Fonte: Valor Econômico
A empresa suíça Glencore está negociando a aquisição da Alesat, distribuidora de combustíveis dona da rede de postos Ale, segundo duas fontes. A companhia era uma das principais estrangeiras interessadas, competindo com a holandesa Vitol e a francesa Total. A dianteira, até dois meses atrás, era da holandesa Vitol. Mas não houve acordo sobre preço e a empresa não chegou a fechar exclusividade.
Quando a Glencore chegou à mesa de negociações, o nome causou estranheza aos envolvidos. A Glencore é uma grande trading de commodities, com destaque para petróleo, e uma referência no setor de mineração. Mas o mercado de distribuição e varejo também começou a entrar no radar da companhia no ano passado.
A companhia suíça fez uma joint-venture no México com Corporacion G500, uma associação de donos de postos e serviços. A rede tem o nome de G500 e fornecerá combustível, marca e serviços de varejo, com objetivo de ser líder em distribuição e comercialização de combustíveis no México. A multinacional suíça também negocia a compra de ativos da Chevron na África do Sul e Botsuana que, além de uma refinaria na Cidade do Cabo, inclui uma rede de 800 postos de combustível nos dois países.
Segundo uma fonte, a Alesat tem dito internamente e à sua rede de relacionamentos que está focada em seus planos de expansão neste momento. No entanto, o processo de venda segue correndo e é coordenado pelo Banco Safra.
Essa é uma nova rodada de negociação da Alesat, que tinha sido vendida em junho de 2016 para o grupo Ultra, dono da rede Ipiranga. A operação, no entanto, foi vetada pelo Conselho Administrativo de Defesa da Econômica (Cade) em agosto de 2017, em uma decisão interpretada como também restritiva às outras grandes do setor - BR Distribuidora e Raízen.
Na época, a Alesat foi avaliada em R$ 2,17 bilhões. Executivos próximos à operação afirmaram que seria difícil a Alesat conseguir o mesmo preço em novas negociações. De fato, os interessados têm oferecido preços cerca de R$ 400 milhões menor, disse uma fonte.
"Como acontece em toda negociação à espera do Cade, a rede ficou parada no tempo por um ano, o que acaba afetando seu desempenho. Além disso, o veto deixou claro que as opções de compradores são restritas", afirma um executivo com conhecimento do assunto.
Segundo relatório da Agência Nacional de Petróleo (ANP) sobre abastecimento, em 2016 a participação de mercado da Alesat na distribuição de gasolina automotiva era de 5%, em óleo diesel, de 3,1% e em etanol, de 2,69%. Em 2017, essas participações caíram para 4,33%, 2,76% e 2,06%, respectivamente, conforme o boletim da ANP. A participação de mercado no total de postos revendedores de combustíveis também caiu, de 2,8% em 2016 para 2,5% em 2017.
De um ano para o outro, o faturamento da companhia caiu 4,2%, para R$ 11,2 bilhões.
A Alesat tem 2000 postos de combustíveis próprios, da marca Ale, espalhados por 22 Estados. Além de sua rede, abastece postos bandeira branca e clientes diretos como fazendas, transportadoras e locadoras de veículos.
Em entrevista ao Valor em agosto de 2017, o presidente e acionista da Alesat, Marcelo Alecrim, disse, logo depois da negativa do Cade ao negócio com a Ipiranga, que a intenção naquele momento era investir para crescer. "Trabalhar para crescer até mesmo visando lá na frente um IPO ou coisa assim", afirmou.
Alecrim é dono de 32% da companhia; o fundo de investimentos americano Darby tem 18%; e o grupo Asamar, de Minas Gerais, 50%.
Conforme o Valor apurou, a Vitol pode até voltar às conversas se as demais interessadas recuarem e se os sócios da Alesat aceitarem rever preço. Vitol e Glencore esbarraram também em uma outra disputa envolvendo vendedores brasileiros. Ambas estão entre as interessadas na aquisição da Petrobras Oil & Gas, negócio de exploração de petróleo e gás na África que pertence à Petrobras, ao BTG Pactual e à gestora Helios Investment Partner.
Procurada, a Glencore diz que "não comenta rumores ou especulações de mercado". A Alesat não comentou. (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)