‘Tem de olhar a transição energética com equilíbrio’

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O Estado de S.Paulo
Okuwaitiano Haitham Al Ghais é o primeiro secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a visitar o Brasil. Ele esteve esta semana no País a convite do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros. Em entrevista ao Estadão, Al Ghais diz não ver problemas no fornecimento de petróleo depois do início de nova guerra no Oriente Médio, rechaça a pecha de cartel dada à Opep e afirma que, a despeito da busca por alternativas energéticas, o mundo vai continuar precisando de petróleo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
A Opep promoveu um corte de oferta em outubro de 2022 e outro depois, em abril, que foi estendido até 2024. A situação do Oriente
Médio pode encerrar esses cortes antes desse prazo? Há problema no fornecimento de petróleo até agora? Essa é a pergunta. Não vemos problemas até agora. Vemos, ao contrário, desafios econômicos. Por exemplo, a volta da economia chinesa não foi tão rápida como todos esperavam. E há outros desafios, como inflação na Europa e nos Estados Unidos. Por isso, esses cortes foram feitos. Foram cortes preventivos e proativos, para estabilizar o mercado.
Qual é a estratégia da Opep para dar segurança ao mercado de petróleo ante a guerra Israel versus Hamas?
Nosso papel é sempre manter capacidade adicional para estabilizar o mercado, para ver se tem demanda, problemas, crises. Esperamos que a situação se acalme, porque ninguém ganha nessas situações. Mas os fundamentos do mercado, de demanda e oferta ainda estão equilibrados. Não é preciso fazer nada por enquanto.
Qual volume adicional a Opep teria para colocar no mercado?
Não divulgamos esse número. Cada país tem a sua própria capacidade extra. Mas agora o que sabemos é que o mercado tem bastante fornecimento para fazer frente à atual demanda.
O Brasil já foi sondado para entrar na Opep no passado. O sr. esteve com o presidente Lula. Qual foi o objetivo da visita?
Foram conversas muito boas com o presidente Lula, com o vice-presidente (Geraldo Alckmin) e ministros. Todos reconhecem o valor e a importância da Opep e o que ela faz pela economia mundial, para estabilizar o mercado de petróleo. Não tem nada de concreto, mas vamos continuar em diálogo com o Brasil.
O Brasil já exporta 45% do que produz, e esse porcentual pode superar 60% nos próximos anos. A Opep quer ter um país como esse?
Nossa porta está aberta para todo mundo, inclusive para o Brasil. Temos uma política de portas abertas. O Brasil é um grande país produtor e exportador de petróleo. Mas entrar na Opep ou não é uma questão para o governo brasileiro decidir.
Analistas dizem que a Opep trabalha para manter um preço de barril razoável para seus membros…
É bom deixar claro que a Opep não tem objetivo de preço. Nenhum dos nossos países-membros tem um número, um preço. Não sei de onde vêm esses números. O preço do petróleo é feito no mercado. Infelizmente, essa é a imagem que muita gente tem da Opep.
Sim, muitas vezes são acusados de cartel. Como mudar isso?
Somos uma organização intergovernamental de 13 países soberanos membros da ONU. Nossa organização é registrada na ONU desde 1961. Essa definição de cartel não se aplica à
Opep. É uma imagem que foi criada muitos anos atrás, e essa palavra continua sendo usada na imprensa internacional, quando o que fazemos é defender a segurança da energia global. Hoje, o petróleo responde por 30% da matriz energética mundial. É importante que tenhamos capacidade adicional e façamos investimentos, porque a demanda por petróleo vai continuar a subir e chegar à média de 116 milhões de barris por dia até 2045, como mostra nosso relatório anual.
Petroleiras do mundo inteiro anunciaram movimentos de transição energética e recuaram na sua intensidade. Como vê isso? Há transição energética nos países da Opep?
Especialmente na União Europeia, muitos países que tinham metas de transição para 2030 as postergaram para 2035. E alguns países já disseram que nem as metas para 2045 serão possíveis. Isso porque todo mundo tem de olhar essa transição energética com equilíbrio. Nós, na Opep, sempre dizemos que uma única forma de energia não vai sustentar o desenvolvimento econômico. O mundo vai precisar de 23% a mais de energia daqui até 2045. De todas as formas de energia, não renováveis, não só petróleo, não só gás. Porque a população mundial vai crescer. Agora, somos 8 bilhões de pessoas no mundo e devemos chegar a 9,5 bilhões em 2045. A economia mundial vai dobrar de tamanho daqui até 2045. Daqui até 2030, 500 milhões de habitantes no mundo vão se mudar de áreas rurais para a cidade. São quase 50 cidades do Rio de Janeiro novas no mundo.
Sobre transição, como a Opep avalia a corrida pela energia renovável?
Quando a Agência Internacional de Energia traça cenários, às vezes passa a mensagem de que o mundo vai parar de investir em óleo e gás. Isso é muito perigoso, porque, se o mundo não tiver bastante investimento, vai ter problema com o fornecimento no futuro, enquanto a demanda vai continuar subindo. A Opep sempre diz que essas mensagens são muito perigosas e que temos de continuar a investir. Nosso relatório diz que, até o ano 2045, a indústria de petróleo vai precisar de US$ 14 trilhões, então, são US$ 610 bilhões por ano em produção, refino, petroquímica, logística, tudo.

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