pela Petrobras.
A distribuidora encerrou o semestre com 7.010 postos em sua rede, com redução líquida de 121 unidades. Embora a depuração de postos seja um esforço constante no setor, o comando da Ipiranga indicou que iria se concentrar na parcela de cerca de 15% da rede de postos que oferece menor contribuição.
De acordo com o presidente da Ipiranga, Leonardo Linden, não há uma relação direta entre volume de vendas e números de postos e, quando se trabalha na melhoria da rede, naturalmente haverá mais volume com menor número de unidades. “De forma geral, estou bastante feliz do ponto de vista dos avanços em ´pricing´ e na rede”, comentou, acrescentando que outros dois pilares do plano de recuperação, logística e suprimento, envolvem mudanças mais demoradas.
Questionado sobre as margens do trimestre, o executivo não revelou quanto há de ganho estrutural ou de estoques. “Ganho e perda de inventário, neste setor, fazem parte. O que a gente quer garantir é que a companhia lide bem com esses eventos.
Estamos trabalhando para ter um negócio cada vez mais estável e que consiga capturar essas oportunidades”, disse.
Conforme Lutz, a Ipiranga tem repassado os custos com créditos de carbono do programa RenovaBio, os CBios, para os preços e o recente adiamento das metas de compra desses créditos trouxe, na prática, liquidez ao mercado. “É um mecanismo inteligente. Vale o Brasil apostar nesse mecanismo, mas ele carece de bastante ajuste”, comentou. “Havia obrigação de compradores e não obrigação de vendedores, então o preço subiu demais. Com essa decisão, os preços já caíram”.