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Valor Econômico
Pioneira na tecnologia no país, montadora se prepara para começar a nacionalizar baterias

De agora em diante, todos os carros produzidos pela Toyota no Brasil terão uma versão híbrida. O aumento de oferta de modelos eletrificados permitirá elevar o índice de nacionalização das baterias. Segundo Evandro Maggio, presidente da Toyota no país, a nacionalização começará com a montagem das baterias com componentes importados.
Parece pouco. Mas representa um passo importante que a Toyota dá no país como parte do plano de investimentos de R$ 11 bilhões, até 2030. Segundo Maggio, o ciclo será dividido em duas partes. A primeira, de R$ 5 bilhões, será direcionada ao lançamento de dois novos carros e à construção da segunda fábrica da montadora em Sorocaba (SP).
Quando os dois modelos estiverem no mercado e a nova fábrica pronta, será iniciada a segunda etapa dos investimentos, dos R$ 6 bilhões restantes, para desenvolver novas plataformas de veículos.
Até lá, estará encerrado o processo de fechamento da fábrica em Indaiatuba (SP), bem como a transferência de toda a operação e dos empregados que aceitarem a mudança para a fábrica de Sorocaba, que fica a 50 quilômetros de Indaiatuba. A empresa ainda não definiu, diz Maggio, o que fará com a fábrica, a despeito de notícias de que marcas chinesas estariam interessadas na unidade.
Segundo Maggio, o programa federal Mover, aprovado pelo Senado ontem, foi um dos estímulos para o investimento. “O programa substitui a tributação dos veículos com base em cilindrada pelo critério de eficiência energética”, diz, referindo-se à nova regra, que estabelece variação de incentivos fiscais conforme o nível de emissões do veículo.

A Toyota pretende manter a estratégia que a diferencia no país desde 2019. A marca foi pioneira no desenvolvimento e produção de híbridos movidos a etanol. A Toyota não quer perder espaço agora, quando as concorrentes anunciam planos de produzir o mesmo tipo de veículo.
O híbrido flex começa a se tornar uma especialidade brasileira. Aproveita a tecnologia híbrida (veículos que têm um motor elétrico e outro a combustão) para agregar as vantagens de descarbonização proporcionadas pelo etanol.
O primeiro novo modelo será lançado em 2025 – um compacto, com preços abaixo dos híbridos que a marca vende no país (Corolla sedã e Corolla Cross). Segundo Maggio, 40% das vendas dos dois modelos são de versões híbridas. “Produzir aqui tem a ver, cada vez mais, com a tecnologia híbrida.”
O executivo mantém segredo em relação ao segundo modelo a ser lançado e os que virão na sequência, quando a nova fábrica estiver pronta. “Vamos criar linhas integradas”, diz. “E a escala nos permitirá começar a nacionalizar as baterias”, completa.
Segundo o executivo, a unidade de Sorocaba, inaugurada em 2012, já começou as obras de terraplenagem para receber a segunda construção, que será, como diz, “espelhada” na já existente.
A montadora também busca manter o posto de maior exportadora de veículos do país, título que durante muito tempo pertenceu à Volkswagen. Total de 40% da produção é enviado a outros países, a maioria na América Latina.
No mercado brasileiro, a Toyota ocupou o quarto lugar nas vendas de carros e comerciais leves no acumulado até maio, com participação de 8,5%, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave).
Maggio é presidente da Toyota do Brasil desde março, quando a empresa anunciou o novo investimento. Ele é o primeiro brasileiro a assumir o cargo desde que a montadora construiu sua primeira fábrica no país, há 66 anos, em São Bernardo do Campo (SP), também fechada recentemente.
Não é só isso que o diferencia entre os executivos do setor, que costumam ingressar na indústria automobilística depois de passar por cursos de engenharia, administração ou finanças.
Depois de concluir a faculdade de Letras, em 1988, ele foi trabalhar na Scania como tradutor. Mas seu conhecimento extrapolava o de idiomas. O pai tinha uma oficina mecânica em São Bernardo e, por isso, ele conhecia bem os veículos. Ao traduzir manuais para oficinas, que vinham da Suécia em inglês, começou a notar falhas técnicas. De tanto recorrer aos engenheiros para desvendar as inconsistências, ele foi convidado a se juntar à equipe técnica.
Para aprender mais, decidiu cursar tecnologia da produção. À medida que as funções mudaram adicionou outro curso universitário: finanças e controladoria. Da Scania, foi para a Iveco e em 2005 começou na Toyota.
Passou por áreas como planejamento de produção, recursos humanos, pesquisa, vendas e, por fim, diretor de compras, cargo que acumula com a presidência. Em 2018, foi para o Japão, onde trabalhou, durante um ano, na divisão da Lexus, marca de luxo da Toyota.
Com jeito humilde, Maggio atribui a recente promoção à nova fase do grupo japonês, “que passou a valorizar e estimular a liderança de profissionais da região”.
Durante encontro com um grupo de jornalistas, Maggio foi questionado sobre o recente escândalo envolvendo Toyota e outras montadoras japonesas, que admitiram a falsificação de dados de testes ou testes inadequados, inclusive de colisão. O assunto ainda está em debate.
Maggio disse que nenhum dos testes envolveu veículos produzidos no Brasil e lembrou que em entrevista recente, o presidente global da Toyota, Akio Toyoda, pediu desculpas. “Esta má conduta abala os alicerces do sistema de certificação; por isso é algo que devemos abster-nos de fazer como fabricantes de automóveis”, disse Toyoda. Em comunicado, a empresa, maior fabricante automóveis do Japão, disse ter usado “métodos que diferem dos padrões governamentais”.

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